O Canadá expulsou um diplomata chinês, acusado por Ottawa de ter procurado intimidar um deputado canadiano crítico do governo de Beijing, divulgou,ontem, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, citado pela agência France Press (AFP)
“Não toleramos nenhuma forma de interferência estrangeira nos nossos assuntos internos.
Os diplomatas no Canadá foram avisados que, se se envolverem neste tipo de comportamento, serão mandados para casa”, frisou a ministra dos Negócios Estrangeiros canadiana, Mélanie Joly. Assim, um comunicado onde declara Zhao Wei “persona non grata”.
Esta decisão deve abalar ainda mais as já complicadas relações bilaterais entre os dois países, com a China a considerar, neste caso, a acusação de uma “calúnia” e “difamação” do Canadá contra o diplomata, noticiou a agência France-Presse (AFP).
“Esta decisão foi tomada considerando cuidadosamente todos os factores em jogo”, explicou a ministra Mélanie Joly, referindo-se à importância de “defender a democracia” no Canadá.
As relações entre Beijing e Ottawa têm estado particularmente tensas desde a detenção, em 2018, pelas autoridades canadianas, de um funcionário do grupo chinês de telecomunicações Huawei e a detenção, em represália da China, de dois cidadãos canadianos.
Embora todos tenham sido libertados, as tensões persistiram, com Beijing a culpar Ottawa de alinhar na política de Washington para com a China e as autoridades canadianas a acusarem regularmente a China de interferência.
O último caso, revelado pela imprensa, diz respeito ao deputado conservador canadiano Michael Chong e a sua família, que alegadamente sofreram pressão chinesa por causa das críticas do político a Beijing, sobre a questão dos uigures, muçulmanos e o principal grupo étnico de Xinjiang (Noroeste da China).
Zhao Wei, funcionário do consulado chinês em Toronto, é acusado de estar no centro deste caso.
Citando documentos confidenciais e uma fonte não identificada, o jornal canadiano Globe and Mail avançou que a agência de inteligência da China intimidou o parlamentar, após ele votar em Fevereiro de 2021 a favor de uma moção que equiparava o tratamento da China aos membros da minoria étnica de origem muçulmana uigur a um “genocídio”.
Os uigures, muçulmanos, são o principal grupo étnico de Xinjiang (noroeste da China), região muito atingida por ataques sangrentos atribuídos pelas autoridades a islamitas e separatistas.
Em nome do anti-terrorismo, as autoridades chinesas lançaram uma vasta campanha de repressão em meados de 2010.
Os Estados Unidos, falam num “genocídio” em Xinjiang. A ONU sugere a possibilidade de crimes contra a humanidade.
“O Canadá calunia e difama infundadamente o funcionamento normal das embaixadas e consulados chineses no Canadá”, destacou Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em declarações aos jornalistas na Sexta-feira.
“A China está fortemente insatisfeita e opõe-se, firmemente, a este tipo de acções”, apontou.
O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, está sob pressão crescente para se manifestar contra Beijing, após alegações de que a China tentou influenciar os resultados das eleições canadianas de 2019 e 2021.