O cidadão que em vida respondia pelo nome de João Soma, de 24 anos de idade, perdeu a vida na madrugada de ontem, à porta do Hospital Américo Boavida, após lhe ter sido negada assistência médica e medicamentosa. As imagens de videovigilância confirmam a suposta negligência médica, por isso, a direcção do hospital suspendeu o médico e toda a equipa em serviço
João Soma deu entrada no banco de urgência do Hospital Américo Boavida (HAB), por volta das 5h, de ontem, em estado grave, trazido pelos familiares que clamavam por assistência médica.
Esperança Domingos, mãe da vítima, que aparece no vídeo a lamentar a morte do filho, contou ao jornal OPAÍS que João se queixava de dor em todo o corpo, com maior intensidade no peito.
Dentro do hospital, foi-lhe perguntado se não tinha visto o papel afixado lá fora, que dava conta de só receberem os feridos e não os doentes, pelo que respondeu negativamente.
Foi obrigada a sair, juntamente com o paciente, e orientada a seguir para o Hospital Maria Pia. Sem dinheiro, porque os taxistas lhe estavam a pedir cinco mil kwanzas, enquanto Esperança pedia favor, o filho acabou por falecer ali mesmo, no passeio, à porta do hospital.
“Assim que tomaram conhecimento da morte, vieram a correr, mas eu não permiti mais que tocassem no meu filho, pois quando ele precisava, não o fizeram. Eles devem ser responsabilizados”, lamenta.
As imagens do sistema de videovigilância indicaram, segundo Mário Fernandes, director do HAB, que o médico não só não prestou qualquer assistência médico-medicamentosa, como mandou os familiares que o transportavam para fora da unidade hospitalar.
Esta situação contribuiu para que o paciente chegasse a óbito, minutos depois, na área adjacente ao hospital.
“Existem indícios de que o médico tomou essa medida sem informar os restantes profissionais do turno, nem informar o supervisor em serviço”, disse o director, ontem à noite, durante uma conferência de imprensa para esclarecimentos.
Face à gravidade do sucedido, a direcção do hospital deu, de imediato, conta da ocorrência ao Serviço de Investigação Criminal, sob cuja alçada o médico em referência se encontra para o respectivo processo criminal.
Em aditamento, a direcção do HAB decidiu suspender, com efeito imediato, o médico em referência e todos os membros da equipa em serviço, enquanto decorre o inquérito que foi imediatamente instaurado.
“Oficiamos a ProcuradoriaGeral da República sobre a gravidade do caso, disponibilizando todas as informações necessárias e, da mesma forma, a Ordem dos Médicos, para o tratamento da matéria no fórum ético e deontológico”, garantiu.
Facto de o hospital estar em obras não influencia O tempo que o paciente João Soma fez no hospital, até conhecer a morte, não ultrapassou os dois minutos.
Quanto ao facto de o Hospital Américo Boavida estar em obras e, supostamente, por esta razão muitos casos não são atendidos, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Carlos Pinto de Sousa, que esteve na referida conferência de imprensa, disse que a questão que se coloca aqui é o comportamento ético e deontológico do médico, pois ele deve prestar serviço ao paciente.
E sobre este assunto, o director do hospital em causa acrescentou ainda que não há dificuldades de atendimento dos pacientes nesta unidade pelo facto de estar em obras, pois o que tem funcionado é o que tecnicamente chamam de “Triagem de Manchester”.
Por isso, nenhum profissional está autorizado a recusar atendimento ao paciente.
“Mesmo quando estivermos com as paredes todas embaixo, até na porta do hospital, enquanto formos médicos, enfermeiros ou técnicos de saúde, temos de prestar assistência a quem nos contacta”, disse Mário Fernandes.
Para finalizar, a direcção do HAB reitera o compromisso com a ética e deontologia, assim como a humanização dos seus serviços.
Lamentou profundamente o ocorrido que redundou em óbito, nas circunstâncias em que ocorreu, e apresentou à família enlutada os mais profundos sentimentos de pesar.