Um litro de gasolina na vizinha República da Namíbia custa cerca de 1,5 dólar norte americano, equivalente a mil e 300 kwanzas, aproximadamente, situação que está a atrair automobilistas daquele país para abastecerem nos postos de Ondjiva, na província do Cunene
Os automobilistas angolanos que fazem do trans- porte de pessoas e bens o seu ganha-pão, naquele município da província do Cunene, estão agastados com o facto de cidadãos da vizinha Namíbia passarem a fronteira, a fim de procederem ao abastecimento dos depósitos das suas viaturas. Para estes, a realidade inquietante está, necessariamente, relacionada com procedimento de abastecerem cerca de 300 litros de gasolina por cada viatura, o que alarga o tempo de espera de quem, por exemplo, pretende abastecer pequenos depósitos.
Emanuel Francisco é um condutor oriundo da província da Huíla, que se encontra a trabalhar em Ondjiva. Este jovem assevera que a situação de enchentes tem sido provocada, indiscutivelmen- te, pelos cidadãos namibianos, que demoram largos minutos nas bombas de abastecimento. “O que causa esta enchente são os namibianos que vêm aqui abas- tecer. Um carro de um namibiano pode levar 300 litros, e demora muito tempo na bomba. Esta é uma das principais causas”, queixou-se.
Pernoitar para abastecer
Apesar das dezenas de veículos que se encontravam à espera de abastecimento, o mototaxista Paulo Domingos classificou o cenário como melhor, a julgar pelo facto de que, naquele dia, a entrada de namibianos no país ficou restrita. Pois, no entanto, o interlocutor afirmou que nos dias a que chamou de normal, a fila tem sido vá- rias vezes maior, realidade que leva muitos a perderem o dia ou a noite para abastecer os depósitos dos seus meios de transporte. “Nos dias normais, a fila é enorme. Seja carro ou motorizada, por vezes, chegamos aqui às seis e saímos às 16 horas. Outros vêm às 15 horas e passam a noite aqui”, lamentou. A informação que passou foi apoiada pelos que assistiam a esta reportagem. “Tem sido assim mesmo”, confirmaram em coro, acrescentado que a fila pode medir, por vezes, um ou dois quilómetros.
Enquanto a realidade permanece, os cidadãos nacionais clamam por medidas governamentais que visem pôr fim ao sofrimento por que passam provocada pela presença considerável de namibianos, conforme entendem a sua situação. “Nós pedimos ao nosso Governo que resolva esse problema. Pelo menos, que coloque um posto na fronteira para os estrangeiros, para que não venham mais aqui, porque estão a dificultar o processo do nosso trabalho”, disse o mototaxista Paulo Domingos. Por seu turno, o automobilista namibiano Celestino Nangola, que estava à espera da sua vez para abastecer a viatura, admite que os preços da gasolina, no país, está melhor em relação ao que é praticado na Namíbia.
Nangola conta que no seu país o litro desse produto está a custar 20 dólares namibianos contra 300 kwanzas em Angola, o que, de qualquer forma, os leva a optarem pelo abastecimento em Ondjiva, onde o custo é reduzido para a realidade dos seus compatriotas. “Aqui está melhor do que na Namíbia. Na Namíbia está muito caro, porque lá está a custar 20 dólares namibianos, um litro. Isto está muito caro, enquanto aqui são 300 kwanzas por litro”, frisou.
Prioridade para os nacionais
O supervisor de turno do posto de abastecimento da Sonangol, que fica à margem da estrada que liga Ondjiva à Santa Clara, Leandro Cihafeleni, entende os factores que motivam os cidadãos namibianos a acorrerem à procura de combustíveis no país, mas assegurou que a prioridade tem sido dada aos nacionais. “Nós temos trabalhado para não prejudicar os angolanos. Quando a fila dos namibianos é maior, nós priorizamos os angolanos, pois, talvez, os da Namíbia já terão feito o trabalho deles no seu país”, explicou.
Leandro Cihafeleni calculou que, considerando que 100 rands está a ser cambiado a quatro mil e 500 kwanzas, os namibianos conseguem com este valor cerca de 15 litros de gasolina em Angola, contra cinco na Namíbia. Por isso, disse, mesmo com a subida do preço para 300, no espaço nacional, a realidade ainda lhes facilita. Este responsável pela supervisão esclareceu, também, que a realidade é conhecida desde o ano passado, altura em que o preço do combustível na Namíbia foi alterado.