Em menos de quinze dias, duas pessoas da referida comunidade morreram em circunstâncias estranhas nos seus apartamentos, com sinais que evidenciam suposta asfixia, sendo a morte do director-geral da organização da sociedade civil ÍRIS e líder do movimento LGBTQI em Angola, Carlos Fernandes, na madrugada do último domingo, o caso mais recente
A morte do director-geral da organização da sociedade civil, ÍRIS, e líder do movimento LGBTQI em Angola, Carlos Fernandes, está a gerar suposto sentimento de perseguição a este grupo de cidadãos que se dizem vulneráveis e desprotegidos face às tentações e preconceitos de que se dizem ser alvos diariamente por conta da sua orientação sexual.
Carlos Fernandes foi encontrado morto, no seu apartamento, em Luanda, na madrugada de domingo para segunda-feira (26), com sinais que indicam, preliminarmente, para uma suposta morte por asfixia, dado, entretanto, ainda não confirmado pela Polícia.
Os familiares, amigos e colegas do malogrado, que já solicitaram a realização de exames, alinham na ideia que a morte de Carlos Fernandes terá sido causada por pessoas estranhas que ‘não toleram’ a comunidade LGBT, dada à ocorrência dos últimos tempos em que pessoas de referida comunidade morreram nas mesmas circunstâncias.
Entretanto, em menos de 15 dias, este é o segundo assassinato de um membro da comunidade LGBT em Angola. O primeiro aconteceu no passado dia 15 de Fevereiro, quando o advogado Admar Gerson Ornelas Bendrau foi igualmente encontrado morto por asfixia no seu apartamento.
Preocupações
João Bezal, membro da comunidade LGBT, relaciona as duas mortes com uma suposta onda de perseguição que, no seu entender, vai ganhando corpo. Para o também activista social, a forma como as duas pessoas morreram deixa clara a existência de um grupo de pessoas que é contra o crescimento da comunidade em Angola, pelo que apela por maior protecção da polícia. “Como é que duas pessoas, que eram importantes para a comunidade, morrem assim de forma estranha? Para nós, é a certeza que andamos a ser perseguidos e que não estamos seguros”, lamentou.
‘Morte estranha’
Já Alycia Varanda, da organização IRIS, considera a morte de Carlos Fernandes uma ocorrência estranha dada a forma como o crime foi cometido. Assim como a maioria dos familiares, colegas e amigos, Alycia Varanda disse ter sido contactada no dia seguinte, quando Carlos Fernandes já estava sem vida, no seu apartamento. “Quando chegamos ao local, a polícia havia interditado o local e não tivemos contacto directo com o corpo. Mas tudo aponta que terá sido asfixiado. Estamos apenas a aguardar o resultado da autópsia. Mas é uma morte estranha e triste”, frisou
Familiares exigem justiça
Já Bruno Fernandes, primo do malogrado, considera a morte de Carlos Fernandes como uma perda para a comunidade e exige que a justiça seja feita para que os autores do crime paguem pelo que fizeram. Bruno Fernandes descreve Carlos Fernandes como o fundador da primeira associação angolana, autorizada pelo Estado, que luta a favor das minorias sexuais. Disse que Carlos sempre dedicou o todo amor em prol do bem-estar da comunidade LGBT e que formou muitos jovens na causa pelos direitos humanos.
“O Carlos Tinha tudo para ir embora de Angola, mas preferiu ajudar a sociedade, acolher pessoas na sua casa e no escritório. Muitos foram ingratos, mas ele nem ligava muito isso”, frisou. Bruno Fernandes disse ainda que a situação já está sob custódia da polícia e que espera que a justiça seja feita. “Nesse momento, só tenho raiva, frustração e impotência. Quero o mal de quem tirou o meu irmão de mim”, desabafou
Sob investigação
Por sua vez, o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, contactado pelo OPAIS, prometeu esclarecer o caso nos próximos dias, assegurando que a ocorrência está sob investigação.