“Por cada dia em que este homem maldito continua a assumir a responsabilidade nominal do funcionamento do Estado, é mais um dia em que coloca um perigo concreto para o seu futuro e existência”, indicou o antigo governante num artigo publicado no diário Haaretz, numa acusação directa às políticas do actual primeiro-ministro israelita, que lidera o Governo mais à direita da história de Israel. “Netanyahu quer destruir Israel, nada menos.
Chegou o momento de expulsá-lo”, exigiu Olmert, à semelhança dos milhares de israelitas que, desde há meses, contestam nas ruas o Governo de coligação, que integra ultra-ortodoxos e a extrema-direita, e pedem um acordo para a libertação dos 120 reféns que permanecem na Faixa de Gaza na posse do grupo islamita palestiniano Hamas.
Olmert, uma voz muito crítica face à gestão do actual chefe de Governo, dirigiu o país entre 2006 e 2009, antes de ser detido por corrupção devido a práticas anteriores, quando foi presidente do município de Jerusalém (1993- 2003).
A recusa de Netanyahu de “alcançar um acordo que permita o regresso de todos os reféns a Israel baseia-se no argumento de que impediria uma vitória total sobre o Hamas. Mas a vitória total já não é uma opção, como não era desde o dia em que o primeiro-ministro Netanyahu a introduziu pela primeira vez”, argumentou Olmert.
Na sua perspectiva, Netanyahu fixou um “objectivo impossível” para poder responsabilizar as Forças Armadas pelo seu fracasso, e contra quem “dissemina veneno, provocação, desprezo e uma tentativa de abalar a confiança do povo de Israel nos comandantes que dirigem as forças”.
Numa referência à Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967 e onde as incursões militares e os ataques de colonos contra pales tinianos registaram um significativo aumento desde o ataque do Hamas no Sul de Israel em 07 de Outubro de 2023, Olmert acusou Netanyahu de “adoptar medidas deliberadas destinadas a provocar uma situação generalizada de violência na Cisjordânia” perpetradas por milícias privadas formadas por gente com armas” que lhes foraqm enviadas peo ministro da Segurança Nacional, Ben Gvir.
Estas armas são utilizadas por muitos deles colonos israelitas nos seus distúrbios e protegem-nos quando brutalizam os palestinianos: queimando as suas propriedades e destruindo as suas fontes de vida e sustento, para além de matarem directamente pessoas inocentes”, prosseguiu Olmert.
Desde 07 de Outubro passado e até 10 de Junho, pelo menos 520 palestinianos, incluindo mais de uma centena de crianças, foram mortos na Cisjordânia, incluindo em Jerusalém Leste, a maioria no decurso de incursões militares israelitas, mas também pela acção de colonos armados.
No mesmo período, a ONU registou 968 ataques de colonos contra palestinianos, a maioria provocando danos elevados nas suas propriedades, incluindo olivais, gado, campos agrícolas e habitações, com o objectivo de expulsá-los. Durante o mesmo período, mais de 9 mil palestinianos foram detidos pelas forças israelitas em todo o território da Cisjordânia ocupada.
Numa referência à recente troca de mensagens com a Casa Branca (presidência norte-americana), na qual Netanyahu acusa o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de atraso no envio de armas, Olmert associa-a a uma “tentativa calculada” de sabotar a reeleição do governante democrata.
“A fanfarronice e arrogância de Netanyahu na televisão, com repreensões ao Presidente dos Estados Unidos e às suas acções, são uma magistral actuação de irresponsabilidade, de perda de calma e de desprezo pelas necessidades mais básicas de Israel”, considerou.
O conflito em curso na Faixa de Gaza foi desencadeado pelo ataque do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita de 07 de Outubro de 2023, que causou cerca de 1.130 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas. Desde então, Telavive lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que, até ao momento, provocou mais de 37 mil mortos e mais de 85 mil feridos, de acordo com as autoridades do enclave palestiniano, controladas pelo Hamas desde 2007.
Calcula-se ainda que 10 mil palestinianos permanecem soterrados nos escombros após cerca de oito meses de guerra. O conflito causou também quase 2 milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhão de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.