O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, rejeitou hoje, em Berlim, que exista um cenário realista para a retirada da população palestiniana em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no caso de uma ofensiva terrestre israelita.
“A situação é terrível. Em todo o lado há destruição, em todo o lado há munições por explodir”, declarou António Guterres numa entrevista ao semanário alemão Die Zeit.
“Estou extremamente preocupado porque pode haver uma ofensiva em Rafah e não sou o único”, disse o secretário-geral da ONU, acrescentando que a sua preocupação é partilhada pelos Governos dos EUA, Alemanha e Reino Unido, bem como por muitos outros países “amigos e aliados de Israel”.
Guterres também reiterou que a situação humanitária em Gaza não tem precedentes históricos.
“Tantas vítimas, tanta destruição em tão pouco tempo é algo nunca visto. Nunca aconteceu antes matarem 156 dos nossos próprios funcionários de uma organização humanitária”, enfatizou.
Sobre as alegações israelitas contra a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos, (UNRWA), Guterres destacou a criação de uma força tarefa para esclarecer o suposto envolvimento de funcionários daquele órgão da ONU nos ataques do Hamas em Israel em 7 de Outubro.
Guterres afirmou que haverá “tolerância zero” diante de uma infiltração na organização pelo grupo islâmico Hamas.
“Precisamos de informação concreta de Israel, em vez de propaganda difundida aos quatro ventos para espalhar a ideia que todos os funcionários da UNRWA são corruptos, o que nada tem a ver com a realidade”, afirmou.
O secretário-geral da ONU disse esperar que os esclarecimentos que serão apresentados possibilitem o retorno das contribuições de alguns países, que bloquearam os donativos após as denúncias de Israel.
Guterres declarou ainda que “até certo ponto, o Hamas sempre foi um instrumento útil para aqueles que não queriam que houvesse unidade entre os palestinianos”, bem como um obstáculo à solução de dois Estados.
A entrevista com Guterres foi publicada por ocasião da participação do secretário-geral da ONU na Conferência de Segurança de Munique, que começa na próxima sexta-feira na Alemanha.