Espalhados em vários mercados da cidade de Luanda, inclusive em grandes superfícies comerciais, como a Cidade da China, jovens buscam sustento trabalhando como facilitadores de quem quer fazer compras, indicando as lojas, bancadas específicas para cada produto, consoante o bolso do cliente. Sem uma taxa fixa, muitos conseguem sustentar a sua vida com o que recebem de “gasosa” das mãos daquelas que chamam de “madrinhas”
Desdobrando-se nos variadíssimos armazéns de venda a grosso, os jovens esperam os clientes que buscam alguma orientação sobre as lojas com preços mais baixos, ajudam a carregar as compras até ao meio de transporte, procuram outros clientes em caso de sociedade na compra, fazem a divisão dos alimentos e, muitos ainda, se dedicam ao trabalho de corte dos produtos frescos. Dependendo do sítio em que estiverem a trabalhar, é fácil de os identificar, pois tratam as clientes por “madrinha”.
A equipa do jornal OPAÍS chegou na Cidade da China às 10 horas e cinco minutos. Tendo em conta a dimensão do espaço e a movimentação de pessoas e carros, ficou quase perdida, sobretudo nas principais vias de trânsito. Eis que aparecem os jovens à entrada do centro comercial, que logo questionam a um cliente o que pretendia comprar e se podiam ajudar a localizar a loja própria. António Marcolino é um destes jovens, que acompanha as “madrinhas” nas compras. São chamados de guias e ele intitula-se como porta-voz dos colegas assim que se apercebeu estar diante de jornalistas.
Incialmente, apelou para que as autoridades competentes olhassem também para este trabalho com alguma responsabilidade, principalmente ali na Cidade da China. “Que seja legalizado, que haja alguma dignidade, pois estamos a sustentar famílias. Se assim for não haverá infractores no meio dos guias, como se regista actualmente, onde qual- quer um se infiltra no grupo, sobretudo os que praticam más acções”, disse. Vendo o seu colega a contar a sua história, Rafael aproximou- se da nossa equipa de reportagem e partilhou a sua.
Diz que tem sofrido muitas descriminações por parte dos donos das lojas de nacionalidade chinesa, que não permitem o desenvolvimento do serviço no local e acabam tratados como se gatunos fossem. “Vezes há que nós trancam dentro do quarto de banho e nos obrigam a limpar o chão, se- não somos espancados”, frisou, acrescentando que “as torturas são feitas pelos seguranças angolanos, com ordem dos chineses, sob acusação de roubo”.
POR: Stela Cambamba e Maria Custódia