Responsáveis franceses concederam asilo a suspeitos genocidas rwandeses e opuseram-se às tentativas de os fazer julgar em diversas zonas durante os 23 anos que seguiram o genocídio neste país, indica um relatório pedido pelo Governo rwandês.
Este relatório, publicado por um gabinete de advogados norte-americanos, Cunningham Levy Muse LP, concentrou- se no papel e no reconhecimento por responsáveis franceses do genocídio de 1994.
Responsáveis franceses facilitaram a circulação de armas no Rwanda durante a preparação do genocídio, mesmo cientes de ataques violentos contra a minoria tutsi (principais vítimas destes massacres) no país, lê-se na nota intitulada “Muse Report” (Relatório sonhador) De acordo com comunicações privadas entre responsáveis franceses referenciadas no documento, a “Operação Turquesa”, que estava em curso no Rwanda naltura, tinha como objectivo uma missão humanitária.
Porém, com base só em informações disponíveis em arquivos públicos, esta “Operação Turquesa” tinha, na realidade, um objectivo militar de apoiar o então Governo responsável pelo genocídio e evitar a sua destituição pelo então movimento rebelde da Frente Patriótica Rwandesa (FPR) que porá finalmente termo às mesmas atrocidades em Julho de 1994.
As autoridades francesas recusaram- se a desclassificar e publicar documentos essenciais susceptíveis de permitir compreender totalmente a actividade das autoridades francesas na época do genocídio para que o público conhecesse a verdade. “A clareza histórica é crucial e diz respeito a todos nós.
O Muse Report faz um resumo contundente do comportamento dos responsáveis franceses no Rwanda nos anos 1990 e aprovamos as recomendações deste relatório”, declarou a ministra rwandesa dos Negócios Estrangeiros, Louise Mushikiwabo, quando comentava o documento. Informou que as autoridades rwandesas já transmitiram o Relatório ao Governo francês que deve fazer face às suas responsabilidades.
“É igualmente uma oportunidade para as autoridades francesas colaborarem mais com o Rwanda na busca da verdade, da justiça e da responsabilidade relativamente ao genocídio contra os tutsi” , disse a chefe da diplomacia rwandesa. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 800 mil rwandeses, maioritariamente tutsi, pereceram neste genocídio de 100 dias, decorrido de Abril a Julho de 1994.