Pelo menos três mil das 45 mil bombas israelitas lançadas sobre a Faixa de Gaza entre 7 de Outubro e meados de Janeiro não explodiram, alertou ontem um responsável da organização Handicap International (HI), especializada na luta contra as minas antipessoais
“Destas 45.000 bombas, três mil não explodiram, e são estas bombas que vão causar um perigo suplementar, nomeadamente para os civis, quando a ajuda humanitária tiver de ser enviada”, afirmou Jean-Pierre Delomier em declarações à Radio France Internationale (RFI).
Os números são uma estimativa da Área de Responsabilidade de Acção contra as minas antipessoais – um grupo de trabalho constituído por organizações não-governamentais (ONG) ativas na região, incluindo a Handicap International para o período entre 7 de Outubro e meados de Janeiro, quando os bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza prosseguiam (situação que se mantém inalterada até à data).
Delomier, director-adjunto de operações internacionais da Handicap International, passou vários dias em Rafah, no sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira egípcia, onde cerca de 1,5 milhões de palestinianos, a maioria dos quais deslocados, encontraram refúgio.
O responsável da Handicap International defendeu que só um cessar-fogo pode dar mais espaço de manobra à organização, para que esta possa “sem dúvida lançar actividades de remoção de minas e de resíduos de guerra explosivos”.
Hoje, o Conselho de Segurança da ONU vai novamente tentar aprovar um texto de resolução a exigir um “cessar-fogo imediato” em Gaza, um apelo que foi bloqueado várias vezes pelos Estados Unidos, que, no entanto, deram recentemente sinais de mudança em relação ao seu aliado israelita.
A 07 de Outubro de 2023, comandos do Hamas infiltraram-se a partir da Faixa de Gaza e levaram a cabo um ataque sem precedentes no Sul de Israel, matando pelo menos 1.160 pessoas, sobretudo civis, segundo uma contagem da agência francesa AFP baseada em dados oficiais israelitas.
No mesmo dia, o grupo islamita palestiniano fez mais de duas centenas de reféns. Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já provocou mais de 32 mil mortos, de acordo com o Hamas, que controla o território desde 2007.
No início deste mês, a Handicap International enviou dois peritos durante 15 dias para começarem a preparar uma avaliação das necessidades de desminagem na Faixa de Gaza.
Além do acesso à população civil, a avaliação da desminagem deveria também “permitir a intervenção de outros atores humanitários nas zonas do norte (…) que estão actualmente isoladas da ajuda humanitária e do apoio de trabalhadores humanitários”, concluiu Delomier.