Os habitantes da comuna do Lépi, município do Longonjo, mostram-se preocupados com a formação dos filhos, por conta das condições precárias das escolas e do facto de algumas só leccionarem até à 4ª classe, por um lado. Por outro, a falta de uma ponte para facilitar a travessia do rio é também um clamor dos moradores desta região que muito sofreu com a guerra civil registada no país
É quase inevitável um habitante da comuna do Lépi, município do Longonjo, província do Huambo não associar a sua história à guerra civil que assolou aquela região do Planalto Central. Mas, actualmente, eles colocam à frente a vontade de vencer, preocupando-lhes, por isso, que cheguem os serviços básicos na vila que fica entre a sua e a sede municipal da Caála.
Aos 58 anos de idade, Teresa Anita Botão, moradora da aldeia da Calomemba, no sector do Dumbo, é um exemplo disso, pois, antes de narrar sobre o potencial agrícola da sua zona, recordou as dificuldades por que passaram, no tempo dos conflitos armados, ao ponto de dizer que nenhum mais velho do Lépi, com mais de 30 anos, pode esconder esse lado da história. Lembrou, igualmente, que nesse tempo, embora houvesse circunstâncias em que os populares daí se vissem um pouco livre dos efeitos das almas, a vila presenciava a passagem de outros conterrâneos da província, que vindos de outros municípios, tomavam a referida localidade como zona de passagem ou de fuga, sobretudo, para a província de Benguela.
“Nessas corridas de verdade, há quem decidiu seguir o destino dos forasteiros, por causa da insegurança e do terror que os mesmos diziam ter testemunhado, nas suas origem, mas nós que sobrevivemos, chorámos os nossos que morreram, depois, tocámos a vida para frente. E, ́das guerras ́, herdámos o espírito de luta pela vida”, contou a Anita Botão, expressando-se, ora na língua Umbundu, ora na portuguesa. Virando a página para a cultura dos campos, actividade que ela considerou como a principal ocupação dos nativos do Lepi, Anita Botão gabou-se, dizendo que os habitantes dessa comuna são, maioritariamente, camponeses e, consequentemente, comerciantes. “Mesmo com muitas dificuldades, aqui, produzimos bata- ta, milho, alho, cenoura, cebola e repolho, em grandes quantidades.
O maior problema está entrar os produtos das nossas lavras da Calomemba para o Dumbo e daí para a sede da comuna”, lamentou Anita Botão, tendo acrescentado que isso complica ainda mais a venda dos mesmos, para assegurar o sustento das famílias e a continuidade da produção. Quando dá algum jeito, os produtos do Lépi são levados a vender no mercado da comuna vizinha da Calenga, onde a clientela é maior e os preços mais a favor dos camponeses, segundo as senhoras que já tiveram muitas fases de boa safra. Preocupada com a formação dos filhos, a aldeã apontou as condições precárias da escola da sua localidade como outra preocupação dela e de outros moradores da aldeia da Calomemba.
Estradas não ficam de fora
Neste sentido, à sua amiga e companheira Ana NGueve, inquieta mais o facto de as crianças da aldeia que faz fronteira com outra do município do Ekunha só ter o ensino da 1ª à 4ª classe, o que suscita muitos petizes a abandonarem os estudos muito cedo, por falta de possibilidade de suportar as viagens diárias para a sede comunal do Lépi. Ana NGueve referiu-se que, no tempo chuvoso, o rio Apupa provoca muitos constrangimentos aos moradores, ao ponto de não conseguirem transpô-lo. Por isso, a sua expectativa recaiu ver pontes e estradas reparadas, para facilitar a circulação dos habitantes.
“Só para ter uma noção, na nossa localidade precisamos que se construam três pontes, porque nós temos de atravessar o mesmo rio por três vezes”, realçou Ana NGueve, para demonstrar a urgência dessa necessidade. A rede de comunicação é outro problema apontado por si. Ela disse que dificilmente se consegue usar um telemóvel. Das vezes que conseguiram, precisaram aproximar-se às aldeias vizinhas adistritas a outros municípos do Huambo, como os de Ekunha e Ukuma. “Se nos colocarem uma antena lá, creio que já conseguiremos falar à vontade”, cogitou Ana NGueve, partindo do princípio de que nas localidades que citou possuem esse dispositivo de telecomunicação.
A camponesa mostrou-se, ainda, expectante que surjam apoios para a aquisição de adubos e fertilizantes, de modo a reforçarem o nível de produção que os lavradores do sector do Dumbo e não só. Ana disse que se podemos considerar aceitável a vida no seu sector, mas o que lhes falta são os serviços básicos, como água potável, energia eléctrica, postos de saúde, de registo e mercados, e meios de transportes adaptados à realidade da região, enquanto não houver rede de estrada. Por não não haver pontes, nem pelo menos estradas terraplanadas, nas regiões limitrofes entre os municípios do Longonjo e do Ekunha, faz que as pessoas tenham de pagar mil e 200 kwanzas para sair da sede da comuna para o sector do Dumbo.
Refira-se que, no princípio da tarde de Sábado, 20, O PAíS abordou Teresa Anita Botão e Ana NGueve, na paragem principal dos motoqueiros da sede comunal, onde ela e a companheira tentaram,sem sucesso, negociar com os moto-taxistas o alívio no preço para garantir o regresso à sua aldeia da Calomemba, que as duas alegaram distar 15 ou 20 minutos, em viagem de motorizada. Os motoqueiros estimaram o percurso entre a sede da comuna do Lépi e o sector do Dumbo, onde as duas senhoras pretendiam chegar, em sete ou oito quilómetro, reduzindo a viagem entre 10 e 12 minutos.
Moto-táxi sustenta os jovens
Apesar de serem os protagonistas ou intermediários das vendas dos produtos agro-pecuários do Lépi, os jovens encontram no trabalho de moto-táxi a fonte de sustento diário. Cada corrida de mais de 10 minutos, trilhando caminhos que consideram muito tortuosos, cobram entre 800 e mil e 200 kwanzas. Como ficou expresso por Teresa Anita Botão, os jovens não se esquivam das histórias de guerra, apotam até as suas marcas físicas e psicológicas, porém, sacodem, logo a seguir, com cenas de superação e prosperidade. Luciano Ndandula Gomes é dos nomes mais sonantes entre os jovens da comuna e, sobretudo, entre os moto-taxistas.Ele explicou que o preço que cobram não compensa os gastos, se tiverem em conta a manutenção e o arranjo desses veículos motorizados, cujas peças acessórias os obriga a viajar para a sede da província.
“Nós conversamos diariamente com as mamãs e os papás daqui para os sensibilizar de que esse dinheiro não chega para pagar as avarias que a motorizada pode ter, em cada viagem. Aliás, mui- tas vezes, eles têm de esperar por algum tempo, quando o meio pára durante o percurso”, referiu Yanick, como é carinhosamente tratado entre familiares e amigos das comunidades.
Gastar gasolina para ter gasolina
As distâncias que percorrem para abastecer com combustível (gasolina) os depósitos das motoriza- das é outro problema por si apontado. Questionado se não há alguma alternativa para o adquirir na comuna, Yani- ck ironizou dizendo que um posto de abastecimento pode ser instalado aí, se os responsáveis da administração cumprirem com as promessas que costumam a fazer. “Quando não queremos gastar gasolina, para conseguir gasolina, compra- mos mesmo aqui na paragem, onde aquele mais velho está a vender”, disse Luciano Ndandula, apontando com o dedo em riste para o senhor, que estava sentado ao lado das garrafas de um litro, onde depositava o combustível adquirido na sede do município.
O senhor, que aceitou apenas falar sob anonimato, informou que, de- pendendo da escassez ou não do produto, cobra entre 300 e 400 kwanzas, por cada litro. Para tabalharem, à vontade, os moto-taxistas, têm de encher o depósito da moto, o que lhe permite ficar três ou mais dias a trabalharem sem preocupação de reabastecer o veículo. Ele e seus colegas de ofícios clamam por créditos que lhes facilite adquirir outros meios de transporte com maior capacidade, tendo como preferência as motorizadas de três rodas, de modo a poderem transportar pessoas e cargas. “Porque, aqui, todo mundo produz no campo e vende”, declarou Luciano, justificando que o serviço de táxi é uma ocupação pontual e oportuna.