Israel vai defender-sedas acusações de genocídio apresentadas pela África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, indicou na Terça-feira um responsável governamental israelita
Eylon Levy, membro do gabinete do primeiroministro israelita, Benjamin Netanyahu, acusou Terça-feira a África do Sul de “dar cobertura política e jurídica” ao ataque de 7 de Outubro do movimento islamita palestiniano Hamas a território israelita, que desencadeou a guerra de Israel contra o grupo, desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel.
“O Estado de Israel comparecerá perante o Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, para desmentir o absurdo libelo de sangue da África do Sul”, afirmou Levy.
A África do Sul apresentou o caso na Sexta-feira, 29 de Dezembro, à mais alta instância judicial da ONU, acusando Israel de genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza e pedindo ao tribunal que ordene a Israel que ponha termo aos seus ataques.
Israel costuma considerar os processos judiciais internacionais contra si injustos e tendenciosos e raramente coopera, mas a actual resposta israelita indica que o Governo está a levar o caso a sério.
A 7 de Outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.139 mortos, na maioria civis, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas, e cerca de 250 reféns, mais de 100 dos quais se encontram ainda em cativeiro.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para “erradicar” o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, electricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao Norte do território e que entretanto se estendeu também ao Sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que ontem entrou no 88.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza quase 22.000 mortos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.
Israel afirmou, sem fornecer provas, que mais de 8.000 combatentes do Hamas foram mortos na sua ofensiva e culpa o movimento islamita pelo elevado número de civis mortos, argumentando que os membros do grupo terrorista se escondem em zonas residenciais, incluindo escolas e hospitais.
A morte e a destruição generalizadas – sem precedentes no centenário conflito do Médio Oriente – levaram a África do Sul a apresentar um processo contra Israel no TIJ, acusando-o de actos “genocidas” que visam “destruir os palestinianos em Gaza”, o que Israel rejeitou.
Pediu também ao TIJ que emitisse uma ordem provisória para a suspensão imediata das operações militares israelitas naquele território palestiniano.
Se for avante, o processo demorará anos, mas uma ordem provisória poderá ser emitida em apenas algumas semanas. Desconhece-se quais seriam, ao certo, os efeitos concretos de uma decisão do TIJ contra Israel, mas é provável que isolassem política e economicamente o país.