“Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação dos países desenvolvidos na sua fase inicial, estando, assim, livre das amarras dos condicionalismos impostos pelas instituições tradicionais às economias emergentes”, afirmou Lula, no discurso proferido durante a cerimónia de tomada de posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento criado pelo BRICS, o bloco de economias emergentes que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
O chefe de Estado brasileiro, que acusou as instituições financeiras dominantes de “pretenderem governar” os países emergentes, “sem que tenham um mandato para isso”, frisou ainda a importância do Novo Banco de Desenvolvimento no financiamento de projectos nas respectivas moedas locais dos países membros.
A China tem tentado internacionalizar a sua moeda, o yuan, desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo.
Esta questão tornou-se mais urgente, à medida que a prolongada guerra comercial e tecnológica entre Pequim e Washington resultou na imposição de sanções contra várias entidades chinesas e após a exclusão da Rússia do sistema financeiro internacional, na sequência da invasão da Ucrânia.
O dólar é utilizado em 84,3% das trocas comerciais a nível global, segundo dados recentes divulgados pelo jornal britânico Financial Times. Mas a participação do yuan mais do que duplicou desde a invasão da Ucrânia, de menos de 2% para 4,5%, reflectindo o maior uso da moeda chinesa no comércio com a Rússia.
Lula assegurou que o Novo Banco de Desenvolvimento é uma “ferramenta para a redução das desigualdades” entre países ricos e países emergentes, que se “traduzem em exclusão social, fome, extrema pobreza e migrações forçadas”.
“Não queremos ser melhores do que ninguém: queremos oportunidades para expandir as nossas potencialidades e garantir aos nossos povos dignidade, cidadania e qualidade de vida”, enfatizou.
O chefe de Estado brasileiro lembrou que as “necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento eram e continuam a ser enormes”, numa altura em que as nações mais pobres enfrentam uma crise de dívida soberana, agravada pelo aumento das taxas de juro nos Estados Unidos e na Europa, tornando o custo de financiamento mais caro.
“A falta de reformas efectivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes”, observou Lula.
“O Novo Banco de Desenvolvimento reúne todas as condições para se tornar o grande banco do Sul Global”.
O bloco de economias emergentes BRICS reuniu-se pela primeira vez em 2009 na altura ainda sem a África do Sul, na sequência da crise financeira global, e logo estabeleceu uma agenda focada na reforma da ordem internacional, visando maior protagonismo dos países emergentes em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No conjunto, os BRICS representam cerca de 40% da população mundial e 24% do produto global bruto.
O acordo para o estabelecimento do Novo Banco de Desenvolvimento foi assinado durante a cimeira do BRICS realizada na cidade de Fortaleza, em 2014.
O banco iniciou as operações no ano seguinte.
O banco multilateral aprovou já 70 projectos de infra-estrutura e desenvolvimento sustentável no valor de mais de 25 mil milhões de dólares (22,75 mil milhões de euros), incluindo nas áreas da energia limpa, saúde pública, educação, água, saneamento ou transporte, segundo dados divulgados pela instituição.