A coordenadora do Programa Nacional de Saúde Comunitária, Maria Futi Tati, disse, ontem, que, durante os trabalhos de campo desenvolvidos nas comunidades do país, registaram alguns casos preocupantes de cegueira em crianças provocada pela mánutrição. Chama a atenção para a necessidade de se intensificarem as acções de sensibilização para se enfrentar muitos mitos que dificultam a nutrição das crianças
A questão da nutrição infantil é uma bandeira que há muito defende a especialista Maria Futi Tati, que agora coordena o Programa Nacional de Saúde Comunitária do Ministério da Saúde (MINSA). Em entrevista exclusiva ao jornal OPAÍS, ontem, após a sua intervenção no workshop sobre o “Roteiro da Saúde Comunitária Digital”, Maria Futi Tati disse existirem casos de crianças que ficaram cegas por causa da má nutrição no nosso país.
Este é um assunto que está em carteira para ser tratado ao nível da saúde comunitária, porque, embora tenha citado que o último caso de criança que ficou cega por causa da má-nutrição foi registado na Huíla, esta não é a primeira vez que se nota isso. Sempre que vai nestas comunidades alista a questão da cegueira nas crianças como uma das preocupações, porque estas crianças não têm tido os nutrientes adequados na sua alimentação. Tanto o prato da criança como o da mãe que amamenta não reúnem os nutrientes necessários para uma boa nutrição. “Esta cegueira resulta da deficiência de vitamina A.
O que resolveria o problema é a manga, é o mamão, é a cenoura, é o morango, só para citar alguns que têm esta vitamina”, sublinha. As orientações têm sido dadas e, recentemente, estiveram a fazer o Inquérito Smart na Huíla e as populações pedem encarecidamente que mais profissionais vão para as comunidades passar estas informações sobre nutrição. Maria Tuti disse que há, nestas comunidades, muitos alimentos nutritivos produzidos localmente que a população não come, por conta dos vários mitos e desinformação que reina. “Eles têm um tipo de feijão que é muito bom e nutritivo, mas não dão às crianças e preferem ficar à espera do frango que vem da Ma- tala, por exemplo.
Têm o abacateiro cheio de abacate, a cair no chão, mas não dão à criança por- que lhe disseram que se ela comer abacate vai defecar muito”, disse.
Seis meses de licença materna vêm tarde
Chamada a comentar o facto de na proposta de Lei Geral do Trabalho constar a extensão para seis meses da Licença de Maternidade, Maria Futi disse que já se deveria fazer isso há muito tempo. Outrossim, é importante que nestes seis meses a mãe cumpra com o aleitamento materno exclusivo. Apesar de a lei abranger a todas as mães, muitas poderão aproveitar mal este tempo de licença, que deve ser para se dedicar ao aleitamento exclusivo do bebé, segundo a entrevistada.
“O bebé deverá mamar exclusivamente o leite materno, nos primeiros seis meses de vida. É preciso que haja controlo, porque muitas mães jovens preferem dar biberão. A OMS recomenda seis meses de aleitamento exclusivo. Tudo aquilo que o recém-nascido precisa de nutriente vai buscar no leite da mãe. A mãe deve ter uma alimentação saudável e beber muita água”, disse. Quando se fala em alimentação saudável, para a entrevistada que também é especialista em nutrição, não precisamos ir longe, pois pode-se comer o funge, a batata ou o arroz, desde que acompanhados com algumas verduras, etc. O prato que se diz saudável deve ter, no mínimo, cinco cores.
Defende que a coloração no prato pode ser buscada com a presença do tomate, da couve, do repolho, da cenoura, do feijão, do lombi, entre outras, acompanha- do com o peixe, carne, catato, galinha, toupeira (rato do mato) ou ovo, por exemplo, que também contém as proteínas. “O que se deve reduzir, e é extremamente recomendável, é o óleo (as gorduras) e o sal, bem como o açúcar. Agora, a mãe deve beber muita água porque o bebé, enquanto amamenta, vai encontrar também este precioso líquido no leite”, recomenda.