Com o encerramento do Centro BJC, no final do ano passado, os petizes que eram apoiados pela organização de Bernardo de Carvalho, no Zango I, em Viana, quase todos os dias, guiadas pelas mães, batem a porta dos moradores mais próximos do referido lar, onde esperavam para receber apoio médico, medicamentoso e alimentar
Alguns moradores das redondezas do centro social de apoio à 3ª idade e crianças que padecem de HIV-Sida, no Zango I, município de Viana, em Luanda, vêem-se obrigados a socorrer miúdos padecentes de Sida, ao serem abordados por estes, nas suas residências, para mitigarem a fome. Exemplo disso é Laurinda Luís de 32 anos, moradora da casa ligada ao centro pertencente à organização BJC, nas imediações da conhecida bacia de retenção.
Ela revelou que, juntamente com os vizinhos, não resistem ao ver o estado físico debilitado das crianças e ao psicológico delas, que denota alguma falta de esperança. “Como pais que muitos somos, isso nos impele a dar-lhes alguma coisa para não os vermos desfalecerem à frente das nossas portas, e na rua da casa social que os apoiava”, desabafou Laurinda, para quem os responsáveis do Estado dessa área devem apoiar o centro a ajudar os meninos e as suas famílias.
Há seis anos nessa rua do centro, a também professora de matemática do ensino secundário está até disposta a ajudar as crianças vulneráveis com aulas diárias de reforço, já que as mesmas estudam num colégio pertencente ao líder da organização BJC, a que pertence, igualmente, o referido centro de acolhimento. Atenta aos movimentos frequentes das crianças com as suas mães, Laurinda pensou, inicial- mente, que o lar diminuiu apenas as suas actividades, tendo ficado a saber mais tarde que o mesmo encerrou as suas portas.
“Ainda cheguei a pensar que o centro tinha mudado de lugar”, cogitou a vizinha do estabeleci- mento social do Zango I, depreendendo que, com essa realidade, muita gente havia de ficar sem apoio e que, como consequência, aumentaria o número de pessoas que iria bater as portas dos mora- dores mais próximos, para pedir ajuda. Laurinda Luís detalhou, dizendo, que essas famílias, normalmente, pedem comida crua ou já confeccionada, sendo que a levam para a consumirem longe dos olhos dos doadores com a intenção aparente de levarem alguma coisa para os parentes que deixaram em casa.
Realçou que essa postura em nada os incomoda, porque têm a certeza de que, pelas condições vulneráveis dos rapazes e das suas famílias, o que recolhem deve mesmo tornar-se um bem partilhável. Segundo informou, na semana finda, foi abordada por duas vezes na sua residência, sendo uma na Segunda e outra, na Quarta-feira, 12, dia anterior a esta reportagem.
Moradores querem ajudar sem ser padrinhos
Santos Ribeiro, outro morador da rua do centro de apoio do Zango I, disse que, muitas vezes, os moradores mais próximos do centro comoveram-se com o trabalho dessa instituição e pediram para ajudar. “Mas eles nos disseram que temos de nos inscrever como padrinhos, e apadrinhar exige ter segurança própria de que você vai ter sempre alguma coisa para dar aos rapazes ou aos seus familiares. Mas nós não temos tanta confiança de que va- mos ter algo para doar regular- mente”, disse Santos Ribeiro, tendo realçado que essa medida os impediu de estar na lista dos que apoiam o centro.
Ele assegurou que essa é a posição de quase todos os vizinhos, que, actualmente, se esforçam em doar comida e roupa usada aos referidos carenciados. A ele inquieta ainda o facto de haver, nesse grupo teoricamente vulnerável, crianças de dois ou três anos, já com algumas feridas na boca e nos braços. Importa referir que o elenco directivo do centro de acolhimento e apoio à 3ª idade e crianças reuniu, na semana finda, para estudar estratégias de reabertura. E, pelo que o responsável máximo da BJC informou ao jornal OPAÍS, a efectivação da referida intenção ainda está longe de acontecer, por falta de patrocínios.