Acordo cedo, como qualquer angolano que enfrenta a cidade, o trânsito e, por vezes, até as suas próprias forças. Aqui, a logística começa no coração, na paciência e, acima de tudo, na criatividade.
Porque, em Angola, em 2024, ser gestor de logística é ser malabarista, contorcionista e, claro, visionário. Imagine um camião a sair de Luanda rumo ao interior.
O motorista, o Pedro, sabe que a estrada pode ser traiçoeira: ora um buraco, ora a lama que, após as chuvas, mais parece um convite para um passeio de barco. Contudo, ele parte com a mesma coragem que vemos nos zungueiros e vendedores ambulantes, os verdadeiros especialistas em logística invisível do nosso país. O Pedro carrega no seu camião uma variedade de produtos, desde bens alimentares a materiais de construção.
No percurso, precisa de parar em vários pontos de controlo — alguns oficiais, outros nem tanto — e negociar, com a habilidade de um comerciante de rua, para garantir que a mercadoria chegue ao destino.
Isso, claro, se não houver uma peça que se solta, uma roda que se perde ou combustível que, de repente, desaparece. Nas grandes cidades, os armazéns fervilham. Em 2024, as tecnologias já começaram a infiltrar-se em algumas operações, mas ainda há muita gestão no papel, no grito e no improviso. Um “leva lá” aqui, um “vem buscar” ali.
A globalização trouxe promessas, mas a logística em Angola é um jogo de estratégia, onde o tabuleiro está sempre a mudar. Um contentor que demora semanas a ser libertado no porto, uma mercadoria que é desviada ou perdida, um atraso que custa o dobro em taxas inesperadas.
Contudo, no meio desta desordem organizada, surgem histórias de resiliência. Como a da Ana, uma jovem empreendedora que, farta das dificuldades de importação, decidiu criar uma rede de distribuição local, unindo pequenos produtores de áreas rurais a mercados urbanos.
Não tem um MBA em logística, só os atalhos que evitam as áreas mais problemáticas e, acima de tudo, valoriza cada fornecedor como parte de uma corrente que só funciona se todos puxarem para o mesmo lado.
Aos poucos, o país moderniza os seus processos, com novas plataformas digitais que prometem transparência, eficiência e menos intermediários. Mas a verdade é que o angolano já se adaptou a uma logística de resistência, onde o improviso é rei e a resiliência, a sua rainha.
Entretanto, o Pedro segue viagem, desviando dos obstáculos com a experiência de quem já percorreu essa rota inúmeras vezes. Quando chega ao destino, há um sorriso no rosto de quem aguardava a mercadoria.
E, por mais que as dificuldades se multipliquem, há sempre uma forma de fazer acontecer. Porque aqui, em Angola, a logística não é apenas um sector – é um acto de sobrevivência e de esperança, todos os dias.
Por: RIBAPTISTA*