Num recente artigo publicado pela Bloomberg, James Stavridis, almirante aposentado da Marinha dos EUA e ex-comandante supremo aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), chamou a atenção para o quanto Trump tentou pressionar os europeus a atingirem uma meta de gastar 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com as Forças Armadas — muito em função dos desafios da época envolvendo Afeganistão, Iraque, terrorismo global, pirataria na costa africana e ataques cibernéticos.
No seu primeiro mandato, Trump foi explícito ao dizer que a Europa tinha que gastar mais na sua própria defesa. Esta mensagem ganhou alguma força, e os níveis de gastos com defesa começaram a aumentar.
Após o início do conflito ucraniano, curiosamente a Europa Ocidental ampliou os gastos com defesa significativamente. Hoje, a maioria dos 32 membros da aliança contribui com mais do que a meta de 2%. Alguns, como a Polónia, gastam mais em defesa com base no PIB do que os Estados Unidos. Apesar disso, não deve ser o suficiente para satisfazer Trump, afirma Stavridis.
“De facto, espere que um dos primeiros pedidos de Washington após a posse seja um aumento nos gastos com defesa europeus — e canadianos — para pelo menos 2,5% do PIB, e talvez até 3%.
Os EUA gastam cerca de 3,5% do PIB em defesa e, portanto, uma meta de 3% pode parecer muito razoável para a nova equipa na Casa Branca”, especula. Ainda para o analista, deve haver um esforço para que os europeus assumam, essencialmente, o financiamento da Ucrânia uma vez que os EUA têm fornecido mais ajuda militar, mesmo com todo o gasto geral europeu que vai, predominantemente, para as corporações de defesa norte-americanas, criando empregos internamente e fortalecendo sua própria base industrial de defesa. Mas, Stavridis ainda acredita ser provável que a nova administração em Washington diga aos europeus: “É seu problema, resolvam isso.”
Enquanto Washington pressiona para que os gastos europeus com defesa sejam ampliados, ela ainda é colectivamente o segundo maior orçamento de defesa do mundo, à frente da China — que gasta cerca de 2% do seu PIB em defesa.
E está a aumentar sob os impulsos da pressão de Trump e da crise ucraniana. Os militares europeus também têm a vantagem de serem globalmente implantáveis. Isso pode ser vital no caso de um confronto dos EUA com a China, que vai poder contar com navios de guerra do Reino Unido, França, Países Baixos, Canadá e Alemanha ao lado dos do Japão, Coreia do Sul e Filipinas, ou ainda no caso de uma abertura forçada do mar Vermelho e o canal de Suez actualmente bloqueados pelos houthis, aponta o analista.
“Os valores comuns da aliança são importantes. […] Os europeus vieram, lutaram e morreram connosco no Afeganistão para enfrentar terroristas radicais”, afirma Stavridis ao destacar que essas razões seriam responsáveis por unir os membros da Aliança Atlântica.
Finalmente, mesmo que estes não são os últimos dias da OTAN, a aliança deve encarar um período desconfortável, enquanto os aliados europeus se reajustam às realidades de uma nova e céptica administração em Washington.