Cidadãos angolanos que trabalham para empresas chinesas, particularmente as fabris e de construção civil, reclamam de humilhações às quais são submetidos. Péssima alimentação, horas excessivas de trabalho, labor sem descanso aos Sábados, Domingos e feriados, e salários miseráveis figuram entre as queixas
China Highway, empresa de construção civil, recebeu voto de confiança do Executivo angolano para a construção das novas estações de comboios dos Caminhos-de-Ferro de Luanda (CFL). Na Estação dos Comboios da Baia, situada no distrito urbano com o mesmo nome, em Viana-Km 30, estão centenas de jovens que a em- presa foi recrutar no interior do país, com particularidade para as províncias do Centro e Sul. Em Luanda, foram colocados num estaleiro, onde dormem em contraplacados sobre blocos de cimento.
Não existem colchões, e os lençóis contam-se. Por isso, a divisão desse meio de protecção do frio, entre duas ou mais pessoas, é obrigatória. Todos dormem no interior de contentores sem ar condicionado. O calor é infernal. A situação piorada com o facto de estes espaços terem de ser partilhadas por várias pessoas. Mais grave, consideram, atravessa-se uma noite mal dormida em companhia de mosquitos, fome e frio, que não oferece um sono reparador de um dia de atrocidades descritas nas linhas abaixo.
O grupo assemelha-se a uma organização militar. Ao sinal de 5 horas da manhã, devem levantar e abandonar as camas de blocos e contraplacados sem colchão, a fim iniciarem a preparação para cumprirem mais um duro dia de trabalho. Seis horas, pontualmente, inicia o labor que termina apenas às 18. Não existem máquinas que reduzem, significativamente, o esforço humano, de acordo com os trabalhadores imbuídos de queixas e de sentimento de revolta.
As fundações são cavadas com picaretas e grandes quantidades de mosaicos e mármores são carregadas de um lado para o outro sobre a cabeça ou ombro. Não existem botas, luvas, nem uniformes próprios. Os pintores exercem a actividade sem máscaras e lentes protetoras. Enquanto pintam uma placa de betão, estes inclinam a cabeça para trás e olham para o ar, com os olhos vulneráveis, onde estão a colocar o pincel ou rolo embebido em tinta.