A saudação calorosa ao presidente sírio Bashar alAssad, pelo príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, é apenas um sinal do declínio da influência de Washington no reino árabe, lê-se na agência Reuters
A cúpula da Liga Árabe, que contou com a presença do presidente sírio Bashar alAssad, pela primeira vez em 12 anos, foi realizada em Jeddah, Arábia Saudita, na Sexta-feira (19).
“O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman assumiu o centro do palco como mestre de cerimónias, na semana passada, quando os Estados árabes readmitiram a Síria na Liga Árabe, sinalizando a Washington quem dá as cartas na região”, comentam os autores do artigo.
O artigo lembra que o príncipe caiu em desgraça após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, em 2018, na embaixada da Arábia Saudita, na Turquia.
Mas as suas posições se fortaleceram no ano passado, quando as economias ocidentais pediram à Arábia Saudita que ajudasse a conter o mercado de petróleo desestabilizado pelo conflito na Ucrânia.
O artigo nota que o príncipe busca reafirmar a Arábia Saudita como potência regional, usando o seu lugar no topo de um gigante da energia num mundo dependente do petróleo, afectado pela crise ucraniana.
“A sua saudação efusiva ao presidente Bashar al-Assad na cimeira, com beijos na face e um abraço caloroso, desafiou a desaprovação dos EUA em relação ao retorno da Síria ao grupo, e foi o ponto culminante de uma reviravolta na sorte do príncipe, estimulada pelas realidades geopolíticas”, diz a Reuters.
Os autores observam que o príncipe herdeiro está céptico em relação às promessas de segurança dos Estados Unidos para a Arábia Saudita.
Portanto, está a criar laços com várias potências mundiais, mesmo com rivais de Washington.
Por exemplo, o restabelecimento das relações diplomáticas entre Riad e o seu inimigo regional, o Irão, este ano, após anos de hostilidade foi mediado pela China.
Outro passo rumo à independência da política exterior saudita foi, segundo os autores, a proposta de bin Salman ao presidente ucraniano Vladimir Zelensky, que discursou na reunião de Jeddah, para ser mediador entre Kiev e Moscovo.
Zelensky, por sua vez, reclamou no seu discurso que alguns líderes árabes não estão a prestar atenção ao conflito na Ucrânia.
O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, disse que Zelensky foi convidado para a cimeira, porque os líderes árabes estavam interessados em resolver a crise ucraniana e manter relações com Moscovo e Kiev.
Esse é um forte sinal para os Estados Unidos de que os sauditas estão a reformular e redesenhar as suas relações sem eles, indica o artigo, citando o presidente do ‘think tank’ Centro de Pesquisas do Golfo, Abdulaziz al-Sager.
Os autores do artigo concluem que, com Washington aparentemente menos envolvido nas questões do Oriente Médio e menos receptivo às ansiedades de Riad, o príncipe herdeiro saudita está a adoptar a sua própria política regional com menos deferência em relação às opiniões do seu aliado mais poderoso.