A OrganizaçãoNão Governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) acusou, ontem, as autoridades rwandesas de serem responsáveis por as- sassinatos, espancamentos e raptos de dissidentes no estrangeiro e ape- lou à comunidade internacional para que lute contra esta “repressão ex- traterritorial”, noticiou o site Notícias ao Minuto
De acordo com a HRW, a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), o partido do Presidente Paul Kagame, “respondeu com força e muitas vezes de forma violenta às críticas, implementando uma série de medidas para lutar contra opositores reais ou presumidos”.
A ONG adianta ter documentado “mais de 10 casos de assassinatos, sequestros e tentativas de sequestro, desaparecimentos forçados e ataques físicos contra ruandeses que vivem no estrangeiro”.
Contactada pela agência de notícias francesa France Presse, o porta-voz do governo rwandês, Yolande Makolo, negou as acusações, afirmando que a HRW “continua a apresentar uma imagem distorcida do Rwanda que só existe na sua imaginação”, evocando, pelo contrário, “a promoção dos direitos, bem-estar e dignidade dos ruandeses nos últimos 29 anos”.
A HRW diz ter falado com mais de 150 pessoas sobre este assunto, nomeadamente em França, África do Sul e Estados Unidos. Desde Maio de 2021, adianta a HRW, “pelo menos três rwandeses foram mortos ou desapareceram em circunstâncias suspeitas, enquanto outros dois sobreviveram a tentativas de rapto” em Moçambique.
O empresário e jogador de futebol Seleman Masiya, descrito por um amigo como muito crítico do governo ruandês, que tinha estatuto de requerente de asilo em Moçambique, foi morto na sua habitação, no Norte do país, em Julho de 2022.
A ONG refere também que apesar das repetidas violações dos direitos humanos cometidos pelas autoridades ruandesas contra “estes opositores”, a comunidade internacional “desviou o olhar do alcance e da seriedade do histórico deplorável deste país em matéria de direitos humanos”.
Uma indulgência que a HRW explica, em particular pelo envolvimento do Rwanda em operações de manutenção da paz em África, como na República Centro-Africana e em Moçambique, onde Kigali interveio desde 2021 para lutar contra uma insurgência jihadista armada.
A Human Rights Watch também aponta o dedo ao papel desempenhado pelos funcionários da embaixada do Ruanda ou pelos membros da Comunidade Ruandesa no Estrangeiro (RCA), uma rede internacional de associações da diáspora ligada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, na vigilância e pressão exercida sobre os requerentes de asilo e refugiados.
Mesmo nos países ocidentais, como a Bélgica, o Reino Unido e a França, Kigali conseguiu “criar um clima de medo entre as populações refugiadas”, lamenta a ONG.
Os familiares que permanecem no Rwanda são também alvo de detenções arbitrárias e alegados assassinatos “a fim de pressionar os seus familiares no estrangeiro para que parem com o seu activismo”.
Estes actos “violaram uma série de direitos, incluindo o direito à vida, (…) o direito de não ser sujeito à tortura e o direito a um julgamento justo”, conclui a ONG, pedindo à comunidade internacional que lute contra esta repressão extraterritorial”.