Um grupo organizado de pessoas com deficiência decidiu sair às ruas de Luanda, no sentido de exigir mais respeito aos seus direitos, por entender que estes têm sido, constantemente, violados, sob o olhar inerte das autoridades governamentais. Entre as violações dos seus direitos consta a exclusão nos concursos públicos
Pessoas com deficiência motora, visual, auditiva, e na fala deixaram as suas actividades e uniram sinergias, no Cemitério da Santa Ana, onde se juntaram em grupo de mais de uma dezena para, em conjunto, marcharem até ao Largo das Escolas, em Luanda. A missão destas pessoas foi a de chamar a atenção da sociedade e das autoridades competentes, para a necessidade de se garantir o cumprimento das leis ordinárias constantes no ordenamento jurídico nacional, que concorrem para a sua protecção.
O acesso à habitação, aos transportes, bem como as barreiras arquitectónicas e atitudinais constituem as principais razões de queixas desse nicho da sociedade, que reclama, também, dos atropelos que as instituições públicas e privadas fazem ao instrutivo, que orienta a reserva para si de quatro porcento do total das vagas de emprego disponíveis, nessas organizações. De acordo com Sonho António, um dos organizadores dessa marcha de Sábado, 18, a ideia surgiu numa conversa entre amigos com a mesma deficiência, na qual concluíram que a situação desse grupo não é das melhores, tendo, as- sim, decidido pela marcha.
Este jovem com deficiência mo- tora disse que muitos são técnicos médios e superiores, inclusive, mas debatem-se com o desemprego, uma vez que quando concorrem nos concursos públicos são excluídos. “Visto que nós sofremos discriminação; não temos acesso ao emprego; não temos acesso à habitação; então, houve a ideia de marcharmos, para reivindicar- mos os nossos direitos”, explicou.
“Há problema ao nível de todas as acessibilidades”
Um dos participantes na marcha, que não quis ser identifica- do, referiu que, durante o percurso feito do Cemitério da Santa Ana até ao Largo das Escolas ficou provada a existência de várias barreiras arquitetónicas, no que diz respeito às dificuldades de transitabilidade. No entanto, reforçou, o problema estende-se até aos locais de trabalho, de ensino e às instituições públicas, para onde são obrigados a se deslocar à procura de diversos serviços. “Há problemas de acessibilidade arquitetónica, de outras acessibilidades, porque a acessibilidade é até social. É atitudinal, é metodológica.
Há problema ao nível de todas as acessibilidades”, avançou. Para Paulo António, um dos participantes, a sociedade está distante de atingir os níveis desejáveis de inclusão social, por aqui- lo a que chamou de falta de vontade de quem tem o poder de decidir. “Os nossos direitos têm sido lesados. O objectivo dessa marcha é dar a conhecer ao Governo que as suas organizações não têm feito muito em prol da inclusão social, na educação e no emprego, principalmente”, avançou.
“Os surdos estão tristes”
Sandra é uma pessoa com deficiência auditiva. Traduzida por um intérprete gestual, a jovem avançou que este grupo da sociedade tem passado por inúmeras dificuldades, com particularidade na questão do acesso ao emprego, onde são rejeitadas reiteradas vezes, quando lançam-se na busca por um trabalho. “A maioria das mulheres pro- cura emprego como domésticas, mas são enxotadas; as pessoas pensam que os mudos não sabem nada; as pessoas com deficiência auditivas são iguais às demais; os surdos também têm capacidades. Os surdos estão tristes, porque o Governo não presta atenção às pessoas com deficiência auditiva”, reivindicou. A marcha terminou perto das 13 horas, com esse grupo de jovens a prometerem a realização de outras, até que sejam ouvidos (com as suas preocupações atendidas pelas autoridades).