O bispo da Diocese de Cabinda, Dom Belmiro Chissengueti, manifestou, nesta cidade, uma imensa preocupação com a presença de milhares de cidadãos estrangeiros, sobretudo da República Democrática do Congo (RDC), em situação migratória ilegal que desvirtuam, a olho nu, os princípios de boa convivência, os usos e bons costumes da população de Cabinda
Belmiro Chissengueti manifestou essa preocupação durante os encontros, em separado, que o comandante provincial da Polícia Nacional em Cabinda, comissário Francisco Notícia Baptista, manteve com os líderes religiosos locais das Igrejas Católica e Evangélica de Angola para estabelecer parcerias no combate à criminalidade na província.
No encontro, o prelado católico aproveitou a ocasião para alertar as autoridades da necessidade de se analisar a questão da imigração ilegal na província com bastante profundidade, pois, como disse, “as maiorias depois impõem regras e se os congoleses da RDC se sentirem maioria vão impor regras”. Segundo Dom Belmiro Chissengueti, muitas aldeias por onde passa, no âmbito da missão pastoral, estão invadidas e povoadas por cidadãos não nacionais e nota-se a presença considerável de estrangeiros em situação migratória ilegal a viverem aí normalmente. “É fundamental saber-se quem chega aqui.
Se for estrangeiro paga as taxas devidas e terminado o tempo de estadia, e não tendo regularidade migratória volte para o seu país. Este é um problema muito sério”, advertiu o bispo de Cabinda. A par da imigração ilegal, Belmiro Chissengueti abordou com o comissário Francisco Notícia a questão da desordem no trânsito rodo- viário protagonizada por cidadãos da RDC que exercem a actividade de mototáxi na via pública. “Vemos sistematicamente três pessoas na mesma motorizada sem capacetes e sem documentos. É necessário uma operação policial para meter ordem nisso. É fundamental para não haver esse tipo de sentimento de impunidade”.
Outros assuntos
Em relação ao crime organizado, a província de Cabinda viveu no ano passado um período de terror com o surgimento de dois grupos de marginais altamente perigosos, que protagonizavam desmandos nos bairros periféricos da cidade e na via pública. Os grupos denominados Bazumbis e Bazambacas eram constituídos por cidadãos da RDC numa composição de mais de 200 pessoas que portam facas, catanas, ferros, varapaus para saquearem lojas e protagonizarem distúrbios na via pública em plena luz do dia.
A situação que deixou a população bastante preocupada durante algum tempo foi apresentada ao comandante provincial da Polícia Nacional pelo bispo de Cabinda, tendo Francisco Notícia assegurado que os referidos grupos foram desmantelados e muitos dos seus integrantes repatriados para a RDC. O bispo de Cabinda solicitou ao delegado provincial do MININT para que a Polícia Nacional facilite o acesso dos membros religiosos às cadeias para visita aos presos no quadro do processo de humanização e socialização das pessoas que se encontram detidas. “Haver um processo de humanização nas cadeias é um caminho muito importante para facilitar o processo de socialização dos presos quando regressam ao convívio familiar e à sociedade, porque uma sociedade que não tenha actores activos e livres nunca vai se desenvolver”, destacou.
IEA
O representante provincial da Igreja Evangélica de Angola (IEA), Pedro António Malonda, pediu à delegação do MININT maior empenho da Polícia na imposição da ordem ao comportamento indevi- do dos estrangeiros ilegais, exortando os munícipes a absterem-se de práticas que coloquem em risco a ordem e a tranquilidade públicas.
Polícia
À saída do encontro com os líderes religiosos, o comandante provincial da Polícia Nacional disse que a busca de parceria com as igrejas é favorável para o combate à criminalidade já que ambas instituições têm um objecto comum, o homem, cujos objectivos se cruzam na paz social e na segurança das populações, já que “a Igreja é a reserva moral do povo e o garante da concórdia, reconciliação e da unidade nacional”.
O comissário Francisco Notícia Baptista, que é, igualmente, o de- legado provincial do MININT em Cabinda, enalteceu o papel que a Igreja pode desempenhar no apoio à Polícia Nacional na manutenção da ordem e tranquilidade públicas na base do respeito mútuo e na conjugação de esforços para a reconstrução da segurança social. O oficial comissário reconheceu haver alguns excessos na actuação de alguns elementos da corporação no exercício das suas funções e apela, com efeito, à população a denunciar qualquer comportamento indecoroso dos agentes da ordem interna.
POR: Alberto Coelho, em Cabinda