O ex-Presidente norte-americano Donald Trump agarrou-se, Sábado, à imagem de vítima de uma caça às bruxas política, pedindo o apoio dos republicanos num comício sem quase fazer referência ao assalto ao Capitólio, que faz três anos.
“Se eu não estivesse a concorrer, ou se estivesse em quinto lugar nas sondagens, eles não me teriam acusado. Tudo isto é uma questão política”, afirmou o republicano, que foi Presidente entre 2017 e 2021, num evento em Iowa.
Desafiador e agressivo, Trump fez poucas referências ao ataque ao Capitólio, que cumpre hoje três anos, nas suas quase duas horas de discurso: “Ninguém pensava que o dia 06 de Janeiro fosse sequer uma possibilidade”.
Trump enfrenta acusações criminais num tribunal federal da capital norte-americana pelo que aconteceu, ao interromper a transferência pacífica de poder para Joe Biden e espalhar teorias falsas sobre fraude eleitoral.
Algumas das teorias que voltou ontem a insistir: “Os democratas da esquerda radical manipularam as eleições presidenciais de 2020 e não vamos permitir que manipulem as eleições presidenciais de 2024”.
Em 6 de Janeiro de 2021, apoiantes de Trump invadiram o Capitólio com o objectivo de interromper a sessão parlamentar em que seria certificada a vitória de Biden nas eleições de 2020, obrigando os legisladores a esconderem-se e a Polícia a confrontar-se com os invasores.
O assalto ao Capitólio aconteceu depois de Trump, num comício em frente à Casa Branca, ter instado a multidão a dirigir-se ao Congresso e “lutar com todas as suas forças”.
Cinco pessoas morreram, quatro agentes da polícia suicidaram-se posteriormente, 1.250 pessoas foram acusadas e 890 condenações já foram proferidas.
O caso do Capitólio é apenas um dos quatro processos penais que enfrenta o ex-Presidente, que ontem voltou a insistir, sem provas, que Joe Biden está a utilizar “como nunca antes” a justiça como “arma” contra si.
“Cada vez que os democratas, comunistas e fascistas de esquerda radical me acusam considero uma grande medalha de honra”, acrescentou Trump, que indicou que actualmente “os procuradores são mais poderosos que os políticos”.
O republicano, favorito do seu partido nas sondagens para se tornar o candidato presidencial, falava num evento em Iowa, onde as primárias do partido arrancam em 15 de Janeiro.
As primárias de Iowa servem tradicionalmente como ponto de partida para medir o apoio de cada candidato na trajectória até à Casa Branca e, consciente da sua relevância, ontem Trump também fez duras críticas aos rivais republicanos que, embora distantes nas pesquisas, também aspiram a enfrentar nas urnas Joe Biden, o candidato democrata.
Os mais citados foram Nikki Haley e Ron DeSantis. Segundo a média das pesquisas elaboradas pelo ‘site’ FiveThirtyEight, Trump está 50 pontos percentuais à frente do governador da Flórida (11,3% de apoio) e do ex-embaixador dos EUA na ONU (11,3%).
“Ao alcançar uma vitória massiva em Iowa, enviaremos uma mensagem estrondosa directamente ao corrupto Joe Biden, aos media de notícias falsas e a todas as pessoas más e sinistras que estão a tentar destruir a nossa nação”, disse Trump.
O ex-Presidente fez estas declarações poucas horas depois de o Supremo Tribunal ter aceitado o caso relativo à sua expulsão das primárias do Partido Republicano no Colorado.
O mais alto tribunal dos Estados Unidos terá de estabelecer uma posição nacional sobre se Trump pode participar nas eleições presidenciais de 2024 ou se, pelo contrário, o papel que desempenhou no ataque ao Capitólio em 2021 o torna inelegível.
A audiência pública para estudar o caso será no dia 8 de Fevereiro, embora ainda não se saiba quando o Supremo Tribunal irá proferir a decisão.
Trump advertiu também que haverá “grandes problemas” se o Supremo Tribunal não decidir a seu favor sobre ser elegível para as presidenciais deste ano.
“Só espero que consigamos um tratamento justo (…) porque se não o fizermos, o nosso país estará em grandes apuros”, salientou.