Há várias semanas que a tensão entre Zelensky e o chefe das Forças Armadas se vinha a aprofundar, depois de a contraofensiva ucraniana, iniciada no último Verão, ter mostrado poucos resultados
Na Segunda-feira, o presidente ofereceu ao general um novo cargo, mas este terá recusado. “O presidente pediu a Zaluzhnyi que se demitisse, mas este não aceitou fazê-lo”, declarou ao Guardian o deputado da oposição Oleksii Goncharenko.
Para Goncharenko, existem algumas divergências de personalidade entre os dois homens. “Pessoalmente, penso que [a demissão] é má ideia.
Não há problemas de fundo entre eles, mas o gabinete de Zelensky tem-se mostrado preocupado por considerar que Zaluzhnyi faz declarações políticas e não militares”, explicou.
A seguir ao próprio presidente, Zaluzhnyi é a figura mais popular da Ucrânia neste momento. Numa entrevista ao Economist, em Novembro, o general disse acreditar que a guerra se encontrava num impasse e apelou a uma nova ajuda do Ocidente.
Poucos dias depois, Zelensky rejeitou a avaliação de Zaluzhnyi e considerou-a pessimista. “Toda a gente se cansa, independentemente do seu estatuto. E temos opiniões diferentes.
Mas não se trata de um impasse”, afirmou então o presidente, acrescentando que os caças F-16 ocidentais recém-chegados poderiam levar a um avanço em 2024.
Uma sondagem divulgada em Dezembro sugeriu que Zaluzhnyi seria o principal rival de Zelensky numas próximas eleições. Em Novembro, o presidente alertou que a entrada de generais na política seria “um grande erro”.
“Com todo o respeito pelo general Zaluzhny e por todos os comandantes que estão no campo de batalha, há uma compreensão absoluta da hierarquia” na qual o presidente está no topo, considerou.
O que acontece se Zaluzhnyi sair?
Depois da recusa do comandante em abandonar o cargo, torna-se incerto o próximo passo do presidente. Um dos cenários possíveis seria o afastamento forçado de Zaluzhnyi, mas o Ministério da Defesa veio já descartar essa opção. “Caros jornalistas, respondemos imediatamente a todos: não, isso não é verdade”, declarou o Ministério.
Para que Zelensky pudesse substituir Zaluzhnyi, precisaria do apoio do ministro da Defesa e de avaliar as reacções quer dos ucranianos, quer da comunidade internacional.
Caso essa substituição venha a acontecer, a figura mais provável para ocupar o cargo é Kyrylo Budanov, chefe dos Serviços de Inteligência Militar da Ucrânia e responsável pelas operações desta área contra a Rússia. Incerta é também a estratégia militar a adoptar por um futuro comandante das Forças Armadas.
Na linha da frente, as posições russas continuam sem arredar, enquanto Kiev aguarda que o Congresso norte-americano aprove um pacote de ajuda militar de 61 mil milhões de dólares para garantir o fornecimento de armas dos EUA durante pelo menos um ano.
O presidente francês, Emmanuel Macron, apelou, entretanto, aos líderes europeus que acelerem a ajuda à Ucrânia, alertando que “os custos de uma vitória russa são demasiado elevados para todos nós”.
“Se a Rússia vencer, o quadro e a arquitetura de segurança do nosso continente deixam de existir”, vincou num discurso à academia militar sueca.