A proibição de circulação de veículos ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos, que fazem serviço de táxi, em algumas vias de Luanda, leva os motoqueiros a temerem pelo desemprego. Alguns consideram que esta situação venha a prejudicar também aqueles que dependem desses serviços
A cidade de Luanda acordou, desde ontem, com uma dinâmica diferente no que diz respeito à circulação de veículos ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos.
Como que um “balde de água gelada”, aqueles que desempenham a actividade de mototáxi foram surpreendidos, anteontem, com as declarações do Governo Provincial sobre a proibição de circulação em algumas artérias.
São no total 52 locais para motociclos, triciclos, quadriciclos e ciclomotores que o Governo Provincial de Luanda (GPL) elegeu para a implementação da proibição de circulação, cuja medida começou a ser implementada ontem.
O jornal OPAÍS constatou que em algumas artérias a medida está a ser ignorada pelos motoqueiros, enquanto uns dizem não ter conhecimento do assunto.
José Marcos, mototaxista de 27 anos, que trabalha há um ano nos arredores do Serviço Integrado de Atendimento ao Cidadão (SIAC), considera esta acção uma maneira de abolir o serviço de mototáxi, uma vez que na maior parte das vias é proibida a circulação e muitos estão sem saber se vão operar em que ruas ou estradas.
“Vai ser muito complicado, porque nós comemos por causa deste trabalho, o emprego não está fácil, não temos outras vias de sustento, já fazemos esse serviço há muito tempo e não somos os únicos beneficiários.
Damos de comer às nossas famílias e às famílias dos nossos bosses que, por causa das dificuldades, também dependem deste trabalho”, disse.
Uma cadeia de prejuízos Alberto Nunda, outro mototaxista, acabava de deixar um passageiro na portaria do condomínio em que se encontra o jornal OPAÍS, quando foi interpelado pela nossa equipa.
Disse estar insatisfeito com o que ouviu nos noticiários de ontem, sobre a proibição de circulação dos mototaxistas.
É uma medida que considera precipitada, que vai contribuir para o aumento do número de desempregados, e que esteja a ser implementada sem serem criadas as condições normais de tráfego na cidade de Luanda.
Está-se a combater, disse, uma franja que muito contribui para a mobilidade nesta cidade. Para este cidadão, que disse viver do serviço de táxi, o Governo tem errado muito com esta classe, pois tendem a pensar que todos são analfabetos e devem simplesmente obedecer.
A busca por melhores condições de vida, e o facto de não existirem oportunidades de trabalho para todos, na sua opinião, tem contribuído para que se mantenham nesta profissão.
“Nós não somos valorizados, não somos tidos nem achados e, por isso, muitas decisões são tomadas sem sequer consultarem os mototaxistas.
Assim, pensam que só vão prejudicar a nós, mas muitos dos cidadãos que dependem deste serviço serão afectados também”, disse.
A proibição, segundo Alberto, será prejudicial principalmente para os cidadãos que dependem dos seus serviços no Talatona, principalmente os que precisam entrar e sair da Cidade Financeira, por exemplo, no Kamorteiro, no SIAC e demais condomínios, ali onde os táxis não chegam.
“Vi que colocaram autocarros a circular neste município, mas estes não chegam a todos os locais, e muitos trabalhadores serão prejudicados”, acrescentou.
A divisão da classe de motoqueiro
A redução do número de acidentes envolvendo motorizadas está entre os motivos desta proibição, mas para Rodrigues Pimentel é um absurdo, pois acha que deve haver uma separação na classe de motoqueiros, ao invés de serem todos impedidos de circular.
O profissional falou também que muitos irão passar fome e sentem que foram postos de fora pelo Governo, uma vez que o dinheiro que conseguiam com este trabalho apesar de ser pouco já dava para suprir algumas necessidades.
Disse ainda que, por agora, consegue transitar em algumas zonas dos arredores do SIAC, mas que infelizmente as vias que mais circulam para fazer transportar os clientes estão proibidas.
Assim como os prestadores, os beneficiários destes serviços também mostraram-se indignados com a situação, como é o caso de Bruno Silva que disse acreditar que este impedimento venha a prejudicar a transição dos clientes para os locais em que não chegam os táxis.
“Eu ando de moto quase todos os dias e o motoqueiro me deixa dentro do bairro, diferente dos táxis que passam somente pela estrada principal e, às vezes, temos de andar muitos quilómetros até ao destino.
Andar de moto ajuda bastante e não sei como vamos viver assim”, concluiu.
AMOTRANG diz que não foi incluída na comissão
O presidente da Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (AMOTRANG), Bento Rafael, disse que gostaria que o Governo tivesse levado em conta o facto, antes, a existência da associação e contactar a mesma para que influencie para o bom comportamento dos associados.
A medida já está a ser implementada, são os motoqueiros os visados e, para o líder associativo, o Governo deve organizar a comissão criada e, se possível, incluir a AMOTRANG, por ser esta organização quem lida directamente com estes profissionais.
“Antes de se falar desta medida, foi nossa proposta a subdivisão dos motoqueiros em classes, pois nós achamos que nem todos os motoqueiros deviam circular na mesma via.
Todos nós temos algum saber, todos nós temos alguma ideia para o melhoramento das medidas e o seu divido cumprimento, por isso, também queremos ser chamados neste processo”, disse em entrevista à LAC.