O Presidente do Vietname, To Lam, disse, ontem, ao homólogo chinês, Xi Jinping, que a relação com a China é a principal prioridade da política externa vietnamita, durante um encontro, em Pequim.
“Como irmãos, observamos sempre cada passo do desenvolvimento da China e estamos satisfeitos com as conquistas que o Partido [Comunista], o governo e o povo da China alcançaram sob a sua liderança”, disse Lam, no seu discurso, antes de se encontrar com Xi. Os dois dirigentes assinaram 14 acordos de cooperação em domínios como a educação política, infraestruturas, os cuidados de saúde e a banca.
A visita de três dias de Lam à China ocorre cerca de duas semanas após a sua confirmação como secretário-geral do Partido Comunista do Vietname, o cargo político mais importante do país.
Ele sucedeu a Nguyen Phu Trong, que morreu no mês passado após 13 anos como líder. China e Vietname partilham uma fronteira de quase 1.300 quilómetros e fortes laços económicos, com o comércio bilateral a atingir 175,6 mil milhões de dólares (159 mil milhões de euros), em 2022.
Lam afirmou que o Vietname apoia a reivindicação da China sobre Taiwan, conhecida como o princípio ‘Uma só China’, e que quaisquer questões relativas a Hong Kong e às regiões do Tibete e Xinjiang constituem assuntos internos da China.
Espera-se que Lam mantenha a “diplomacia do bambu”, caracterizada pela flexibilidade e pela recusa em se alinhar com um bloco específico. A neutralidade diplomática do Vietname, que visa maximizar os próprios interesses, atingiu novos patamares, tendo Hanói recebido em menos de um ano o Presidente russo, Vladimir Putin, o Presidente norte-americano, Joe Biden, e Xi Jinping.
Os EUA e o seu aliado Japão têm vindo a estreitar os laços com o governo comunista do Vietname – antigo inimigo de Washington durante a Guerra do Vietname – à medida que procuram parceiros numa rivalidade económica e estratégica crescente com a China.
Quando Xi visitou o Vietname, em Dezembro passado, os dois países anunciaram que iriam construir “um futuro partilhado, com um significado estratégico”. O acordo, que a imprensa estatal chinesa descreveu como elevação dos laços, foi visto como uma concessão pelo Vietname, que tinha resistido a usar essa expressão no passado.
Vladimir Putin encontrou-se com Lam no Vietname em Junho, depois de visitar a Coreia do Norte, numa rara viagem ao estrangeiro do líder russo, que tem sido ostracizado por muitos países devido à invasão da Ucrânia em 2022. Lam iniciou a sua viagem à China, no Domingo, em Cantão, um importante centro de produção e exportação perto de Hong Kong.
Também visitou locais na cidade do Sul, onde o antigo líder comunista do Vietname, Ho Chi Minh, passou algum tempo nas décadas de 1920 e 1930. Embora ambos sejam Estados comunistas de partido único, o Vietname e a China têm-se confrontado repetidamente sobre território que ambos reivindicam no Mar do Sul da China.
A China também invadiu, brevemente, partes do Norte do Vietname, em 1979. Recentemente, um navio da guarda costeira vietnamita participou em exercícios conjuntos nas Filipinas, país que tem tido uma série de confrontos violentos com a China por causa da disputa de território no Mar do Sul da China.
Mas o Vietname tem beneficiado economicamente do investimento dos fabricantes chineses, que transferiram a produção para o país do Sudeste Asiático, em parte para contornar as restrições dos EUA aos painéis solares e outras exportações oriundas da China.