O governo britânico aumentou a pressão nesta Terça-feira (13) sobre Moscovo para que dê explicações sobre a sua hipotética relação com a tentativa de assassinato de um ex-espião russo em solo britânico. o governo do presidente russo, vladimir putin, respondeu em tom desafiador.
“É importante que se entenda a gravidade do ocorrido”, disse numa entrevista à televisão o ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson. Trata-se “da primeira vez que se usam gases nervosos na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, acrescentou Johnson. Serguei Skripal, de 66 anos, foi encontrado em 4 de Março em estado crítico junto com a sua filha Yulia num parque em Salisbury (sul da Inglaterra), onde vivia já anos. Um polícia que tentou ajudá- los também se encontra em estado grave. Moscovo insistiu na sua inocência, atribuiu as acusações a uma tentativa de desprestígio e pediu a Londres amostras do agente nervoso neurotóxico usado no ataque. “Exigimos com uma nota oficial acesso a esta substância e a todos os factos da investigação, porque uma das vítimas é a cidadã russa Yulia Skripal”, filha do ex-espião, disse o chanceler russo, Serguei Lavrov.
A embaixada russa, em Londres, pediu uma “investigação conjunta”, e advertiu que haverá uma resposta contundente caso Londres aplique algum tipo de sanção. E dirigindo-se à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), o embaixador russo Alexander Shulgin criticou as autoridades britânicas pelos seus “ataques mesquinhos” a Moscovo e por “fomentar a histeria”. May manteve consultas com os seus principais aliados. A Rússia deve dar “respostas inequívocas” ao ataque, exigiu o presidente Donald Trump após um telefonema a May. Em particular, Moscovo deve explicar “como esta arma química”, conhecida como Novichok, “desenvolvida na Rússia, foi utilizada no Reino Unido”. A chanceler alemã Angela Merkel declarou que considerava “muito sérias” as acusações britânicas e o presidente francês Emmanuel Macron condenou o que classificou de “ataque inaceitável”.
A crise entre Moscovo e Londres pode agravar-se após a morte de outro exilado, Nikolái Glushkov, de 69 anos, que foi encontrado morto no seu domicílio em New Malden, um subúrbio de Londres, segundo a imprensa britânica. Glushkov, cuja morte ainda não foi confirmada oficialmente, era próximo ao milionário Boris Berezovski, um inimigo do Kremlin que foi encontrado enforcado em 2013 no Reino Unido. Expulsão de diplomatas, um cibertaque… Na Quarta-feira, após nova reunião do Conselho Nacional de Segurança (NSC), May comparecerá no Parlamento e poderá revelar o pacote de medidas contra a Rússia. Entre as possibilidades de Londres, citadas nos últimos dias, estão a expulsão de diplomatas, o lançamento de um ciberataque ou a apreensão de bens dos membros do círculo de Vladimir Putin suspeitos de violação dos direitos humanos.
Também se pede o bloqueio das transmissões no Reino Unido da RT – a rede de televisão pública russa – ou o encerramento da sua sucursal em Londres, mas Moscovo já avisou que, neste caso, responderia com a proibição ao trabalho de toda a mídia britânica na Rússia. Menos provável é que os seus aliados aceitem se somar à imposição de novas sanções, estimou Sam Greene, director do Instituto da Rússia na Universidade King’s College de Londres. “Será difícil”, disse Greene à AFP, lembrando a tentativa frustrada da Holanda de pactuar numa resposta ao derrube de um avião civil seu na Crimeia, supostamente por um grupo apoiado por Moscovo. “As opiniões na Europa já estão muito divididas”. No Parlamento, May disse que é “muito provável” que a Rússia esteja por trás do atentado, baseando- se na sua histórica liquidação de dissidentes e antigos agentes, e no gás nervoso usado, do tipo Novichok, fabricado em laboratórios militares russos a partir dos anos 1970 e mais potente do que o zarín e o VX.
Polícia pede colaboração de testemunhas
O cientista que revelou o programa de armas químicas russo, Vil Mirzayanov, que agora vive nos Estados Unidos, disse que sofrer um ataque com gases Novichok é como ser torturado. “É uma autêntica tortura, é impossível de imaginar. Agindo em pequenas doses, a dor pode durar semanas. O horror é inimaginável”, explicou o jornal britânico Daily Mail sobre este gás que paralisa e impede de respirar antes de matar. May era ministra do Interior na época do assassinato, em Londres, de Alexander Litvinenko, em 2006, um crime com uma substância radioativa (polónio- 210) cometido com o consentimento de Putin, segundo as conclusões da investigação oficial. A resposta se limitou à expulsão de vários diplomatas e ao congelamento de alguns poucos bens.
Merkel é reeleita pelo Parlamento como chanceler alemã para quarto mandato
Os deputados alemães reelegeram, nesta Quarta-feira, Angela Merkel como chanceler para um quarto mandato, que ela inicia em posição delicada, após seis meses de incertezas e negociações para conquistar uma maioria parlamentar. Dos 688 votos válidos, 364 deputados expressaram-se a favor da reeleição na votação secreta, nove a mais que o necessário, mas 35 a menos que a maioria teórica de 399 deputados conservadores e social-democratas.