No meio de uma fileira de cabanas azuis, na última fronteira da Guerra Fria, entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, soldados de ambos os lados encaram-se.
Panmunjom, a cidade da Zona Desmilitarizada (DMZ), onde os representantes dos dois países vizinhos negociaram esta Terça-feira (9), é o tradicional ponto de contacto da sua fronteira comum, mas também a materialização dos efeitos duradouros da Guerra da Coreia (1950-1953).
Milhões de coreanos morreram nesse conflito, que terminou com um armistício assinado em Panmunjom, mas não com um tratado de paz. Desta forma, as duas Coreias ainda estão tecnicamente em guerra. Contrariamente ao que o nome sugere, a DMZ é uma das fronteiras mais militarizadas do mundo, cheia de torres de controlo e plantada de minas terrestres.
Panmunjom é o único lugar na DMZ, onde ambos os lados se vigiam. Nesse ponto, a fronteira é materializada apenas por uma demarcação de cimento. E houve inúmeros incidentes dramáticos. Em Novembro, um soldado norte-coreano correu para o Sul em plena chuva de balas dos seus camaradas, numa deserção tão espectacular quanto insólita. No entanto, esta não foi a primeira vez que um incidente deste tipo ocorreu em Panmunjom.
A mais impressionante foi em 1984, quando um estudante russo proveniente de Moscovo atravessou a fronteira, causando um tiroteio que durou 30 minutos e causou quatro mortos.
E ele saiu ileso. Em 1967, outro tiroteio ocorreu quando um veterano jornalista da agência oficial norte- coreana KCNA desertou ao cobrir as negociações militares. “Um clichê” Em 1976, soldados da Coreia do Norte mataram à machadada dois soldados americanos que podavam uma árvore próxima, facto que levou ao temor de uma generalização do conflito.
Os presidentes americanos que visitam a Coreia do Sul vão frequentemente à DMZ, num gesto simbólico do compromisso de Washington com a defesa de Seul. O mau tempo levou Donald Trump a desistir de uma visita surpresa à DMZ, enquanto a Casa Branca descrevia essa viagem como um “clichê”.
O líder norte-coreano, Kim Jong-Un, fez uma rara visita a Panmunjom em 2012, e a imprensa estatal publicou fotos nas quais foi visto de frente para Sul com binóculos num momento de crescente tensão. Ao longo dos últimos anos, Panmunjom tornou-se uma grande atracção turística para os estrangeiros que viajam à Coreia do Sul. Antes de começar a tirar fotos ao lugar, os visitantes são convidados a não fazer nada que possa incomodar os soldados da Coreia do Norte.
“É muito triste ver um país tão dividido”, disse Julia Ahn, uma estudante de 24 anos de Nova York. “É uma informação interessante, mas difícil de digerir”.
As conversações nesta Terçafeira, as primeiras desde Dezembro de 2015, são realizadas na Casa da Paz, no lado Sul da “zona neutra”. O Norte também dispõe de um local para sediar negociações, Tongilgak.
O Norte e o Sul estão tão divididos que os cidadãos comuns não têm conexões telefónicas directas entre si. No entanto, os dois edifícios estão ligados a Seul e a Pyongyang para que as negociações sejam controladas de perto pelas duas capitais.