O Mali conhece a mais elevada taxa de violações dos direitos humanos na África Ocidental, revelou recentemente em Bamako o Escritório da Amnistia Internacional na África Ocidental e Central.
O anúncio foi feito pelo director regional deste escritório em Dakar, Alioune Tine, quando apresentava um relatório sobre os direitos humanos em Bamako. Tine considera que a escolha da capital maliana para apresentar este documento deve-se ao facto de o Mali se ter tornado no epicentro de uma crise que se espalhou para outros países da região. Acrescentou que há mais violações dos direitos humanos no Mali do que nos outros países da sub-região e que estes atropelos foram cometidos principalmente no Norte e Centro do país por grupos terroristas e forças de defesa e de segurança.
Em Bamako, prosseguiu, também houve abusos dos direitos humanos, incluindo tentativas de restrição de liberdade de expressão contra jornalistas e activistas. De acordo com a directora executiva da AI-Mali, Ramata Guissé, que também se pronunciou sobre esta matéria, o ano de 2017 foi marcado por actos de violência, como o ataque contra o hotel Kangaba, perto de Bamako, onde expatriados e nacionais foram mortos por jihadistas (islamitas).
Durante o mesmo ano, aconteceram ataques contra as forças estrangeiras, entre as quais as francesas de Barkhane, que acabaram de perder dois soldados em Menaka (norte) e a elementos da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA), que perdeu 30 homens. Estes actos hediondos são da autoria de terroristas que espalham o medo no Norte e Centro do Mali, desde a crise que eclodiu neste país em 2012.Revelou que os civis foram objectos de numerosos ataques por parte de grupos armados que imperam no centro do Mali, nomeadamente nas regiões de Segou e Mopti. Lembrou que 12 mulheres foram açoitadas na região de Mopti pelo facto de não usarem véu.
Numerosos civis foram vítimas dos mesmos actos na mesma área, no quadro da luta anti-terrorista levada pelas forças de defesa e segurança do Mali. Falando da liberdade de expressão, Ramata Guissé mencionou atentados “graves” cometidos em 2017 no Mali, nomeadamente a detenção do colunista Ras Bath por ter criticado o Exército maliano durante um dos seus programas radiofónicos, a tentativa de assassinato de um jornalista identificado como Madou Ka, durante manifestações de protestos contra um projecto de revisão constitucional. De acordo com o relatório da AI, 150 mil crianças foram privadas de escola e mais de 500 escolas foram fechadas no centro do país, na sequência da insegurança que privou esses meninos dos seus direitos à educação.