Um total de 268 pessoas, entre mulheres, crianças e idosos, vindos das localidades de Tchaungo e Maeko, foi internado no Hospital Municipal da Chibia, a 45 quilómetros da cidade do Lubango, capital da província da Huíla, depois de terem consumido farinha de milho ofertada pela empresa Jardins da Yoba
Tudo começou na noite do dia 14 de Fevereiro, quando um grupo de funcionários de uma fazenda recebeu o produto alimentar, na ordem de duas toneladas, que depois de consumido provocou a intoxicação alimentar.
De acordo com o director do Gabinete Provincial da Saúde na Huíla, Paulo Luvangamo, que falava ontem em conferência de imprensa, a intoxicação alimentar afectou 66 crianças menores, de 15 anos de idade, 94 homens e 108 mulheres.
Segundo o responsável da Saúde na Huíla, os pacientes apresentam sintomas como irritação psicomotora (agressividade ou violência da parte do paciente), facto que fez mobilizar 95 técnicos de saúde, dos quais 19 médicos assistencialistas para garantirem o controlo da situação.
“Temos neste momento uma equipa multissectorial composta pelos Gabinetes da Saúde e Agricultura, que estão no local a fazer o estudo detalhado da fuba e todos os elementos à volta deste caso.
Em princípio não temos nenhum caso de morte e não será necessário transferir qualquer paciente, tendo em conta o número de quadros ali destacados”, disse.
Apesar de já ter havido três altas médicas, o director da Saúde na Huíla disse já estarem criadas as condições nos Hospitais Pediátrico e Central, para possíveis casos de transferências.
Soba diz que milho transformado em fuba veio da empresa Jardins da Yoba
O Soba da localidade de Tchaungo, Manuel Kaluangui, disse, em entrevista ao OPAÍS, que a fuba que muitas famílias da sua localidade consumiram foi entregue pela empresa Jardins da Yoba, como pagamento do trabalho prestado por estas numa das fazendas da referida empresa.
Segundo a autoridade tradicional, os primeiros sintomas apresentados pelas pessoas afectadas foram registados no princípio da noite de quarta-feira, o que causou um alvoroço na comunidade que dirige.
“Muitas mulheres e alguns homens foram chamados para prestar serviço de chaça na fazenda da
empresa Jardins da Yoba, que fica no nosso quimbo, e o pagamento, por conta da fome que assola a população, é feito com mantimentos, com principal realce para o milho.
Depois de comerem a fuba deste milho, começaram a passar mal, alguns a desmaiar, outros a delirar, foi assim que fui chamado para transportar alguns à beira da estrada para que fossem levados ao Hospital”, descreveu.
Directora do Hospital diz que estado de saúde é estável A directora geral do Hospital Municipal da Chibia, Josefa Nangombe, que recebeu os primeiros pacientes, disse que todos entraram num estado mais preocupante, mas já se encontram fora de perigo.
De acordo com a responsável, apenas um paciente foi transferido para o Hospital Central do Lubango, por ter chegado ao Hospital Municipal da Chibia com outras comorbilidades.
“Os pacientes apresentavam um quadro de agitação psicomotora, todos eles, só tivemos tês casos que apresentaram gastroenterite, mas conseguimos estabilizá-los.
Eles tinham o sistema nervoso mais afectado, com diagnóstico de intoxicação alimentar”, sustentou.
Empresa Jardins da Yoba garante apoio aos afectados
Um dos representantes da empresa Jardins da Yoba, responsável para a pós-colheita e processamento, Armando Monteiro, confirmou ter procedido a entrega de milho às famílias que trabalham na fazenda desta e que mais tarde foi transformado em fuba pelas famílias beneficiadas.
Declarou que todos os cuidados foram observados durante o processamento da transformação do cereal em farinha para o consumo humano, tendo em conta os produtos usados na sua conservação.
Ainda assim, admite a hipótese de ter havido alguma negligência da parte das famílias que levaram o produto às moagens para a sua transformação, não tendo observado os cuidados.
Entre os cuidados a ter em conta, sobretudo por conta do uso de insecticidas na conservação, Armando Monteiro destaca o período de quarentena que se deve observar na transformação do milho em fuba, independentemente do produto usado.
“Os produtos químicos que nós utilizamos obedecem a uma quarentena, ou seja, em condições normais só poderá o milho ser consumido depois de ultrapassada esta quarentena.
Está tudo a ser investigado, aqui houve uma falha garantidamente, mas não sei de que natureza é. Entretanto, estamos aqui a acompanhar todo o processo de recuperação, até que estas famílias estejam fora de perigo.
Hoje [quinta-feira] servimos sopa de legumes e frango para ajudar na recuperação rápida dos pacientes e vamos continuar até que a última pessoa receba alta”, assegurou.
Por: João Katombela, na Huíla