Preferem o dinheiro do que a formação e, por isso, desistem nos primeiros dias. Na província de Luanda, por exemplo, os centros de formação estão localizados nos municípios de Cacuaco (sede nacional da AMOTRANG), Kilamba Kiaxi e Viana.
Dados da associação, nestes centros têm o registo de 110 matrículados por mês, entretanto, apenas cerca de 50 % chega aos exames, e os demais abandonam a formação nos primeiros dias.
A medida da AMOTRANG, em parceria com a Polícia Nacional, visa ajudar na redução do número de sinistralidade, envolvendo os seus associados, bem como evitar mortes.
Os desistentes, segundo conversa que este jornal teve com motoqueiros e fiscais ligados à Associação de Motoqueiros e Transportadores de Angola, são maioritariamente vindos de outras províncias, que chegam à capital do país à procura de melhores condições económicas.
Compram motorizadas e, sem habilitações para conduzir, colocam-se às estradas, constituindo perigo e uma das causas do aumento da sinistralidade e de mortes de inocentes que transportam.
Por exemplo, segundo dados do Governo Provincial de Luanda (GPL), a morgue central de Luanda tem mensalmente realizado mais de 110 funerais de mototaxistas cujos cadáveres não são reclamados pelas suas famílias. A maioria das vítimas é natural de outras províncias do país.
A “fuga” às formações de condução defensiva preocupa o presidente e fundador da AMOTRANG, Bento Rafael, que também tem escolas nas províncias de Benguela e Cuando Cubango. A formação até é grátis, com duração de um mês.
Tem uma carga de 1 hora/dia. Para quem chega ao fim, paga apenas três mil kwanzas, para a emissão da carteira profissional que o habilita a conduzir e tem ainda direito a capacete e colete reflector. Mesmo com essas facilidades, muitos preferem não perder o dinheiro que conseguiriam no período de formação.
As razões da fuga
Severino António, na casa dos seus 40 anos de idade, é um dos desistentes, que alegou falta de tempo, de ter família para sustentar e o compromisso que tem com o patrão de apre- sentar o valor combinado, como razões que o levaram a fazer apenas uma semana no centro de formação.
“A moto não é minha, e perder tempo na sala, não estava a dar certo”, disse. Curiosamente, Severino, como muitos outros, da Placa (paragem de motos do bairro Cerâmica), em Cacuaco, conduz motorizada sem nenhum documento que o habita, mas transporta muitas vidas, colocando- as em perigo de morte.
Augusto Lázaro, outro desistente, justificou a “fuga“ pelas mesmas razões invocadas pelo seu colega, ou seja, o que considera perda de tempo e ainda gabou-se “o dinheiro é o mais importante”, porque, segundo ele, “quando a AMOTRANG recebe motos do Governo distribui aos seus filhos e sobrinhos”.
O jovem Diasona Pedro, já teve uma visão diferente, participou numa das sessões formativas e disse estar mais habitado para exercer, tendo ainda referido que desistir duma formação grátis, por dinheiro ou aguentar um mês, para se ter mais conhecimento do Código de Estrada, é uma escolha individual, pelo que lamentou a postura dos seus colegas.
Entretanto, enquanto os homens que transportam vidas recusam-se a aprender o Código de Estrada, o número de sinistralidade cresce. Aliás, diariamente, há registo de novos acidentes de motorizadas, com mortes.
POR:José Zangui