Cerca de 2,5 toneladasde urânio natural que se encontrava armazenado na Líbia desapareceram, confirmou, esta quinta-feira, a Agência Internacional de Energia Atómica, receando problemas de segurança e de proliferação
O urânio natural não pode ser usado directamente na produção de energia sendo necessário o processo de enriquecimento do minério através de meios sofisticados de centrifugação.
Mesmo assim, cada tonelada de urânio natural – na posse de grupos com meios e recursos tecnológicos pode ser transformada em 5,6 quilos de “material com capacidade bélica”, de acordo com especialistas.
O director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, com sede em Viena, informou na quarta-feira os vários Estados sobre o desaparecimento do urânio natural que se encontrava em território líbio.
“Os seguranças da agência (AIEA) descobriram que 10 barris que continham um total de 2,5 toneladas de urânio natural não se encontram no local onde a Líbia dizia estarem “, refere uma nota divulgada ontem pelo organismo das Nações Unidas.
“A agência vai tomar medidas para esclarecer as circunstâncias que levaram ao desaparecimento do material nuclear assim como do local onde se possa encontrar”, acrescenta o comunicado da AIEA.
Inicialmente, a agência Reuters noticiou as preocupações da AIEA relacionadas com o desaparecimento do urânio líbio referindo que os elementos da agência da ONU estiveram no local onde se encontrava o material e que não se encontrava sob o controlo do governo (Tripoli).
A AIEA não fornece mais detalhes sobre o desaparecimento. Segundo a Associated Press, o local onde se encontravam os bidões com urânio situa-se em Sabha, a 660 quilómetros a sudeste da capital, numa zona perto do deserto do Saara e fora do controlo das autoridades de Tripoli.
Neste local, o antigo ditador da Líbia Muammar Khadafi (1942-2011) mandou armazenar milhares de bidões com urânio natural (“yellowcake”) para serem depois transformados numa unidade de conversão de urânio, que nunca chegou a ser construída.
Em 2003, após a invasão do Iraque pela coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, Khadafi anunciou a intenção de construir um programa nuclear, usando o material armazenado.
Parte do material (urânio natural) foi retirado pelos inspectores da ONU do país, mas cerca 6.400 barris mantiveram-se em Sabha.
De acordo com mensagens diplomáticas divulgadas pelo portal WikiLeaks em 2009, os Estados Unidos mostravam receio sobre as supostas intenções do Irão em aceder ao urânio da Líbia.
Kadhafi foi morto após os levantamentos das Primaveras Árabes em 2011, numa altura em que eclodiu a guerra civil na Líbia.
Nos últimos anos, Sabha tornou-se num dos pontos de passagem das rotas de migração irregular controladas por traficantes de seres humanos.
A região de Sabha está sob o controlo do autoproclamado Exército Nacional Líbio, comandado pelo general Khalifa Hifter.
Segundo a Associated Presse, Hifter foi um antigo contacto dos serviços de informações norte-americanos (CIA), sobretudo durante o regime de Khadafi em que viveu exilado.
Nesta altura, Hifter combate o governo de Tripoli, pelo controlo de todo o país.
Um porta-voz do general declinou qualquer esclarecimento sobre o urânio.
Na mesma zona também estão presentes forças do grupo Front for Change and Concord in Chad, do Chade, sobretudo a sul da cidade de Sabha.