Os criadores tradicionais de gado bovino, no município dos Gambos, província da Huíla, continuam preocupados com o crescente número de roubos de que têm sido vítimas naquela parcela do território nacional, pelo que pedem a intervenção dos órgãos competentes. Em quatro meses foram roubadas cerca de 90 cabeças de gado bovino, e, em alguns casos foi com recurso à arma de fogo
O gado, no Sul de Angola, constitui o maior símbolo de poder e riqueza entre os seus povos, e nesta região, a população bovina nos Gambos, está estimada em 185 mil cabeças. Ultimamente, os criadores tradicionais de gado bovino no município dos Gambos, que dista 150 quilómetros da cidade do Lubango, têm-se mostrado agasta- dos com a crescente onda de roubo nos seus rebanhos. De Janeiro deste ano, até à presente data, já foram roubadas cerca de 90 cabeças de gado bovino.
Durante um encontro mantido entre os criadores tradicionais de gado e o Governador Provincial da Huíla, Nuno Bernabé Mahapi Dala, estes informaram que os autores dos roubos e furtos estão bem identificados, porém continuam reincidentes nesta prática. António Manuel Kaita, presidente da Associação dos Cria- dores Tradicionais de Gado nos Gambos, revelou que os autores dos roubos e furtos dos bens dos seus associados aparecem nas zonas de pasto, totalmente armados, e imobilizam os pastores, para que não haja resistência por parte destes.
O responsável associativo questiona, por outro lado, a origem das armas que os meliantes usam no cometimento dos crimes que afectam o seu património. “O que está a nos preocupar são os que roubam os nossos bois. Eles vêm armados, só para roubar os nossos currais. Quando encontram os pastores no pasto, ameaçam-no com a arma, amarram-no numa árvore e depois levam o rebanho todo. Vamos continuar assim até quando?”, questiona. O interlocutor disse que a comunidade tem estado a mobilizar-se para minimizar o índice de roubo e furto de gado bovino, nas localidades que compõem o município dos Gambos, o que tem resultado na detenção de muitos presumíveis autores.
Criadores acusam MP de contribuir pela reincidência dos criminosos
Durante um encontro realiza- do no município dos Gambos, em que participou o segundo Comandante Provincial da Policia Nacional na Huíla, Florenço Ningui, os criadores acusam o Ministério Público (MP) de estar a influenciar na permeância destes actos. O presidente da Associação dos Criadores Tradicionais de Gado nos Gambos sustenta esta acusação com o facto de sempre que é apanhado um cidadão a roubar ou furtar um rebanho, é apresentado às autoridades, porém o mesmo aparece solto dois dias depois.
“Nós estamos preocupados porque sempre que apanhamos um gatuno, levamos à Polícia, esta apresenta o mesmo ao Procurador, lá na Chibia, e dois dias depois você vê o gatuno a passe- ar, como se nada tivesse acontecido. Assim, nós vamos começar a tratar da nossa maneira, porque o gatuno sai num dia, e, no outro, ele volta a roubar bois”, disse. A par disso, o presidente da referida associação, que falava em nome dos seus associados, aponta igualmente a falta de meios de trabalho para a Polícia local, apontando a existência de uma única viatura que serve para a perseguição dos meliantes. “Quando nos apercebemos de que um rebanho foi roubado, a tendência é sempre de seguir as pegadas dos bois. Mas por falta de meio de transporte, muitas vezes não os alcançamos, por isso, que- remos pedir pelo menos um outro carro para a Polícia”, disse.
Polícia defende concertação de ideias entre as instituições que administram a Justiça
O segundo comandante provincial da polícia Nacional na Huíla, Florenço Ningui, reconhece que os casos de roubo e furto de gado bovino tem vindo a aumentar e afecta (quase) todos os municípios da província da Huíla. para que tais casos não ganhem terreno, e se transformem em problema social, que possa desembocar na prática de justiça por mãos próprias, é necessária, segundo a PN, a concertação de ideias entre as diferentes instituições que trabalham na administração da Justiça.
“É preciso saber que a sociedade faz parte do sistema de segurança pública, por isso contamos com a colaboração da população e daí daremos esclarecimento dos vários crimes. O esclarecimento destes crimes de roubo e furto de gado tem dado lugar à detenção dos presumíveis autores, que são apresentados aos órgãos afins”, disse. Florenço Ningui explicou que cabe ao Ministério público dar os passos seguintes. Acredita que a falta de informação tem contribuído para a má interpretação dos actos da polícia.
“É preciso que haja um envolvimento de todos os actores sociais, porque na verdade a polícia tem uma responsabilidade diferente. É preciso ver aquilo que estabelece a lei das medidas cautelares, junto dos órgãos de justiça, porque o cidadão não está esclareci- do por falta de informação”, afirmou. Relativamente à falta de uma viatura para a polícia Nacional no município dos Gambos, o segundo comandante garantiu que já foi adquirida uma para o efeito e deverá ser entregue brevemente.