As constantes falhas na comunicação da única operadora móvel que funciona no município do Rivungo, Unitel, tem levado a que muitos cidadãos desta região da província do Cuando Cubango optem em se comunicar usando terminais de operadoras dos países vizinhos, como a Zâmbia e a Namíbia. Os populares clamam por melhorias neste sector, assim como a instalação de pelo menos uma unidade bancária no município
Adquirir chips das operadoras pertencentes às repúblicas da Namíbia e Zâmbia, no Cuando Cubango, é uma prática que os angolanos residentes naquela província consideram mais económica, uma vez que a qualidade na rede móvel nacional, tanto de voz quanto de dados (internet) deixa a desejar.
Os cidadãos da sede do município do Rivungo são unânimes em dizer que a rede pertencente aos países vizinhos oferece melhor qualidade na comunicação e serviço de internet.
A maior parte da população usa a rede da Zâmbia (Liga-Liga), considerada como sendo a mais antiga em relação à rede da Unitel, para além de custar menos que os serviços prestados pela empresa nacional. Segue-se, na preferência de comunicação, a rede da Namíbia (MTC).
Apenas em terceiro lugar aparece a rede nacional.
Os preços dos cartões de telefone variam entre cinco a 100 kwachas zambiano, o equivalente a 250 e 500 kwanzas.
Para o funcionário público Mateus Malita, o município em questão é tido como o terceiro mais populoso da província, mas enfrenta problemas sociais como qualquer outro, com maior realce na comunicação, vias de acesso que interligam uma região a outra e a falta de agência bancária.
Malita apela os órgãos de direito que melhorem a comunicação e coloquem os serviços nas áreas onde não têm, sobretudo nas comunas de Luyana, Tchipundo e Neriquinha, onde os obstáculos são enormes.
“A vida não é fácil, por conta da falta de rede móvel que não existe. Gostaríamos de ter pelo menos uma das que existem no país, e pelo menos uma agência bancária, uma vez que, se alguém pretender enviar algum dinheiro, deve necessariamente usar a única loja que tem na região como local de levantamento”, contou.
Na loja, o levantamento é feito mediante descontos que os cidadãos acham muito altos, porque em cada 15 mil Kwanzas recebidos, cinco ficam na loja e apenas 10 são do beneficiário.
De Lubango para a Jamba veio António Chiloia, que também descreve como uma das principais dificuldades a falta de rede móvel na região, porque este facto tem criado constrangimento.
Quando precisa falar com um parente, a jovem precisa levantar às primeiras horas da manhã e dirigirse à loja onde utiliza o único aparelho que funciona: a rede Liga-Liga.
Às vezes, encontra uma fila enorme, porque todos dependem deste único telefone.
Enquanto isso, Laurinda Selita, outra munícipe, lamenta o facto de muitas vezes ficar cerca de três meses sem falar com o seu filho, que vive na capital da província, Menongue, tudo porque nem sempre tem dinheiro para comprar saldo da outra rede.
A ginástica para falar usando a rede do país vizinho Com quatro filhos e uma mulher para sustentar, Marcos Cassoma, 32 anos de idade, residente na comuna do Luyana, é um comerciante que muito tem sofrido com as falhas de rede.
Na comuna de Luyana, a rede móvel angolana não existe, praticamente, e usam apenas a rede da Namíbia (MTC) e Zâmbia (Liga Liga), esta última com muita dificuldade, isto porque vezes há que fica sem sinal telefónico durante dois meses ou o proprietário da loja não tem saldo. Utilizar o Liga-Liga não é confortável por conta da fila enorme que se regista no local.
Este facto não deixa à vontade quem pretende usar o telemóvel. “Não temos privacidade, não conseguimos avançar nenhuma informação sigilosa. Grande parte da população tem telemóvel, mas na Jamba serve apenas para jogar e ouvir músicas”, lamentou Marcos Cassoma.
Por outra, quando não se consegue fazer chamada a partir do Liga-Liga da comuna, o interessado deve ir até à margem do rio Cuango e utilizar a rede da Zâmbia. “Nós estamos privados de qualquer tipo de comunicação, incluindo a rádio.
Se alguém estiver a ouvir este meio de comunicação é porque está a utilizar as dos países vizinhos”, sublinhou.
Actualmente, a maior necessidade é a de instalação de rede móvel nacional e estradas, pois por falta destes bens a população tem recorrido aos países vizinhos. “Nós, quando registamos algum problema de saúde, recorremos à Namíbia.
Os outros que estão na margem do rio Cuando vão à Zâmbia. Por isso, agradecemos estes países que nos têm recebido bem quando batemos a porta por questões de saúde”, agradeceu Marcos.
A falta de estrada torna mais cara quando alguém quer se deslocar ao município de Menongue para acudir um problema de saúde.
Da mesma forma que fica caro pagar o transporte até à Namíbia, que custa 20 mil kwanzas e a entrada no hospital 200 rands, mas neste segundo caso fica mais próximo.
Com a depreciação do dinheiro angolano, a situação piorou.
Anteriormente trocavam 30 rands por mil kwanzas, mas agora são 20 rands por mil. “Ao levar o doente para Namíbia deves estar preparado financeiramente.
Por exemplo, para dar entrada no hospital deve-se pagar 200 rands, o equivalente a 10 mil kwanzas.
Se o doente chegar a internar, ao sair paga 600 rands. O doente só não paga mais nada caso houver necessidade de ser transferido para a capital do país”, explicou.