Três dias depois da morte do sociólogo e professor universitário Laurindo Vieira, o Serviço de Investigação Criminal apresentou, ontem, cinco cidadãos como presumíveis autores, sendo que três destes estarão directamente envolvidos no crime. Entre os detidos está o autor do disparo mortal, um jovem de 23 anos de idade, que diz ter- se atrapalhado e não conseguiu roubar o dinheiro que o professor tinha levantado (um milhão de Kz)
“A nossa intenção era tirar o dinheiro da vítima. Quem deu a pista é um dos elementos do grupo que não foi apanhado, chamado Ivan (que estava dentro do banco, na fila). Fiz o disparo porque me assustei, uma vez que o senhor tirou a sua arma e manipulou em frente de mim”, estas são as palavras do jovem Hélder Ricardo (na foto, com a mão na tala). Hélder disse já ter encontrado a equipa de assalto formada, foi o último a entrar, e que tinham informações de que o professor Laurindo acabava de levantar dinheiro, apesar de não saber quanto exactamente.
A arma pertencia ao “Camaro” ou Ivan, não conhecia a vítima e, só ficou a saber quem era Laurindo Vieira, no dia seguinte, através das redes sociais. Porquê que não levaram o dinheiro? “Não levei o dinheiro porque depois de ter feito o disparo, vi o senhor a sangrar, fiquei assustado, só tirei já o telefone e a arma dele. Fui detido no Zango, depois de receber uma ligação do Raúl, pedindo que nos encontrássemos para falar sobre o caso.
No local, o Raúl já estava com a polícia”, conta ele, que não soube responder as motivações do as- salto, uma vez que não está desempregado, fazia trabalho de ladrilho, para além de ter concluído uma formação nos Bombeiros. Segundo o porta-voz do SIC- Geral, Manuel Halaiwa, todos as direcções operativas se empenharam no trabalho de investigação para identificar os acusados que ontem, Domingo, 14, foram apresentados à imprensa, no comando municipal de Belas, localizado na Centralidade do Kilamba.
“Foram detidos cinco elementos, três dos quais envolvidos directamente na acção criminosa, nomeadamente, Hélder Ricardo, de 23 anos de idade, (autor do disparo), Adriano Júnior, de 33 anos, (que tinha a missão de controlar, na viatura, cidadãos que estives- sem a fazer levantamento de dinheiro), Raúl Gayeta, de 36 anos, (motorista da UGO que usava a viatura para acções criminosas), Gelson Manaças, de 33 anos, (comprou o telefone da vítima e revendeu a sua prima – também detida)”, disse.
A investigação concluiu tratar- se de uma rede criminosa que é composta por cinco elementos, estando três destes já detidos (Hélder, Adriano e Raúl), que já têm passagem pela Polícia, pelo que as investigações continuam no sentido de localizar e deter os outros dois. Manuel Halaiwa disse que a detenção destes três elementos permitiu esclarecer cinco assaltos em que estão envolvidos. Os dois elementos do grupo que estão em fuga respondem pelo nome de “Camaro” ou Ivan (o líder do grupo) e Cabobo (o condutor da motorizada no dia do roubo e morte do professor).
Como estes cidadãos agiam?
Os meliantes introduziam-se nas filas de banco, faziam todas as operações que qualquer cliente pode fazer numa instituição bancária, quando, na verdade, estavam a controlar os movimentos dos outros clientes. Após identificarem as vítimas, as seguiam, e anunciam o assalto. “Lamentavelmente, o professor Laurindo foi vítima de uma dessas acções, quando saía de uma das agências bancárias do Patriota, numa via bastante movimentada. Foi abordado pelos meliantes, que fizeram disparo e subtraíram os seus pertences. Foi possível recuperar o telemóvel da vítima (Samsung A3) e uma pistola do tipo Macarov (da vítima). Apreendemos também uma via- tura Toyota Avanza que era utilizada como ponte de apoio aos criminosos”, sustentou.
Outrossim, sobre um assalto que aconteceu na mesma zona do Patriota, onde um meliante atingiu duas vítimas, no mês de Dezembro, o SIC disse que investigações estão em curso para que, em momento oportuno, estes cidadãos sejam detidos e apresentados para serem responsabilizados criminalmente. Manuel Halaiwa aproveitou os microfones da imprensa para prestar, em nome do órgão que responde, os mais sentidos pêsames à família enlutada e prometer que o SIC tudo fará para de- ter os implicados.
“Era para roubar um milhão de kwanzas”
Ele tem uma tatuagem com a palavra “mata”, mas disse que nunca matou, tendo justificado que aquela tatuagem foi mal feita. É integrante do grupo e já participou em vários assaltos do género. Este é Adriano Júnior, de 33 anos de idade, que à data dos factos recebeu a ligação do jovem “Camaro” ou Ivan, dizendo que iriam sair juntos. Assim que se encontraram, já dentro do carro da uGO, com o Raúl (que ele conhece), “Camaro” disse que naquele dia “dariam um giro”.
Apesar de estar a se sentir mal naquele dia, uma vez que tinha uma das pernas inflamada, aceitou “dar o tal um giro” com “Camaro” e o Raúl. No Patriota, nas imediações do banco BIC, o esquema já estava montado, com os homens da motorizada em posição. “Camaro” entrou no banco, identificou a vítima, veio para dentro do carro, ligou para Hélder, também conhecido por “Pambala”, para que ficasse preparado. “O senhor assim que saiu encostamos o carro num local seguro, e o homem do ataque (o Pambala) seguiu.
Nós, apesar de estarmos distantes, vimos o movimento. Depois os homens da moto voltaram, e o Pambala trouxe o telefone e a arma do senhor. Ficamos a lhe ralhar por ter feito tiro ao senhor e não ter trazido o dinheiro. Ele respondeu que o senhor tinha reagido”, conta. Os meliantes tomaram conhecimento do quanto seria roubado através do talão de levantamento que estava na pasta da vítima. “Era um milhão de kwanzas, mas o Pambala disse que se assustou ao ver o senhor no chão, depois do disparo, e não teve tempo de tirar o dinheiro que estava já no carro. Vendemos só o telefone a 60 mil kz, ao meu primo”, disse.
Um motorista com a missão de transportar o grupo
Raúl Gayeta, o motorista da uGO, trabalha nesta empresa há três meses, mas já participou em cinco assaltos com o grupo a que pertence. O trabalho dele é transportar o líder do grupo, “Camaro” ou Ivan, que vive em Cacuaco, e outros membros do grupo. A ele só é dito que “vão andar um pouco” e, neste passeio, aparecem os outros membros, que normalmente já estão orienta- dos sobre o esquema (assalto). “Antes do assalto, todo mundo fica no carro e depois de o “Camaro” ver uma presa, ele manda parar o carro e deixa o Pambala agir. O único que fica armado é a pessoa que vai à busca do dinheiro”, disse ele, que não soube quantificar o que recebe em cada assalto, alegando que o que traz o dinheiro nunca dá o valor exacto.