Populares descreveram os primeiros dez dias depois do anúncio da extinção da Turma do Apito, no distrito urbano do Sambizanga, pela Polícia Nacional de Angola (PNA), na passada Segunda-feira, 4 de Dezembro. Os episódios são de assaltos às pessoas na via pública, cantinas e residências
Faltaram apenas choros entre os residentes daquele distrito. Abatidos e tristes, os rostos das testemunhas da segurança alcançada com a vigência da ora extinta Turma do Apito, naquela parte do município de Luanda, espelham alguma nostalgia.
O sentimento fica mais expresso quando se ouvem desabafos de novas vítimas de criminosos. A leitura da expressão facial não está errada, pois os próprios entrevistados revelam o sentimento que carregam no íntimo: “estamos tristes e com sensação de saudade do trabalho da Turma do Apito”, disseram, justificando com o ressurgimento de histórias de assaltos e de lutas entre gangues, no bairro.
Os moradores acreditam que os feitos do soar do apito eram verdadeiros actos milagrosos. Ao som do instrumento de sopro, marginais foram capturados, bens recuperados e os implicados responsabilizados.
A criminalidade reduziu consideravelmente, no Sambizanga, facto que consideraram um milagre.
Porém, para lá começam a ficar os melhores dias em termos de segurança naquele distrito.
A causa é a extinção da Turma do Apito, segundo o munícipe José Rodrigues, residente há 19 anos, que se diz testemunha de novos assaltos na conhecida zona da Mulembeira.
Os crimes controlados pelos homens do apito estão a ressurgir sem, no entanto, a Polícia mostrarse com capacidade para dar resposta, uma vez que, acrescentou, esta garante a segurança até perto das 21 horas, deixando a população vulnerável ante os marginais que deram inicio às suas práticas delituosas.
“Nós estamos preocupados. Não sabemos o que será do nosso bairro daqui para frente.
Desde a extinção da Turma do Apito, já se está a ouvir de roubos e lutas de jovens, no bairro.
A Turma do Apito já não pode resolver, porque está afastada”, avançou. Deixou a casa às primeiras horas do dia para realizar exercícios físicos.
Mas, ao meio do seu percurso, deparou-se com imagens que já estavam fuscas na sua memória: “encontrei uma cantina arrombada às 5 horas, ali atrás, no Pereira”, começou a descrever os contornos difíceis do fim da Turma do Apito. Seu nome é Roque Alberto.
O cidadão que vive há 47 anos, no Sambizanga, contou que o estabelecimento comercial foi assaltado.
Levaram do espaço litros de óleo alimentar e outras mercadorias que preenchiam as prateleiras. “Assaltaram na normalidade.
A cantina ficou muito tempo e nunca foi assaltada”, lamentou o morador, referindo que existem novos casos de roubos e furtos no Mercado da Pombinha.
Mulheres têmem novos casos de violência doméstica
A criação da Turma do Apito teve implicações na redução significativa de casos de violência doméstica.
O facto deveu-se à intervenção da organização em situações nas quais mulheres eram espancadas pelos maridos, aplicando determinados castigos que não permitiam os cidadãos a tornarem-se reincidentes.
“Quando um homem bate a sua mulher e esta vai dar queixa, têm a tendência de bater o homem. Isso está certo, porque no Sambizanga tem homens que batem violentamente as suas mulheres. A Turma do Apito diminuiu muito a violência doméstica.
Agora, se a Turma do Apito acabar, os homens vão vingar-se de nós”, disse Antonica Fernando Eugénia Miguel vive há 46 anos no Sambizanga.
É das muitas mulheres que não aceitam o fim da Turma do Apito, por considerar importante a actividade que esta realizava, na garantia da segurança das populações.
Para a munícipe, a extinção do grupo está a provocar o aparecimento de marginais e a realização de roubos de roupas, inclusive, no estendal.
“Estão a roubar as banheiras para irem pesar, pratos no quintal. Até a roupa que está no fio, mesmo se não tiver seca, estão a levar.