“Existem trocas localmente entre militares para facilitar as movimentações de meios franceses imobilizados desde a suspensão da cooperação antiterrorista”, reconheceu essa Terça-feira de manhã o gabinete do ministro da Defesa, Sébastien Lecornu.
As mesmas fontes garantiram à Agência France Presse, AFP, que “tiveram início as conversas sobre a retirada de certos elementos militares”.
“É normal falar disso, na medida em que a cooperação antiterrorista foi interrompida” depois do golpe de Estado de 26 de Julho, acrescentou uma delas, citada pelo jornal Le Monde.
Segunda-feira, o primeiro-ministro do Níger, designado pela Junta militar que assumiu o poder, Ali Mahaman Lamine Zaine, tinha revelado a existência de “contactos” sobre uma “muito rápida” partida das tropas francesas do país.
A notícia foi confirmada essa Terça-feira, apesar de, ao jornal Le Monde e à AFP, as fontes ministeriais francesas insistirem que as conversações não envolvem para já nenhum representante da Junta, uma vez que a legitimidade desta não é reconhecida por Paris.
Prazo de um mês expirado
O Eliseu exige o regresso ao poder do Presidente eleito, Mohamed Bazoum, deposto e colocado sob prisão domiciliar pela Junta e com quem o Presidente francês, Emmanuel Macron, se mantém em contacto.
A Junta militar que tomou o poder no Níger denunciou, unilateralmente, os acordos de cooperação assinados com Paris pelo anterior Governo que permitiam a presença francesa.
Deu um mês para a retirada do contingente francês, prazo que terminou Domingo passado.
Paris rejeita, oficialmente, a ideia de esvaziar as três bases militares que detém no Níger e que albergam cerca de 1500 soldados.
No actual estádio das conversações não foi ainda decidido nem o número de efetivos abrangidos nem a modalidade da retirada, mas esta já é um dado adquirido, refere o Le Monde.
Desde o golpe que os drones, os helicópteros e os aviões franceses se mantêm no solo.
Os soldados franceses estão estacionados numa base perto da capital, Niamey, noutra perto de Ouallam, a capital do Norte do Níger, e uma terceira em Ayoru, perto da fronteira com o Mali.
Algumas unidades poderão ser transferidas para outro país da região, nomeadamente o vizinho Chade. Outra hipótese é o repatriamento.
Paris sob pressão
As relações entre o Níger e a França deterioraram-se rapidamente nas últimas semanas após o golpe militar.
Segunda-feira, o primeiro-ministro designado Ali Mahaman Lamine Zaine sublinhou, contudo, a esperança de “manter a cooperação, se possível, com um país com o qual partilhamos muitas coisas”.
A pressão para a retirada tem aumentado nos últimos dias, com manifestações a exigir o fim da presença militar francesa a cercarem a base aérea onde se encontra parte do contingente, em Niamey.
O golpe militar no Níger foi mais um sério revés para a influência francesa no Sahel, depois de ocorrências semelhantes no Mali, em 2020, e no Burkina Faso, em 2022.
No final de Agosto, outro golpe militar, desta vez no Gabão, afastou o Presidente Ali Bongo Ondimba, cujo pai liderou o país durante mais de quatro décadas, com apoio de Paris.
A França reagiu com mais contenção à queda da dinastia do Gabão do que ao afastamento do seu aliado Bazoum, eleito num processo democrático.