O apoio incondicional que o Presidente norte-americano Joe Biden concedeu à Ucrânia desde o início da invasão russa está a encontrar os primeiros entraves, com a deterioração da opinião pública e críticas da maioria Republicana na Câmara dos Representantes.
Desde o início da guerra, a 24 de Fevereiro de 2022, a administração Biden e o Congresso norte-americano enviaram cerca de 113 mil milhões de dólares em ajudas à Ucrânia, segundo o relatório dos inspectores-gerais do Pentágono, Departamento de Estado e USAID.
Este apoio incluiu assistência financeira, militar e humanitária. Mas um ano de guerra, em contexto de inflação elevada e enfraquecimento das condições económicas, resultou numa redução do apoio da opinião pública norte-americana.
Esse cenário tem sido captado em várias pesquisas feitas no último mês, que mostram um arrefecimento do apoio nos Estados Unidos numa altura em que algumas vozes do Partido Republicano, que retomou o controlo da Câmara de Representantes, se levantam contra a continuação do envio de ajuda, essencial para a sobrevivência da Ucrânia como estado.
“Vocês lembram-nos que a liberdade não tem preço. Merece que lutemos por ela durante o tempo que for necessário”, disse Biden ao lado do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, na visita surpresa que fez a Kiev a 20 de Fevereiro.
“E é assim que vos vamos apoiar, senhor presidente: durante o tempo que for necessário”, prometeu Biden.
Todavia, as perspectivas de um conflito prolongado e as necessidades crescentes da Ucrânia, tanto ao nível de armamento e munições como de ajuda monetária para reconstruir, ameaçam a integridade da promessa de Biden.
Quatro dias depois do primeiro aniversário da guerra, vários congressistas questionaram oficiais do Pentágono durante uma audiência parlamentar crispada, nas quais foram feitas perguntas relativas à ajuda financeira e militar que está a ser enviada para a Ucrânia.
O congressista Republicano Mike Johnson, do Louisiana, perguntou ao inspector-geral do Departamento da Defesa, Robert Storch, de que forma está a assegurar que os ucranianos são honestos e transparentes relativamente ao que é enviado.
O representante Andrew Clyde da Geórgia, que tem criticado o apoio abertamente, já tinha pedido garantias de que as armas enviadas são usadas para o objectivo estabelecido e não “desviadas para propósitos nefastos”.
Os oficiais Colin Kahl e Celeste Wallander testemunharam que não há indicações de que armas “delicadas” tenham sido desviadas para outros propósitos.
Wallander indicou que é possível que a administração Biden tenha de pedir autorização para mais ajuda antes do término do ano fiscal, em Setembro.
“Estamos todos preocupados com a prestação de contas”, disse o congressista Joe Wilson, da Carolina do Sul, que tem apoiado a ajuda à Ucrânia. “Vamos publicitar isto para que o povo americano possa confiar no que são as despesas”.
A preocupação com a opinião pública surge numa altura em que as vozes minoritárias do partido republicano que estão contra a ajuda à Ucrânia fazem caminho entre os eleitores conservadores.
Uma sondagem da Associated Press-NORC Center for Public Affairs, publicada em Fevereiro, indica que 48% dos norteamericanos apoiam o envio de armas, uma quebra de 12 pontos relativa a Maio do ano passado (quando era 60%).
No que toca a ajudas financeiras, 37% são a favor e 38% opõem-se. Outra pesquisa recente do Pew Research Center mostra que a percentagem de norte-americanos que diz que os Estados Unidos estão a enviar “demasiada” ajuda à Ucrânia subiu 19 pontos percentuais desde a invasão e 6 pontos desde Setembro passado, estando agora nos 26%.