O director e fundador do Observatório Sírio dos Di- reitos Humanos (OSDH), Fadel Abdul Ghany, lamen- tou este domingo à agência Lusa que os relatos con- firmados de pelo menos 40 casos de uso de armas químicas na guerra na Síria estejam ainda por punir
Numa entrevista à Lusa, em Lisboa, Fadel Abdul Ghany destacou o recente relatório feito por investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla inglesa), que deram conta de ter encontrado “vestígios suficientes” de que a Força Aérea da Síria usou gás cloro contra a cidade de Duma, em Abril de 2018, matando 43 pessoas, constituindo esse apenas um dos 40 casos conhecidos do OSDH.
A OPCW, por seu lado, prosseguiu, criou a Identification and Investigation Team (IIT), que também fez três relatórios em que acusa também o regime sírio de vários ataques com armas químicas, incluindo o de Duma.
No relatório do OPCW, divulgado a 27 de Janeiro passado, os investigadores deixaram claro que o regime do Presidente sírio, Bashar alAssad, lançou dois bidões com gás cloro contra a cidade.
Os especialistas internacionais acreditam que ainda “falta muito” para responsabilizar judicialmente o regime sírio, lembrando que este é um aliado de longa data da Rússia e que Moscovo bloqueou todos os esforços do Conselho de Segurança da ONU para criar um Tribunal Especial para a Investigação de Crimes na Síria.
O OPCW já tinha sinalizado no passado a responsabilidade do regime sírio em três ataques com substâncias químicas em Latamneh, em Março de 2017, e um outro em Saraqeb em Fevereiro de 2018.
A Síria viu, por isso, suspensos os direitos de voto no quadro do OPCW em 2021, como punição pela utilização repetida de gás tóxico, na primeira sanção deste tipo imposta a um Estado membro do organismo internacional.
Os investigadores que elaboraram o último relatório entrevistaram dezenas de testemunhas e analisaram o sangue e a urina dos sobreviventes, assim como amostras do solo e de materiais de construção da zona de impacto.
Duma foi o último objectivo das forças governamentais durante a campanha de reconquista dos subúrbios de Damasco, ocupados pelos oposicionistas e grupos extremistas islâmicos durante sete anos e que acabou por ser reconquistada após o ataque com gás cloro.
Numa tentativa de assegurar a responsabilização por crimes na Síria, as Nações Unidas estabeleceram o “Mecanismo Internacional, Imparcial e Independente”, mandatado para preservar e analisar as provas de crimes e preparar processos para julgamentos em “tribunais nacionais, regionais ou internacionais que tenham ou possam no futuro ter jurisdição sobre estes crimes, de acordo com o direito internacional”.
O conflito que começou na Síria há mais de uma década matou centenas de milhares de pessoas e provocou uma vaga de deslocados internos e refugiados no país, que antes da guerra, contava com 23 milhões de habitantes.