O vice-presidente do Partido Nacionalista de Taiwan, afecto a Pequim, iniciou ontem uma visita à China, onde vai reunir com funcionários do governo chinês e empresários locais, atraindo críticas do governo da ilha autónoma.
A viagem de nove dias de Andrew Hsia ocorre numa altura em que a China renova os ataques ao Partido Democrático Progressista (DPP), pró-independência, pela sua recusa em reconhecer Taiwan como território chinês.
A porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês, Zhu Fenglian, acusou o DPP de agir “por interesse político egoísta” ao procurar obter a independência formal da ilha com apoio estrangeiro.
A relação entre China e Taiwan deteriorou-se, após uma série de visitas de políticos estrangeiros à ilha, incluindo a ex-presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.
A China tem ameaçado, repetidamente, retaliar contra países que procuram ter laços mais próximos com Taiwan, mas as suas tentativas de intimidação desencadearam uma reacção em países europeus, no Japão e nos Estados Unidos, que aumentaram a frequência dos contactos oficiais com Taipé.
A China tem enviado navios de guerra, bombardeiros, aviões de combate e aviões de apoio para o espaço aéreo perto de Taiwan quase diariamente, na esperança de esgotar os limitados recursos de defesa da ilha e reduzir o apoio à líder pró – independência do território, Tsai Ing-wen.
Zhu lembrou que o contacto entre Taipé e entidades estrangeiras “prejudica os interesses e o bem-estar dos compatriotas de Taiwan, põe em risco a sua segurança e, gradualmente, levam Taiwan a um estágio perigoso”, referindo-se à ameaça da China de usar a força para recuperar o que considera ser território chinês.
Os dois lados estão divididos desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota frente aos comunistas. Apesar dos fortes laços económicos, a China cortou todo o contacto com o governo de Taiwan desde que Tsai Ing-wen assumiu o cargo, em 2016, devido à sua recusa em reconhecer a noção de “Uma só China”, incorporada num acordo anterior, mediado entre o Partido Nacionalista e os comunistas do continente.
O acordo é conhecido como “Consenso de 92”.
Zhu disse que a China deu as boas-vindas à visita de Hsia e afirmou que Pequim está “disposta a fortalecer os intercâmbios com os nacionalistas, consolidar e aumentar a confiança mútua e aprofundar os intercâmbios e a cooperação em vários campos, sobre a base política comum de adesão ao Consenso de 92 e oposição à independência de Taiwan”.
A grande maioria dos 23 milhões de habitantes de Taiwan apoia o status quo da independência de facto e Tsai diz que não há necessidade de fazer uma declaração formal de independência, que provavelmente desencadearia uma resposta militar por parte da China. Hsia planeia visitar várias cidades chinesas e reunir com o chefe do Gabinete para os Assuntos de Taiwan, Song Tao, de acordo com o Partido Nacionalista.
As reuniões com a comunidade empresarial vão concentrar-se no restabelecimento das ligações aéreas e marítimas entre os dois lados do Estreito de Taiwan, que foram parcialmente suspensas no início da pandemia da Covid-19.
O DPP criticou a viagem, dizendo na Segunda-feira que levaria a “especulação desnecessária” a nível internacional, informou a Agência Central de Notícias (CNA) de Taiwan.
Hsia não deve sacrificar os interesses de Taiwan enquanto “corre para demonstrar lealdade à China”, acusou o DPP.