Os operadores económicos, ligados à venda do produto, têm luz verde para adquirirem o cimento no mercado nacional através da Nova Cimangola. Devido aos custos onerosos que a operação de transportação envolve, e na falta de um porto de águas profundas capaz de suportar as descargas de mercadorias, os agentes abdicaram do mercado nacional e optaram em comprar o cimento em Ponta-Negra, República do Congo Brazzaville, que apresenta menos custos.
A região de Ponta-Negra dispõe de duas fábricas de produção de cimento que abastece o mercado local e os países vizinhos, incluindo a província angolana de Cabinda. Dados apurados por este jornal indicam que as referidas fábricas encontram-se, neste momento, num processo de manutenção, reduzindo, assim, a sua capacidade de produção.
As poucas quantidades produzidas destinam-se, exclusivamente, para satisfazer o mercado interno, deixando, deste modo, a província de Cabinda sem cimento. Em Cabinda, os stocks de cimento esgotaram e os armazéns estão praticamente vazios. A procura tornou-se superior à oferta, o mercado ficou inflacionado e as poucas quantidades que aparecem são vendidas a um preço especulativo de dez mil kwanzas cada saco.
O jornal OPAÍS apurou junto dos vendedores oficiais que o preço estabelecido pelo governo para a venda do saco de cimento em Cabinda está cifrada em 7 mil e 500 kwanzas, mas, devido à ruptura dos stocks e a escassez do produto na província, os preços subiram drasticamente.
“Há especulação e um aproveitamento por parte de alguns oportunistas que se aproveitam da situação para alterar os preços”, acusou o revendedor Pedro Gime.
Preocupação do governo
A situação está a preocupar as autoridades, os revendedores e, sobretudo, a população que não tem poder de compra para enfrentar os actuais preços inflacionados.
Perante a situação, o governo provincial reuniu-se de imediato para analisar o assunto e tomar as medidas pertinentes sobre o caso. Segundo o secretário provincial da Indústria, Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Henrique Bitebe, devido à descontinuidade da província com o resto do país, Cabinda tem dificuldades para buscar cimento em Luanda.
A alternativa de buscá-lo em Ponta-Negra envolve outro problema: dificuldade de obter divisas, porque o cimento aí é comprado em moeda estrangeira, o Franco CFA. “Se o sistema financeiro e a banca comercial não permitirem a transacção dos kwanzas depositados nos bancos, a classe empresarial vai ter dificuldades”, vaticinou Henrique Bitebe.
Disse que recentemente uma delegação do governo provincial de Cabinda esteve em Ponta-Negra para “tentar desbloquear as situações tidas como burocráticas na perspectiva política e administrativa.”
Com a dinâmica inflacionária e não só, de acordo com Henrique Bitebe, a província está a sofrer os efeitos da descontinuidade geográfica com o resto do país, com constrangimentos para adquirir divisas, de modo que os empresários possam ter Francos CFA para desbloquear a situação.
“É fundamental referir que se melhorarmos o sistema logístico, estamos a falar do porto das águas profundas do Caio, em construção, só daí podemos falar na possibilidade de buscar cimento a partir do mercado nacional.
Reacções dos importadores
Gilberto Mbuangui, da empresa Casa Temar, é um dos importadores de cimento em Cabinda. Ele disse que a transportação do cimento pela via Luanda/Soyo/ Cabinda acarreta elevados custos e riscos, por serem usadas embarcações de fabrico artesanal não apropriadas para esse tipo de actividades.
Pedro Gime, outro importador, explicou a este jornal as razões que levam os empresários locais a optarem pelo mercado de Ponta-Negra em detrimento do nacional. “Para uma barcaça transportar 2,5 toneladas de cimento de Luanda para Cabinda, pagamos cerca de 17 milhões de kwanzas”, referiu, acrescentando que, além dos valores pagos à barcaça, há ainda os custos adicionais do camião que transporta o cimento da fábrica ao porto pesqueiro, explicou.
Além disso, continuou, paga-se ainda as taxas portuárias em Luanda e em Cabinda, que rondam os 12 ou 13 milhões de kwanzas, adicionadas ainda aos 16 milhões para o uso da grua. “Somando todos esses valores, o saco de cimento em Cabinda poderia custar de 11 mil a 12 mil kwanzas”, justificou.
No mercado de Ponta-Negra, disse, as despesas são menos dispendiosas, lamentando apenas pelas dificuldades encontradas na obtenção de divisas no mercado paralelo, praticado a um câmbio de 10 mil Francos CFA para 18 mil e 500 Kwanzas.
“Este factor é que faz com que o saco de cimento em Cabinda passe a custar mais caro em relação às demais províncias do país.” Sobre os benefícios do Regime Especial Aduaneiro para a importação de cimento, Pedro Gime disse que o mesmo não se faz sentir devido aos encargos inerentes à transportação.
“São apenas pequenos descontos feitos sobre as taxas portuárias. A única solução é esperar pela conclusão do terminal do Caio, só assim teremos a vida facilitada. Enquanto isso, as dificuldades das populações vão continuar”, concluiu.
POR:Alberto Coelho, em Cabinda