Apesar de constituir uma situação rara, com incidência estimada de cinco a 10 casos para cada 100 mil crianças por ano, de acordo com estudos recentes, os acidentes vasculares celebrais (AVC) são mais frequentes no período neo-natal, até 28 dias de vida, com incidência de um caso para cada 2 mil e 500 nascimentos
O enfermeiro e pastor Garcia, que já socorreu muitos pacientes com AVC, no seu centro médico, localizado no bairro Saber Andar, distrito da Samba, em Luanda, mostrou-se preocupado com o facto de, ultimamente, estarem a surgir muitas crianças, menores de 14 anos, com essa doença, ao ponto de se revelarem grave- mente afectadas física e mental- mente.
“Olhe que essas crianças de que estou a falar, já arrastam o pé e têm o braço quase imobilizado, além de defeitos na boca, idêntinascer com indícios dessa patologia. “Os meninos que têm mais risco de sofrer AVC são as crianças com anemia falciforme, que é uma doença hereditária caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue”, acrescentou o enfermeiro.
Família luta para pôr Constância na escola
Constância, de 14 anos de ida- de, já nasceu com alguns defeitos no andar, falar e noutras expressões psicomotoras, resultante do facto de a mãe (já falecida) ter sido consumidora de bebidas alcoólicas, até ao dia do parto, como fez questão de referir a irmã mais velha que, há três anos, passou a cuidar da constância.
“Logo depois da morte da mãe, tive a preocupação de ficar com a sobrinha, mas a avó paterna não deixava, pois alegava que os filhos do filho tinham de ficar docas às que, normalmente, vemos nos adultos”, disse o técnico de saúde, tendo realçado que a maior parte dos casos que já tratou são herdados das progenitoras. Segundo ele, quando a mãe é alcoólatra e já sofre de Acidente Vascular Cerebral (AVC), há mui- tas probabilidades de a criança lado da família dela”, contou a tia de Constância, que só conseguiu a guarda da adolescente, quando a idosa morreu e os familiares do cunhado abriram mão da sua pretensão.
Desde 2019 que vive com Constância no bairro Quilómetro 30, distrito do Ramiro, município de Belas, a senhora já superou algumas situações da infanto-juvenil, que já não condiziam com a sua faixa etária. “Quando ela veio, ainda ‘mijava-se’ e babava muito, mas fui conversando com ela e orientando, até que deixou de fazer essas coisas.
Mesmo o andar dela está a melhorar com o tempo, por- que antes arrastava mais os pés do que agora”, contou a entrevistada, assegurando que a força interior da sobrinha e a disponibilidade para os trabalhos caseiros animam-na a continuar a buscar cura para a miúda. OPAÍS soube que a família de Constância ainda não a levou a qualquer consulta ou tratamento, mas algum esforço, neste sentido, foi feito pelo pai da menina. Depois disso, a família preferiu ficar com a ideia de que não há processo de reversão da situação.
Questionada se há preocupação de matricular a Constância numa escola, ela informou que a menina já estudava num colégio próximo de casa, mas a experiência não foi muito boa, porque a referida instituição de ensino não estava preparada para atender pessoas com as necessidades da aluna.
“A Constância fez dois anos lá, mas não deve ter ido à escola por mais de seis meses, pois, além das doenças, a recusa própria fez que ela desistisse paulatinamente, até que nós percebemos que tínhamos de nos prepara melhor nesse sentido”, disse a «mãe» da paciente, tendo revelado que, não fosse a carência na inscrição, a família tem o desejo de a inscrever noutro colégio com o programa de inclusão mais apurado.
Enquanto não encontram orientação institucional para equilibrar a condição da sobrinha, a tia e o marido desdobram- se em utilizar os meios mais naturais para ir superando as dificuldades de Constância. “Fazemos esforços para não a limitar em nada que outras crianças fazem, até ela nos der o sinal que não pode. Reforçamos as brincadeiras dela com as outras crianças e ensaiamos os recados e ela faz isso tudo muito bem”, frisou a tia, animada.