Para os dirigentes da liga que apoia e defende os deficientes, esse pacote constitui um grande reforço financeiro que vai permitir alargar o público-alvo
António Afonso, coordenador nacional de programas de advocacia da Liga de Apoio e Integração dos Deficientes (LARDEF) disse a O PAÍS que a sua instituição recebeu, recentemente, um apoio da União Europeia (EU) que vai reforçar a capacidade financeira da organização. “Na semana passada, estávamos numa actividade de apresentação, numa cerimónia de fecho, porque concorremos num projecto da União Europeia (E.U), justamente para ver se conseguíssemos reforçar as nossas a nossa capacidade financeira, para garantir uma melhor intervenção aos nossos grupos-alvo”, informou António Afonso, que considera esse pacote como um grande reforço financeiro.
Segundo ele, a LARDEF, a par de outras quatro organizações que concorreram para o financiamento e foram aceites, já foram convidadas para procederem a assinatura formal de contrato. No entender de António Afonso, os benefícios vêm complementar as actividades que a liga já vinha prestando, representando mais alguma capacidade financeira e alguma possibilidade de a LARDEF dar mais abrangência ao seu grupo-alvo. “Os projectos da União Europeia são muito complexos, tanto é que a elaboração levou cerca de um ano, mas, felizmente, a nossa organização ficou apurada já na primeira etapa, na elaboração do projecto sínteses, passou pelo projecto complexo, o que fez que o acordo já fosse assinado.
António Afonso disse ele e a sua equipa vão designar de “Mudança” ao apoio que esse dinheiro vai cobrir, porque, de uma maneira geral, o mesmo se destina a ajudar as mulheres e jovens com deficiência, sobretudo os invisuais e os com perturbações auditivas, para que passem a usar os seus direitos, com uma atenção especial aos sexuais e reprodutivos, dificilmente reclamados pela classe. O mesmo servirá, igualmente, para combater a violência no género, não se descurando o apoio económico, por causa dos altos índices de pobreza que assola os indivíduos com essas necessidades especiais.
“Ainda vamos apoiar certos grupos a porem em prática os seus projectos de autosustentabilidade”, realçou o entrevistado, Para tal, a Liga de Apoio e Integração dos Deficientes trabalha com algumas comunidades já organizadas para o efeito, de modo a não se favorecer este ou aquele grupo, em detrimento de outros. “Deixamos que a própria comunidade, de forma participativa, selecione as pessoas a beneficiarem. Eles conhecem-se melhor e sabem quem entre si está com maiores dificuldades para merecer qualquer apoio.
Referindo-se às comunidades que constam das listas da LADERF, António Afonso citou as do bairro Capalanca, no município de Viana, província de Luanda, onde ainda contemplam um grupo urbano heterogêneo, constituído por jovens e velhos, que habitam mais próximos do casco urbano. A comunidade da Sapu Incoal, no Golfe II, é outra que tem merecido o apoio da liga dos deficientes. Em Benguela, a LARDEF apoia, principalmente, as populações dos bairros da Nossa senhora da Graça e do Asseque, respectivamente das zonas E e F. A comunidade da Damba Maria, vulgo 27, também recebe o auxílio dessa organização não-governamental.
Já no Huambo, são beneficiários os do bairro do Santo António e uma comunidade do município do Londuinbale. “São grupos comunitários cuja capacidade de organização e liderança convenceu a liga”, admitiu. De acordo com o responsável pelo programa de advocacia, nessas comunidades podem-se estimar os beneficiários directos na ordem de mais de 200 famílias. Antes desse apoio, a LADERF procurou sempre criar condições, concorrendo em pequenos projectos para sustentar as suas acções.
Muletas e cadeiras-de-rodas difíceis
António Afonso disse que as maiores dificuldades da liga é a aquisição de meios técnicos básicos e prementes ou de compensação, pois não conseguem dar respostas imediatas por falta de meios financeiros pontuais para a importação desses materiais, de mo- do a favorecer um grupo-alvo alargado. ”Muletas ou canadianas e cadeiras-de-rodas ainda constam das maiores dificuldades que a LARDEF tem para disponibilizar aos que nos pedem diariamente”, contou Afonso, tendo revelado que a sua instituição se limita a ajudar a consertar os meios desgastados de alguns deficientes.
Sobre essa dificuldade, o dirigente da LARDEF não deixou de realçar acerca da entrada em cena de alguns empresários que, de vez em quando, e ao nível local, vão dando algum apoio directo, conforme fez questão de mencionar a ajuda, em muletas, presta da pela empresa MCA, que, no fim do ano de 2022, ofereceu e distribuiu cadeiras-de-rodas em Benguela. “Essa acção abrangeu um bom número de membros das comunidades que a liga apoia nessa região do país”, informou. A necessidade de muletas e cadeiras-de-rodas continua a ser a que leva mais deficientes a baterem diariamente as portas da sede da LARDEF, ao ponto de terem um registo de 20 solicitantes, em média semanal.
Por causa disso, António Afonso faz questão de reforçar o apelo a outras instituições estatais ou privadas a seguirem o exemplo da MCA de Benguela. “Quando isso acontece, fica- mos mesmo de mãos atadas, porque não temos onde recorrer, na hora”, deplorou o responsável, tendo recordado que já houve tempo que a Fundação Lwini lhes socorria, prontamente, nessas situações.