A organização Médicos do Mundo alertou ontem sobre a falta de acessos aos cuidados de saúde que afecta gravemente a população palestiniana na Cisjordânia, particularmente na aldeia de Al Walaja, habitada por três mil pessoas. “Asituação em Al Walaja é muito preocupante.
Esta aldeia só tem uma clínica – sem serviço de urgência – e está cercada por muros, por dois colonatos (Gilo e Har Gilo) e pelos militares israelitas. Mas este é apenas um exemplo, porque em toda a Cisjordânia a situação é dramática.
O acesso aos cuidados de saúde agravou-se desde outubro de 2023”, disse o médico Osama Abu Mohimeed, do Ministério da Saúde Palestiniano. Osama Abu Mohimeed trabalha na única clínica de Al Wajala e falava numa conferência dos Médicos do Mundos (MdM), que se realizou ontem através de meios remotos.
“Há outras áreas perto de Belém (Cisjordânia) onde os acessos à saúde estão a agravar-se assim como nos campos utilizados pelos beduínos onde as equipas móveis de saúde já não se podem deslocar devido a restrições impostas pelos militares e colonos israelitas”, disse Osama Abu Mohimeed.
“Há mulheres (das comunidades beduínas) que deram à luz nas tendas e até hoje ainda não registaram os filhos porque não é possível circular. Há três dias, um homem disse-me que o pai morreu no dia 10 Outubro do ano passado e que ainda não conseguiu comunicar oficialmente o óbito nos serviços centrais em Belém porque lhe foi impossível circular”, relatou o médico.
No dia 07 de Outubro do ano passado, efectivos do Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza, atacaram território israelita provocando a campanha militar de Israel contra o enclave sendo que várias medidas restritivas também foram impostas na Cisjordânia ocupada.
“As restrições de acesso ao direito à saúde por causa das medidas discriminatórias do regime israelita (…) existem em muitas áreas da Cisjordânia e se antes do 07 de Outubro (2023) se verificavam situações difíceis em pontos mais afastados, actualmente o acesso à saúde está a afectar populações que vivem muito perto das cidades”, disse a coordenadora da organização não-governamental na Palestina, Cécile Marquerie.
De acordo com os MdM, a localização de serviços de saúde essenciais e especializados há muito que é impedida pelas autoridades israelitas em Al Walaja uma vez que a única clínica da aldeia – a oeste de Jerusalém Oriental e a sete quilómetros de Belém – só presta cuidados de saúde primários, não tem laboratório nem está equipada para urgências.
Em concreto a aldeia está cercada pelo muro construído por Israel no início dos anos 2000 e viu aumentar, desde Outubro do ano passado, o “sistemático encerramento militar israelita imposto à única estrada de acesso ao mundo exterior”.
Em consequência, os habitantes palestinianos têm de atravessar uma barreira militar israelita para aceder a cuidados de saúde em Belém, numa viagem de sete quilómetros que pode tardar três horas de automóvel devido aos bloqueios das forças israelitas.
Por outro lado, a construção do segundo piso da única clínica de Al Walaja foi proibida pelas autoridades israelitas prejudicando directamente o armazenamento de medicamentos e material médico.
“Os materiais de construção continuam no local mas não há autorização para proceder à obra sendo que a população palestiniana da aldeia enfrenta ao mesmo tempo ordens iminentes de demolição de casas de habitação”, acrescentou Cécile Marquerie.
O médico Osama Abu Mohimeed diz que a população de Al Walaja “relata situações dramáticas” como o caso de uma mulher grávida que por causa das proibições à circulação foi obrigada a deslocar-se sem acompanhante para Belém onde permaneceu duas semanas “para ficar perto do hospital onde deu à luz”.
“Por outro lado, muitas pessoas da aldeia com problemas psiquiátricos ficaram sem medicamentos e tiveram de retomar os tratamentos fora da aldeia. Nestes casos, a interrupção dos fármacos pode ser muito grave”, frisou Osama Abu Mohimeed referindo-se à aldeia de Al Walaja.
Os Médicos do Mundo indicaram ainda graves deficiências na distribuição de água potável, falhas no sistema de educação provocadas pelas medidas israelitas além dos ataques dos colonos na Cisjordânia que são “armados por Israel”.