Foram encontradas 81 aldeias numa extensão de 1800 km no Brasil. A descoberta revela que as comunidades não habitavam apenas junto aos principais rios e que a Amazónia não era uma floresta “intacta”.
A Amazónia foi um local de grande actividade humana e casa de cerca de um milhão de pessoas. Foram agora descobertos 81 locais, desde pequenas aldeias a extensas áreas que eram habitadas por grandes aglomerados, na Bacia Alto Tapajós, e que antes não estavam mapeados. O estudo Pre-Colombian earth- builders settled along the entire southern rim of the Amazon (qualquer coisa como Construtores da terra, pré-colombianos, assentaram arraiais ao longo da margem do Amazonas), publicado na Terça-feira na revista Nature Communications, revela que as comunidades que ali habitaram influenciaram de forma significativa, através da agricultura e das vivências, a floresta da Amazónia.
E que já existiam bem antes da chegada dos europeus. A ideia de que a Amazónia era uma floresta intacta, lar de comunidades nómadas dispersas… nós já sabíamos que não era verdade. O grande debate prende-se com a forma como as populações estavam distribuídas na Amazónia na era pré-colombiana”, disse o investigador do Departamento de Arqueologia da Universidade de Exeter, Jonas Gregorio de Souza. As provas foram descobertas através de imagens de satélite, no estado brasileiro de Mato Grosso, ao longo de 1800 quilómetros, e mostram que aquela extensão foi ocupada por comunidades entre 1250 e 1500. O número de habitantes variava entre as 20 a 30 pessoas, nas aldeias mais pequenas, e entre mil e 2500 nos maiores aglomerados. Os arqueólogos estimam que ali houve entre mil e 1500 aldeias, das quais dois terços não foram ainda descobertas.
O estudo mostra que há cerca de 1300 geóglifos no Sul da Amazónia — figuras de grandes dimensões, que só se conseguem percepcionar a partir do ar ou de um plano muito superior, feitas com rochas ou através do desbaste de vegetação ou material geológico — , mas agora foram encontrados apenas 81. As imagens mostram também que a movimentação do solo para a construção de caminhos, estradas e plataformas terrestres — a chamada terraplanagem –, aconteceu durante períodos de seca, que, no entanto, não comprometiam a fertilidade dos solos para o cultivo. “Em cada uma das regiões do Sul da Amazónia, encontras diferentes expressões locais das tradições arquitetónicas — por isso há diferentes tipos de formas, estruturas e artefactos que se encontram em cada uma dessas regiões”, explicou De Souza.
Esta descoberta, diz o investigador, é muito importante na medida em que reforça a ideia de que os aglomerados humanos não estavam apenas concentrados em áreas férteis junto aos principais rios, como se pensava, mas também noutras dezenas de aldeias que se espalhavam ao longo da floresta tropical. “A ideia de que nas áreas mais distantes dos rios principais as populações talvez fossem menores e tivessem um impacto insignificante no meio ambiente” não é correcta, reforça. A maior parte da Amazónia ainda não foi explorada neste sentido, pelo que a descoberta significa um avanço na colheita de informação sobre as pegadas humanas na maior floresta tropical do planeta. A compreensão do papel humano na modelagem da paisagem na Amazónia “é fundamental para tomar decisões políticas conscientes” no que à sustentabilidade das florestas tropicais diz respeito.