“Para fortalecer os seus sectores industriais, diversificar as economias e redefinir o seu papel na economia global, os países em desenvolvimento ricos em minerais fundamentais para a transição energética têm de evitar as armadilhas da dependência de matérias-primas”, lê-se numa análise feita pela ONU Comércio e Desenvolvimento, anteriormente conhecida por UNCTAD.
A nova procura por minerais como o cobalto, lítio ou magnésio, abundantes em África, “pode piorar ainda mais a dependência de matérias-primas, agravando as vulnerabilidades económicas e deixando os benefícios longe das comunidades e empresários locais”, lê-se no documento a que a Lusa teve ontem acesso.
A transição energética, nomeadamente a utilização de veículos eléctricos, está a fazer a procura destes materiais disparar, com a ONU a prever que a procura por lítio, cobalto e cobre possa quadruplicar até 2030, beneficiando os países que têm estes materiais em abundância, como a República Democrática do Congo (RDCongo).
“As matérias-primas e a sua dependência são questões que estão no centro do passado e, especialmente, do futuro do comércio e do desenvolvimento”, disse a secretária-geral da ONU Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan.
O alerta surge no contexto da crescente exploração destas matériasprimas, que parece estar a repetir os erros do passado, ou seja, a simples exportação em vez da adição de valor nos países africanos para exportar produtos já processados.
“Muitos países em desenvolvimento têm uma enorme riqueza destes minerais, mas não têm as capacidades de processamento necessárias para adicionar valor”, alerta a ONU, salientando que o exemplo da RDCongo deve ser seguido por mais países.
“Ao refinar e processar o cobalto localmente, o país aumentou o preço da unidade deste material de 5,8 dólares por quilo, na extracção, para 16,2 dólares por quilo depois do processamento; com esta subida na cadeia de adição de valor, as exportações da RDCongo de cobalto processado chegaram aos 6,0 mil milhões de dólares em 2022, o que compara com apenas 167 milhões de dólares em exportações de cobalto por processar”, diz a ONU.
“Temos agora a oportunidade de alavancar estas novas matériasprimas para actualizar o regime comercial, promover a diversificação estrutural e virar a maré da dependência de matérias-primas de uma vez por todas”, acrescentou Grynspan.