A entrada de Yulia Navalnaya para a direcção do movimento criado pelo marido Alexei Navalny é uma oportunidade para unir a oposição a Vladimir Putin, até agora dividida, afirmou a fundadora da Associação Democrática Russa em Londres, Ksenia Maximova
A antiga modelo e activista política afirmou que, até agora, a Fundação Anti-corrupção criada por Navalny, em 2011, tem recusado colaborar com outras organizações de oposição ao governo do actual presidente russo.
“Temos de ver o que a equipa de Navalny, agora sob a liderança de Yulia, vai fazer, porque por muito que trabalhemos todos juntos e muitos outros líderes da oposição trabalham juntos, tivemos um pouco de dificuldade em iniciar um diálogo com eles”, lamentou.
Em entrevista a um grupo de jornalistas, em Londres, entre os quais a Agência Lusa, Maximova revelou que tem existido um esforço para diferentes organizações de contestação a Putin no estrangeiro colaborarem, com excepção da Fundação Anti-corrupção.
“Eles pareciam estar a fazer o seu trabalho e todos os outros pareciam estar a fazer o seu trabalho.
Espero que agora, com a Yulia no comando, eles repensem isso e que possamos unir os nossos esforços, porque isso seria muito poderoso”, vincou Maximova.
A activista afirma que a oposição russa beneficiária de estar unida e em torno de uma figura para facilitar os contactos com governos internacionais porque “ninguém quer falar com um grupo de pessoas, uma coligação, porque é muito mais complicado e confuso”.
“Espero que, daqui para a frente, consigamos sentar-nos todos junos e dar início ao processo democrático” de escolher um potencial líder da oposição, vincou.
Nascida na Russia, Ksenia Maximova, agora com 38 anos, foi recrutada aos 16 anos em Moscovo para trabalhar no mundo da moda, o que fez a um nível elevado, chegando a modelo de marcas como a Gucci.
Navalny, contou à Lusa, foi a inspiração que a levou a ela e a muitos outros russos a organizarem-se no estrangeiro, em 2021, para protestarem contra a opressão política na Rússia e, mais recentemente, contra a invasão militar em grande escala da Ucrânia, em 2022.
Desde então, a Associação Democrática Russa, que Maximova fundou em Londres, em 2016, tem dedicado uma grande parte do tempo a ajudar os “muitos russos” que optam por fugir para o estrangeiro, seja por perseguição política ou para evitar o alistamento obrigatório para combater.
A ajuda pode ser financeira ou psicológica, porque “eles perderam a identidade, perderam o seu país”. A Associação organiza também protestos regulares junto à embaixada da Rússia em Londres e outros eventos, como debates e eventos culturais.
No entanto, as sanções a organizações e indivíduos russos e a hostilidade contra o regime de Moscovo estão a afectar os opositores no estrangeiro, nomeadamente no Reino Unido, queixou-se Maximova.
A conta bancária da Associação foi várias vezes suspensa, obrigando-a a mudar o nome para uma sigla sem a referência problemática à Rússia, situação que também está a acontecer a cidadãos comuns com nomes russos.
“As pessoas estão constantemente a ter as contas bancárias bloqueadas e a ter dificuldades com as contas profissionais. Muitas nem sequer são requerentes de asilo, são pessoas que estão aqui com um visto de talento internacional, que têm todo o direito de estar aqui e merecem viver uma vida normal”, argumentou.
Noutros países a situação é bastante pior, dependendo do ambiente político, referindo a Argentina, onde existem relatos de agressões físicas.
“Não é fácil ser russo no estrangeiro hoje em dia”, confessou. Mesmo assim, a activista entende que a diáspora russa tem a obrigação de fazer ser ouvida a voz da oposição a Putin porque, moralmente, considera errado pedir às pessoas na Rússia que se manifestem publicamente, uma vez que correm perigo.
“É altamente irresponsável. Sabemos que este regime não vai parar e, se não colocar pessoas na prisão, se houver um protesto em massa, a probabilidade de disparar sobre pessoas é muito elevada”, reconhece.
Pessoalmente, Maximova considera que a morte de Alexei Navalny em Fevereiro na prisão, cuja responsabilidade a viúva e os apoiantes atribuem ao presidente russo, foi um “erro estratégico enorme” que comparou a dar um pontapé num ninho de vespas, avisando: “Enfureceu pessoas que já estavam mobilizadas e zangadas”.