O guia supremo do Irão, aiatola Ali Khamenei, rompeu nesta Terça- feira (2) o seu silêncio sobre a onda de protestos que já dura há seis dias e afirmou que os distúrbios são orquestrados pelos inimigos do país.
Nove pessoas morreram durante a noite de Segunda- feira no centro do país, onde os manifestantes tentaram invadir um posto policial. Desde o início das manifestações, na Quinta-feira passada, 21 pessoas morreram, incluindo 16 manifestantes, em todo o país por eventos relacionados a esses protestos, que começaram em Machhad (Nordeste), espalhando-se rapidamente. A capital Teerão tem sido menos afectada que as pequenas e médias cidades, mas 450 pessoas foram detidas desde Sábado, segundo as autoridades locais.
As autoridades mobilizaram agentes adicionais para fazer frente aos protestos, que não parecem particularmente estruturados. Na sua primeira declaração desde o início da crise, o aiatola Khamenei assegurou, numa declaração transmitida pela emissora de televisão oficial, que “nos acontecimentos dos últimos dias, os inimigos se uniram e estão a usar de todos seus meios, seu dinheiro, suas armas, suas políticas e seus serviços de segurança para criar problemas para o regime islâmico”. “Esperam apenas uma oportunidade para se infiltrar e atacar o povo iraniano”, declarou, sem especificar os “inimigos”.
“O que pode impedir o inimigo de agir é o espírito de coragem, de sacrifício e a fé do povo, dos quais vocês são testemunha”, acrescentou, dirigindo-se às famílias dos soldados mortos em guerra. As autoridades acusam os grupos de Oposição “contrarrevolucionários” baseados no exterior – nos Estados Unidos e na Arábia Saudita, por exemplo – de tentarem aproveitar-se da insatisfação da população para criar problemas no país. O Presidente norte-americano Donald Trump, que fez do Irão um dos seus principais alvos, reagiu várias vezes às manifestações, considerando que mostravam que o “tempo da mudança” chegou no país. Nesta Terça-feira, Trump elogiou os manifestantes iranianos por denunciarem o regime brutal e corrupto de Teerão. “O povo do Irão está finalmente a agir contra o brutal e corrupto regime iraniano”, tuitou.
– ‘Punição mais pesada’ – Segundo a televisão pública iraniana, nove pessoas – seis manifestantes, um menino, um polícia e um Guardião da Revolução – morreram durante protestos nocturnos na região de Isfahan, no centro do Irão. Seis manifestantes morreram em confrontos com as forças de segurança, quando tentavam invadir uma delegacia da cidade de Qahderijan, na província de Isfahan, indicou a fonte. Um menino de 11 anos morreu, e o seu pai foi ferido por disparos de manifestantes em Khomeinyshahr, acrescentou a mesma fonte. Um membro dos Guardiãs da Revolução, força de elite iraniana, morreu vítima de um disparo de uma arma de caça em Kahriz Sang, indicou a televisão estatal. Na Segunda-feira, as autoridades haviam anunciado a morte de um polícia, vítima de um disparo de arma de caça, em Najafabad.