Falta de resultados dos testes de ADN impede realização dos funerais das vítimas carbonizadas no acidente do dia 24 de Agosto no Lubango, e familiares pedem esclarecimentos
Os 10 familiares das vítimas mortais do acidente mostram- se agastados com a morosidade na entrega dos resultados dos testes de ADN, para efeito de identificação.
Depois do acidente que vitimou 12 pessoas, sendo 10 no local e duas no Hospital Central do Lubango, os corpos dos que perderam a vida por carbonização foram transportados pelos peritos da medicina legal para os testes de ADN, que poderia ser realizado num período de 15 a 20 dias.
O certo é que, passados quase um mês, as famílias continuam sem resposta dos peritos. Daniel Luciano, tio do condutor da viatura de marca Toyota Hiace, disse que tem sido agonizante viver estes momentos de espera, sobretudo pelo facto de não se ter a certeza da data para o funeral, bem como a falta de condições financeiras para sustentar o óbito.
“Disseram que o exame de ADN só é feito em Luanda, e que este pro- cesso seria feito num prazo de 15 a 20, e só depois poderíamos fazer o funeral. Até agora, nada. Estávamos todos em peso na casa do nosso parente, mas o Governo orientou que nos dispersássemos, porque não haveria condições da parte da família afectada em suportar o óbito durante o período de espera”, disse.
Em função dos constrangimentos que a situação está a causar no seio das famílias afectadas, Daniel Luciano defende que as autoridades governamentais entreguem os corpos dos seus parentes, para que se atenue os gastos com a logística dos óbitos, e devolvam a tranquilidade aos que perderam os seus entes queridos.
“O que todas as famílias que perderam os seus entes pedem é que se façam os funerais o mais rápido possível, para permitir que as pessoas possam trabalhar. Tenho familiares que vieram de vários pontos do país, tenho um outro sobrinho, irmão da vítima, que veio de Luanda, foi dispensado na sua empresa por conta do óbito, mas, como não se fez o funeral, ele não pôde sair”, desabafou.
Por seu lado, Madalena Alfredo da Cruz, que perdeu o seu pai no mesmo acidente, disse que não tem si- do fácil conviver com a morte deste, sobretudo com a incerteza de se realizar o funeral.
“O que precisamos é que alguém com competência venha dizer como está a decorrer o processo e quando é que teremos os resulta- dos, porque este silêncio é que acaba por nos angustiar ainda mais”, replicou.
Viúvo obrigado a trabalhar para não perder emprego mesmo sem ter enterrado a esposa
Agostinho Manuel é sobrinho de Ana Donana, uma das vítimas deste acidente, ocorrido na localidade da Mateta, arredores da cidade do Lubango, que deixa seis filho e viúvo.
À nossa reportagem, Agostinho Manuel contou que o seu tio, esposo da falecida, tinha sido dispensado para realizar o funeral da esposa, dentro dos marcos legais, mas, por conta da demora que se regista, este período ficou vencido, e ele é obrigado a trabalhar para não perder o emprego, já que agora terá de sustentar os seis filhos sozinho.
“Estamos a passar mesmo mal, no princípio as famílias estavam reunidas, tínhamos feitos contribuições, como é tradicional nos óbitos, disseram- nos que os funerais seriam feitos num único dia, quando mais tarde vieram dizer que seriam feitos depois de 15 dias. Estes dias se passaram, mas as famílias que vivem por perto estão sempre lá na casa do óbito, porque não se pode deixar o viúvo sozinho.
Ele sai de casa com lágrimas para ir ao trabalho só para não perder o emprego. O que peço é que acelerem o processo, para pelo menos minimizar a dor”, defende. Entretanto, a nossa equipa de reportagem contactou o Serviço de Investigação Criminal (SIC), na pessoa do seu porta- voz, inspector Segunda Quitumba, e este garantiu se pronunciar nos próximos tempos.
O acidente em questão é fruto de uma colisão entre duas viaturas, sendo uma pesada e outra ligeira, que circulavam nos dois sentidos da via, tendo igualmente resultado na carbonização total da viatura de marca Toyota Hiace, em que seguiam viagem 18 pessoas.
De acordo com algumas testemunhas no local, o excesso de velocidade e o mau estado da via são apontados como presumíveis causas do sinistro.
POR:João Katombela, na Huíla