Estudantes e trabalhadores guineenses redigiram um manifesto contra a visita do Presidente da Guiné-Bissau a Portugal, entre Segunda e Quarta-feira, acusando o chefe de Estado e o Governo portugueses de “higienizar” a imagem de Umaro Sissoco Embaló.
Numa missiva dirigida ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro portugueses, o movimento Firkidja di Púbis, que congrega activistas, estudantes e trabalhadores guineenses em Portugal, manifesta a sua “profunda indignação perante o apoio que o Estado português tem prestado a Umaro Sissoco Embaló”.
Os subscritores definem Sissoco como um “Presidente autoritário e líder de uma ditadura à procura de renascer, após o povo soberano da Guiné-Bissau ter decretado o início do seu fim com a fulminante derrota, nas últimas eleições legislativas, dos partidos políticos que o acompanham no seu projecto de eliminação das liberdades democráticas, uma conquista inalienável do povo guineense”.
“Durante três anos e meio, o nosso povo foi obrigado a viver num ambiente de perseguições políticas, através de instrumentalização de instituições de justiça, fundamentais para qualquer Estado que se quer de direito e democrático”, com “raptos e espancamentos de cidadãos que ousam contrariar as sistemáticas violações dos direitos e liberdades cívicos fundamentais, nomeadamente as liberdades de expressão, de imprensa, sindical, de manifestação e de reunião”, escrevem.
Nesse período, prossegue o documento, registaram-se “assaltos à mão armada à sede de um partido político, a um órgão de comunicação social e a casas de comentadores políticos e dirigentes partidários que não se alinham com a ditadura de um Presidente que se tem apresentado publicamente como sendo único chefe na Guiné-Bissau”.
E durante esse tempo de “cerceamento das liberdades” na GuinéBissau, “o Estado português, através do seu Presidente da República e do seu primeiro-ministro, participou activamente na higienização do Presidente guineense autoritário, Umaro Sissoco Embaló, a quem tanto o Presidente da República [português], Marcelo Rebelo de Sousa, como o primeiro-ministro [português], António Costa, ajudaram a retratar-se perante o mundo com as suas deslocações a Bissau em 2021 e 2022, respectivamente”.
Os subscritores do manifesto criticam o facto de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa terem recebido Sissoco em Portugal, sem que o Supremo Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau se pronunciasse legalmente sobre o desfecho da segunda volta das eleições presidenciais em 2020.
“Hoje, perante as tentativas denunciadas de Umaro Sissoco Embaló em forçar uma crise política que lhe dê possibilidades de dissolver a Assembleia Nacional Popular e, desta forma, destituir o Governo eleito pelo povo da Guiné-Bissau, após apenas dois meses em funções, o mesmo Presidente da República é recebido pelos titulares dos mais altos cargos do Estado português”, prossegue a missiva.
Os autores afirmam que “os trabalhadores, estudantes e o povo guineense estão atentos e repudiam” a “cumplicidade” do Presidente da República e primeiroministro portugueses “com o líder de um projecto político absolutista e antidemocrático, na concretização da sua agenda populista, que intitula de ‘diplomacia agressiva’, visando unicamente distrair os guineenses e os parceiros internacionais do nosso Estado dos seus intentos de inviabilização de um quadro governativo estável e democrático”.
No passado dia 10 de Outubro, o Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, anunciou que vai realizar uma visita de Estado a Portugal, entre Segunda e Quarta-feira.