É considerada a maior produtora de ovos do país, com uma capacidade instalada de um milhão de ovos por dia, tendo baixado, deliberadamente, para cerca de 300 mil, por causa do que considera estratégia de ‘uma rede que quer matar a marca Kikovo’, rede esta que diz estar por trás da morte de muitas pequenas empresas do sector e que tem contribuído para a alta do preço do ovo. Diz que, politicamente, acredita ser uma boa decisão o possível corte de importação de partes de frango e carne bovina e suína, ‘mas no foro de atender à necessidade da população, não sei’. Nega ser testa de ferro do pai e afirma que as pessoas vão sempre utilizar a sua filiação para tentar descredibilizar o seu trabalho. Se o trabalho que faz vai levá-la para a carreira política ou não, deixa isso no ‘segredo dos deuses’, mas garante que não vai passar por cima de ninguém para atingir determinados patamares
Vamos começar pela Fazenda Pérolas do Kikuxi. Qual é o ponto de situação actual?
Foi um plano estratégico que nós adoptamos. Quando entrámos, as fazendas estavam muito associadas a pessoas. E não traziam aqui uma referência de marcas. Com a entrada do grupo de Disid, adoptamos uma estratégia diferente, que é dar nome aos produtos. E, graças a Deus, saímo-nos bem, pelo menos enquanto Kikovo é uma marca de referência nacional. Há uma identidade muito forte entre o consumidor e o projeto. Acredito que é essa a visão que nós temos sempre que passar, porque os produtos têm que falar por si.
Há outras marcas dentro da Fazenda?
A Fazenda Pérolas do Kixuxi é um pólo, e dentro dela nós temos a marca Kikovo, que tem a ver com a fileira dos ovos, depois temos a Avikus, que é o matador que faz o frango Avikus, que é o frango fresco nacional. Temos também a Nutrimix, que é a fábrica de rações, que faz toda a parte da componente de rações. Temos uma outra marca, que é a classe ovo, mas a classe ovo faz a classificação de ovos, que nós utilizamos como uma empresa-veículo junto da banca de investimento. Não é uma marca para fora.
Em termos de capacidade de produção de carne de galinha, estamos a falar de frango. Qual é a capacidade?
É preciso referenciar que o projeto já data desde 2012, antes de nós. Mas a grande transformação foi em 2012. Portanto, o projecto foi pensado para uma capacidade de 2.500 aves por hora. Nunca chegamos à capacidade plena. Por isso é que falamos de integração, porque quase que a Kikovo suportou todo o serviço da dívida. Se tivesse tido aqui um acompanhamento, não só na componente do grupo de gestão, mas também na componente banca financeira e nos ministérios que tutelam a actividade, nós estaríamos a falar de outra situação hoje. Mas o matador tem uma capacidade de 2.500 aves por hora. Nunca chegou à capacidade de 50%, mas sempre fez frango. A Nutrimix, que por falta de matérias-primas, também nunca chegou à capacidade plena, mas trabalhou mais para dentro do que para fora. Fez alguma coisa de trabalho, mas não dentro da minha perspectiva de gestora.
Na Nutrimix, os produtos são para os outros produtores ou só para a vossa fazenda?
Qualquer uma das nossas unidades tem sempre pelo menos 30% a 40% de cota para apoiar os outros produtores. Pequenos produtores não têm a capacidade de ter fábrica de rações, nem pode, porque tornam o investimento muito caro e depois deixam de ser competitivos. Então, quando nós temos um projecto completamente integrado, acabamos sempre tendo uma quota de protecção aos pequenos produtores. Nós não podemos contar com um único grupo para fazer tudo. Isso não existe, isso não é economia, isso não é ser empresário, isso é monopólio. Eu não faço monopólio.
Já que tocou no aspecto da ração, eu gostaria de perguntar à doutora Elisabete se já teve a resposta da denúncia que fez ao BNA sobre o envolvimento dos bancos comerciais no negócio da ração?
(Risos…) Tive, por acaso o BNA portou-se muito bem. Eu fiz a denúncia, como qualquer agente económico, tem liberdade sempre que se sentir violados os seus direitos e alguém colocar em risco uma estrutura empresarial, pode recorrer naturalmente às instituições. Fizemos esse trabalho, o BNA dentro da área de investigação desse tipo de crimes fez o seu trabalho e surtiu efeito. Pelo menos o banco ficou quietinho.
Por dar mais detalhes, qual foi a resposta?
A resposta do banco, pelo que eu soube, identificou que grande par- te das nossas denúncias era real, que não se pautou pelas melhores práticas e que houve necessida- de e exigiu desse banco que con- formasse os seus processos. E nós próprios sentimos uma mudança de comportamento do banco. Re- lativamente à questão do monopólio e das interpretações em que temos bancos e alguns elementos do banco a agir com a rede de importação das matérias-primas, ainda não conseguimos. Nós vemos o que vemos. Eu digo sempre que uma boa forma de nós denunciarmos essas situações é que o preço do ovo só aumenta quando o milho é importado. Não deveria ser.
Dizem que o custo de produção local é alto. Portanto, quando os pequenos produtores ou as grandes fazendas nacionais têm milho, nós conseguimos ter aqui uma estabilidade do preço do milho. Não é o preço ideal, mas ele fica estável e as Como é que se pode resolver es- se paradoxo, em que a ração importada fica mais cara em relação à nacional?
Isso são políticas de Estado. Não se admitem produtos que são coletados em bolsa, que chegam aqui e fi- cam três vezes ou duas vezes mais caros que o produto nacional. Nem precisa de uma Elisabeth ou de um empresário para se fazer a denúncia. As entidades responsáveis pela investigação, devem fazer um trabalho diário, permanente. E nós, sempre que fomos chamados à razão, a julgar-se que havia aqui alguma especulação, nós comprovamos que a questão do aumento do preço do milho não estava na nossa produção, mas sim na redis- tribuição das matérias-primas.
Na verdade, minha opinião pessoal, e falo com propriedade, na verdade, eles não querem matar a Elisabete. Eles não querem dar a oportunidade à Angola de ter a sua própria produção. Querem tornar-nos reféns. Ou seja, se os produtores nacionais morrerem, de certeza que esses grandes grupos também vão deixar de produzir. O negócio principal nem é fazer ovo. Nós não precisamos de estrangeiro para fazer ovo. Quando um estran- geiro vem fazer ovo em Angola, alguma coisa está errada. O que está a fazer é realmente a exportação dos seus países de origem, de matérias-primas para a África. Por isso é que a África está sempre refém destes grandes monopólios.
A empresária Elisabete dos Santos continua a passar por intermediários para conseguir vender a sua produção de ovos?
Graças a Deus, eu digo que é Deus mesmo. Só assim justifica-se. Porque se nós pegarmos no estudo de viabilidade da Fazenda, quando nós apresentámos o nosso projecto, no estudo de viabilidade que fizemos, o milho estava a 80 e a soja 120. O projecto da Kikovo passou por vários choques, várias interferências, vários boicotes, e sobreviveu. Portanto, há uma rede que quer que a Kikovo pare de existir, mas nós temos a protecção de Deus e do consumidor nacional. Eu sou nacional, portanto, eu vou continuar a lutar.
“Sou considerada a maior produtora de ovos, mas nunca tive um único contrato com o Estado”
Eu faço esta questão porque, em Junho de 2024, a empresária Elisabete disse, num fórum, o seguinte: “Eu tenho que vender a um libanês que vende ao Estado angolano. O libanês que vende ao Estado, vende-me as matérias- primas, eu vendo-lhe o ovo e ele define o preço. Depois a AGT vem tributar a mim”.
Quer ser mais clara em relação a isso?
Quero. Acha normal que, em 12, 15 anos de actividade, eu que comecei com 24 anos, es- te ano faço 45 anos, nunca tive um único contrato com o Estado angolano, mas sou con- siderada a maior produtora de ovos. Como é que o ovo da Elisabete chega a essas estruturas? São libaneses os grandes gurus, dizem os grandes gurus do mercado. Mas também digo que eu nunca fiz nenhum corredor, poderia usar os mesmos corredores… Eu defendo sempre, e é uma ques- tão de verticalidade, que o dia que eu vender ao Estado angolano, tem que existir um concurso público, com condições equiparadas a todo mundo, e que vença o melhor. Como não há concurso, eles continuam a fazer o seu papel e eu vou fazer o meu trabalho, que é mostrar que é possível nós termos empresários sérios, que não precisam andar pelos corredores e prejudicar as outras pessoas.
Nunca fez corredores….
É por isso que eu durmo com a minha tranquilidade e verticalidade. Mas isso é real, não é mentira, podem fazer a investigação ao contrário, ir ao Ministério do Interior, às Forças Armadas, e perguntar se a Elisabete alguma vez teve um contrato, e por que nunca o teve?Mas tenho títulos, também já não é mal, não podia nem títulos ter.
Falou da morte de pequenos produtores, falamos aqui da importação da ração, há um dado, segundo o qual, que em 2017, até esta parte, 20% dos pequenos produtores que estavam em actividade, morreram. Confirma?
Eu não sei se são 20%, mas, na altura, quando entrei para o sector, uma das coisas que eu percebi era a fragilidade da associação dos avicultores. E uma das coisas que eu propus, que também podem perguntar ao presidente da associação, que é o senhor Rui, era a necessidade de uma reforma profunda na associação dos avicultores. Fui taxada como alguém que queria ser presidente da associação. Com todo o respeito, primeiro eu não tenho problema em dizer aquilo que eu quero fazer. E eu sempre disse ao senhor Rui que não. Depois, tivemos um outro momento em que foi a associação associar-se a esses grandes, que davam, se ca- lhar, alguma garantia que eu não conseguia dar.
Estava a falar da organização, estava a falar do controle dos pequenos produtores. Não ficaram com a angolana, mas decidiram ficar com os grupos estrangei- ros que os mataram. Era algo que eu já defendia. Se nós, os produtores nacionais, não criássemos uma base de organização e de protecção, os pequenos produtores iam morrer. E foi o que aconteceu. Têm tentado matar a Fazenda Pérolas do Kikuxi com a marca Kikovo, mas eles estão preocupados, porque eles não sabem como nós sobrevivemos, há uma estratégia associada. Eu sou angolana. Tenho sensibilidade angolana. Investigo. Tenho uma equipa que me confia e vamos fazer o nosso trabalho. Eu digo que nós so- mos um grupo disruptivo. Eu acredito que os próximos avicultores nacionais vão entrar com muito mais força e mais garra. E qualquer dia vai deixar de ser interessante para estrangeiros fazer ovos em Angola quando não são produtores no próprio país.
Então confirma que houve morte de muitos pequenos produtores?
Não tinha como. Não tinham como sobreviver porque estavam dependentes de uma máquina que, na verdade, não quer ver o aumento da produção nacional. Quer matar a produção nacional. Por isso é que eles morreram.
“Sobre o corte da importação de partes de frango, politicamente é uma boa decisão, mas no foro de atender à necessidade da população, não sei”
Qual é o parecer da doutora Elisabete em relação à possível medida do corte da importação de partes de frango, carnes bovina e suína?
Numa óptica de país, é o normal que deva acontecer. Não devemos não digo cortar, mas organizar, porque no Brasil e alguns países fazem alguma importação, pois o plano produtivo vai sempre obrigar, em algum momento, a fazer alguma importação controlada. O que eu acho não sei se foi oportuna essa medida ser adoptada neste exacto momento, porque, dentro do que eu vejo enquanto empresária, não há uma base organizada para garantir ao consumidor nacional que ele terá pelo menos acesso ao pescoço, mas eu prefiro acreditar que há um plano estratégico que eu não conheço associado a isso e que todos nós vamos ser surpreendidos pelo bem ou pelo mal. Portanto, politicamente é uma boa decisão, mas no foro de atender à necessidade da população, não sei. Eu, enquanto produtor, não consigo garantir que terei capacidade para abastecer pelo menos naquela quota que é da minha responsabilidade.
Qual deve ser a capacidade interna da produção de carne de frango?
Eu faço uma matemática muito rápida. Dizem os dados estatísticos que nós somos 38 milhões de ha- bitantes. Nós devíamos colocar o desafio a cada angolano de ter que produzir 5 frangos por dia. É só fazerem as contas. Vamos ver que temos muito trabalho pela frente. Enquanto cada angolano não con- seguir produzir 5 frangos, pelo menos para a sua família, não sei se é com programas bonitos e com títulos bonitos que nós vamos trazer o frango nacional para o prato dos angolanos. É preciso mobilizarmos toda a sociedade. É preciso fazermos uma reforma na nossa forma de pensamento. Eu digo sem- pre: por que as pessoas estão tão atentas à Elisabete? Eu sou apenas uma jovem, que nem sou tão jovem assim. Eu sou uma senhora sonhadora. Mas há muitos que não conseguem sonhar como a Elisabete; e não é porque não têm capacidade. Muitos terão até mais capacidade do que a Elisabete. Não é atractivo. Nós temos que permitir ser atracti- vo produzir frango. Nós temos que demonstrar às futuras gerações que é possível ser rico por intermédio do frango, por intermédio do grão, por intermédio do tomate. As grandes famílias lá fora são produtoras, não são políticas.
A última vez que falamos, criticou a associação dos avicultores, disse que não se revê em muitas medidas que são tomadas. Entretanto, é membro da associação…
Não pago quotas ultimamente (risos). Digo o seguinte: uma associ ção tem que ser de elementos fortes; uma associação só para ter uma as- sociação melhor não existir. Se eu conseguisse me rever nas políticas da associação, não seria a Elisabete a falar. É a associação que deve- ria ter uma reunião estratégica para passar a informação aos jornalistas e os jornalistas fazerem chegar aos ouvintes, o consumidor. Eu não conheço um plano produtivo da associação. A associação só vem para fora dizer que concorda, o Estado tomou uma boa decisão. Frango que é frango nunca vi. Com todo o res- peito, não estou a desmerecer ninguém. Eu gostaria de fazer parte de uma associação que permitisse vir os melhores para Angola e eles perceberem o que Angola precisa, como é que é feito, a experiência local onde é que está? Quais são os nossos problemas que impedem que An- gola chegue a níveis de produção que permitam ao Estado angolano, quando tomar decisões, ter soluções. A solução não virá pela medida a tomar, virá pelo empresário que trabalha e produz e apresenta produto. Não conheço.
Não tem apresentado esses pontos de vista à associação, pese embora já não pague a quota?
(Risos)…Mas posso voltar a pagar, quando me for apresentado um plano estratégico em que eu acredite, eu não entro em nada na minha vida que ponha em causa a minha verticalidade. Eu falo com verticalidade porque eu não tenho acordos com ninguém, eu tenho acordos com a minha consciência, com os meus filhos, com as pessoas que acreditam em mim. Portanto, quando essa entrevista sair, quem conhece vai dizer “é a Elisabete”, quem não conhece vai dizer “ah, acha que sabe”, não é disso que estamos a falar. Estamos a falar que pessoas têm que ser sérias, têm que trazer informação credível porque as pessoas têm expectativas, as famílias angolanas têm expectativas e me parece que quando os jornalistas fazem uma entrevista não querem ouvir uma mentira porque o vosso trabalho também fica comprometido. Então, nós precisamos produzir pessoas sérias e credíveis. Não estou a dizer que a associação não é séria, estou a dizer que a associação nunca apresentou um plano estratégico que fosse atractivo para eu pagar as quotas, para eu saber que daí saem resultados. Portanto, é um encontro de senhores que têm ideias próprias, e eu tenho as minhas e faço o meu caminho.
“O Angola Invest foi um bom programa e eu consegui pagar a minha dívida”
No seio empresarial, é encarada como ‘revú’ ou nem por isso? Acho que não, no seio empresarial não sou chamada para algumas situações porque quando tem mentiras eu digo, e aquilo não funciona muito bem. Então, às vezes não sou convidada, outras vezes, estrategicamente, é bom que a Elisabete esteja para não parecer que estamos assim tão mal com a Elisabete. Mas eu acho que não é uma ques- tão de ser revú, eu sempre fui isso, quem me conhece há bastante tempo sabe que eu sempre disse as minhas opiniões, não sou pessoa de ataques, não chamo ninguém de gatuno, não, não. O que estou a dizer é que, dentro da experiência que eu tenho, não é verdade absoluta, eu apresento resultados. Eu disse que traria um projecto de um milhão de ovos, as pessoas viram acontecer, as pessoas também perceberam que nos últimos anos eu fui dando alertas que alguma coisa não estava bem. Tem nomes as pessoas que não quiseram que isso funcionasse muito bem, mas interessa-nos falar dos boicotes ou soluções. Então adoptámos uma postura de soluções, por isso é que hoje chego e digo eu paguei o Angola Invest, quan- tos conseguem chegar e dizer que pagaram o Angola Investe? então é o efeito multiplicador nós precisamos trazer empresários sérios, o problema de África são as lideranças africanas.
Quanto é que devia e quanto é que pagou de dívida ao Angola Invest?
Muito dinheiro… e correram riscos, o projecto foi financiado em 64 milhões de dólares e dentro do trabalho que eu fiz com a financeira penso que o banco foi buscar mais alguns deve ter chegado a nível de reembolso na ordem de 80 milhões de dólares. É um bom dinheiro, é muito dinheiro. O Angola Invest foi um bom programa, mas não contou com pessoas certas.
A empresária de Elisabete levou quanto tempo para pagar esse empréstimo?
Um projecto desta natureza para funcionar tinha que ter começado com um avô ou meu bisavô. Não estou a dizer nenhuma mentira, o Google conta histórias reais destas. É verdade, para poder ter sustenta- bilidade e não ser um esforço esse projecto, em outras partes do mun- do passava pelo meu avô, passaria pelos meus pais, provavelmente passaria pelo irmão mais velho, não sendo seria, naturalmente. Esse projecto foi financiado em 2012, o primeiro financiamento foi em 2012. De 2012 a 2017 tivemos várias corrosões e nós tínhamos solicitado o alargamento dos prazos de reem- bolso do financiamento para não ter aqui um esforço muito grande e po- tenciar o projecto a um crescimento de sustentabilidade e crescimento, as políticas sobre os prazos de de- sembolso são muito curtos, obrigando quase que as pessoas estejam só a trabalhar para pagar a dívida e não dá tempo de ficarmos ricos mas é aquilo que eu disse são processos que nós temos vindo a melhorar. Se o projecto tivesse sido feito dentro daquilo que nós acreditávamos, eu acreditaria numa situação melhor. Depois, se não me engano tivemos o reajustamento e depois o Angola Invest foi para o aviso 10, se não estou em erro, e com esses vários ajustes e todos esses choques económicos, vamos dizer que pagamos em 10, 12 anos, mas podíamos pagar, se calhar, em 30 ou 40 anos.
Á agora, quantos empregos a Fazenda gerou?
A fazenda, no início, estava com 545 colaboradores, depois em função dos vários momentos houve um período em que nós próprios tivemos que abrir mão de alguns e neste exacto momento estamos a reduzir mais, mas para fazer o lançamento da revitalização. Neste exacto momento estamos com 300 e tal colaboradores.
Quantas empresas a empresária Elisabete detém?
Constituídas, são várias…
Constituídas e a funcionária…
Constituídas são várias, a funcionária eu diria nós actuamos em sectores do agronegócio, temos a Fazenda Pérola do Kikuxi, temos a Solmar, temos a distribuiçãoque teve o incêndio…mas tivemos que nos ajustar porque as coisas não estavam a correr muito bem. A nível de constituição deve ter por aí umas 36 empresas, porque a minha estratégia foi buscar empresas com identidade própria algumas fun- cionaram outras não funcionaram por isso é que eu falo que há empresas constituídas e há outras que são realmente as operacionais.
As empresas operacionais vamos dizer que temos 3 empresas e as outras são veículos uma ponte-cais, temos a questão da falta de assoreamento de Cacuaco, que não põe só em causa a Solmar, põe em causa toda a orla marítima de Cacuaco, temos o problema que as águas do mar há 2 km de distância da fábrica, temos níveis de fezes na água e fizemos esse reparo, temos o problema que a única fábrica é a Solmar e nós tratávamos abastecemos a Solmar com cisternas, precisamos pagar financiamentos e salários sem ganhar dinheiro… temos que começar a ter lógica do negócio, uma coisa é quem pesca e vende, é de consumo imediato, outra coisa é uma fábrica em que quando ligamos os frigoríficos dispara logo o gerador porque a energia também não tem capacidade, tem financiamentos, tem custos de manutenção, tem necessidade de abastecimento, vamos olhar para a fábrica não tem condições para operar é muito linda de se ver, mas não produz…
Não encontrou solução a nível institucional…
Escrevemos para o Ministro da Coordenação Económica, na altura era o doutor Manuel Nunes Júnior, o doutor Sérgio dos Santos, na altura da Economia e Planeamento, conhece o problema, o doutor Ricardo de Abreu conhece o problema, todos os ministros da Agricultura e Pescas têm esta informação, o país tem essa informação eu não paguei porque eu não quero pagar, até adoro pagar, temos de dizer que é a cultura de quem tem financiamentos pagar, eu não paguei por- que não deu-me condições para trabalhar. Neste exacto momento apresentei todas as propostas que apresentei não foram nem respondidas até hoje.
Quantas propostas apresentou?
Várias, eu apresentei uma proposta que seria eu buscar um financiamento junto de um banco comercial, mas o banco comercial queria algumas condições que só o Estado angolano poderia dar, nós pagámos um projeto que também posso apresentar-vos um projeto de dinheiro do meu bolso fizemos com a Afrimetal se quiserem podem entrar em contato com a Afrimetal, desenvolveu um projeto preparatório que era criar quase um mini porto pesqueiro que iria ajudar a Praça Mundial, nos comprometemos a adoptar a Praça Mundial das melhores condições para ser possível até transformar a estrada dos pescadores de Cacuaco, um ponto turístico pesqueiro atrativo. Este projecto iria permitir que as chatas tivessem uma zona de descarga com segurança. As zungueiras pesqueiras para a porta das fábricas até por todas as questões de segurança e limpeza do mar, o próprio projecto tinha um porto de abrigo para os catamarãs, queríamos ter um ponto para a capitania serviço de imigração, um projecto interessante. Não sei se foi validado, mas não foi respondido, que é pior ainda.
Todos os colaboradores que trabalhavam na Solmar foram para casa?
Foram para casa. Todos os nossos projectos, é uma decisão minha pessoal e do grupo, têm pequeno- almoço, almoço e jantar. As pessoas iam para lá tomar banho, comer e dormir. É um projecto que deixou de ser viável para mim. Nós perdemos muito dinheiro sem dizer que aparece uma fábrica que tem necessidades de 60 toneladas por dia a carregar caixas de peixe fresco a temperaturas abaixo de 18, 19 graus negativos, isso é matar as pessoas. Qualquer dia teria funcionários, colaboradores, com problemas respiratórios. Era um risco muito grande. Por isso é que a ponte-cais é necessária, é um instrumento de sucesso da unidade, porque permi- te que o barco atraque a um puxa- dor, que tira o peixe em muito curto tempo.
Quantos colaboradores foram para casa?
200 colaboradores…
Disse no início da conversa que não usa os seus corredores, se quises- se, podia muito bem usá-los. Tendo em conta que o empresário não está apenas preocupado com o lucro, mas também com a geração de empregos, tenho em conta o número de colaboradores que foram para casa, não vê necessidade de usar os seus corredores para trazer de vol- ta esses colaboradores que estão em casa, sabe-se lá o que estão a fazer?
Ligam muito para mim, estão em casa e desempregados. Sabe por que eu não utilizo? Porque eu acho que a Elisabete já deixou de ser mera em- presária. Já é, e graças a Deus, eu já dispenso apresentações. Eu devolvo a pergunta ao contrário. O que é que faz com que o meu país e as pessoas do meu país não apostem na Elisabete? Porque eu faço, eu trabalho. Quem conhece sabe que eu trabalho. Se tiver que ser 24 horas, eu estou lá e dou o meu melhor.
Ou não usa os seus corredores para não ser conotada negativamente por ser filha de quem é?
Eu vou ser sempre filha. Eu não uso os corredores, sabe por quê? As pessoas querem que se estenda ta- petes e não querem estender tapete. As pessoas, isso tem que ser uma troca. Eu faço o corredor de solicitação e do outro lado faz-se o corredor de resolução. Quando eu preciso ligar duas, três, quatro, cinco vezes e a pessoa olha para o telefone e não atende e passaram-se, no meio disso tudo, 12 anos, então já não é uma questão da Elisabete fazer corredores. É uma questão de eu ter consciência de que as pessoas não querem fazer e buscar outro tipo de solução, dizer para aí que eu estou virada. Vai levar algum tempo, mas vou resolvê-los.
“Não sou testa de ferro. Eu fui a um banco, fui financiada e paguei”
Doutora Elisabete, há uma questão que não se quer calar. Há quem diga que é testa de ferro dos negócios do pai. Ou seja, as 36 empresas criadas, na verdade, são do pai on- de a doutora Elisabete é a testa de ferro…
As pessoas podem dizer tudo o que elas quiserem. Está a me ver na condição de testa de ferro? Se fosse testa de ferro do camarada Fernando da Piedade Dias dos Santos, não falava para os jornalistas. Se fosse testa de ferro do camarada Fernando da Piedade, que é meu pai, com muito orgulho, não teria determinadas posições. Então as pessoas vão sempre utilizar a minha filiação para tentar descredibilizar a Elisabete. Eu posso, no mínimo, ser sócia do meu pai, não há nada que me impeça. Agora, também nunca ouviram a Elisabete dizer que o meu pai é a melhor pessoa do mundo. Não, eu não tenho uma relação com qualquer outra pessoa. Não seria a primeira filha de dirigente, ou ex-dirigente a ter negócios.
Não há diferença, eu falo com as pessoas e trabalho. Trabalho, aliás, antes de chegarem aqui, demorei mais um bocadinho, estava a terminar uma reunião. Não, eu não sou testa de ferro do meu pai. Eu recebi um pro- jecto de família. Utilizei os meca- nismos que o mercado oferece. Se tivessem dado 500 milhões, seria uma coisa. Não, as pessoas financiaram. Eu fui a um banco, fui fi- nanciada e paguei. Testa de ferro há muitos testes de ferro aí que nunca apagaram. Já viu o meu nome em alguma lista de não pagamentos? Então não sou testa de ferro. Eu sou a Elisabete Dias dos Santos, agora Pereira Borty, filha do camarada Fernando da Piedade Dias dos Santos. Eu falo com as pessoas com respeito. Eu coloco qualquer engenheiro, político, zoológico, eu falo do traba- lho. Contra isso não podemos, naturalmente, misturar as águas. Os testes de ferro nós também sabemos quem são. E eu, a ser testa de ferro, não era vender ovo.
Quais são os prejuízos ou quanto ficou avaliado o incêndio da sua empresa de Viana?
O incêndio do 13 de Viana, todos os projectos estão assegurados. E o seguro conseguiu, vou buscar a informação porque agora apanhou- me desprevenida, mas na altura nós accionamos o seguro e o seguro fez a cobertura tudo na ordem, penso que 2 milhões de dólares. É para ver que eu pago, porque se não pagasse o seguro, eu não ia.
A senhora já foi citada por um dos jornais da nossa plataforma como sendo uma das 10 mulheres mais poderosas de Angola… Risos…Sério?
Eu não vi…
Mas a pergunta é a seguinte: Tem ambições políticas?
Primeiro, vou responder à questão das 10 mulheres mais podero- sas de Angola. Eu não sei quais são os requisitos que as pessoas utilizam para chegar a esses títulos. Eu não trabalho com títulos. Eu trabalho com uma consciência muito clara. Eu, quando entrei nesta área, diziam que não era possível a Angola nos produzir. Não tínhamos capacidade. E eu levantei a bandeira de que eu ia provar ao meu país e às pessoas que é possível a Angola produzir. Agora, juro por tudo quanto é mais sagrado eu não vi. Não é para aí que eu trabalho. Ainda ontem eu estive com colegas vossos. Nunca vou pagar jornalistas para uma campanha a meu favor, porque eu não sou a melhor pessoa do mundo. Não, eu sou uma pessoa com qualidade e defei- to como outras pessoas quaisquer. Relativamente se eu tenho ambições políticas, eu não deixo de ter uma participação política. Não pela via tradicional, não é, que é a política activa, mas eu faço um trabalho que tem importância no aspecto político. A ambição política… Sinceramente, eu sempre quis fazer ciências políticas, mas aí eu queria imitar o meu pai. Eu tenho comido disso. É sempre muito complicado, Se o meu pai fosse fraco politicamente, e não estou aqui a ser arrogante, eu estou a ser frontal. O senhor é e tem uma carreira política consolidada, e ser a filha do senhor Nandó e querer fazer o caminho do senhor Nandó era um caminho muito complicado, porque seria sempre comparada ao pai. O que eu fiz foi entrar para um sector que me apresentasse. Se isso vai me levar a política ou não, estão nos segredos dos deuses. Uma coi- sa eu posso garantir. Não vou passar por cima de ninguém. Não vou fazer corredores. Não vou mudar a minha forma de estar para atingir determinados patamares. Até por- que há várias formas de agir em conformidade política, financeira e social.
Só uma curiosidade: Quando conversa, sente-se incomodada quando se chama à colação o nome do seu pai?
Eu não. Eu sou apaixonada pelo meu pai. Não há nada, sinceramente, estão à vontade para colocar as perguntas em todas as condições. Ao contrário de muitos filhos, que fogem a essa questão, eu não fujo. Eu sou uma privilegiada. Nem todo angolano tem a possibilidade de carregar um apelido. Agora, eu fiz nos últimos anos, um trabalho de permitir que as pessoas olhassem para mim e dissessem “não a Elisabete é filha do Sr. Nandó, mas ela fala tecnicamente sobre isso. Então, isso é um trabalho de transformação, que eu acho que todos os filhos do político de- veriam fazer. Não venham justificar que não. Fiquem à vontade. Eu não tenho problema com isso. Não gostaria que qualquer pessoa só validasse a minha existência por ser filha do Sr. Nandó. Porque o meu pai tem seis filhos, comigo sete. Se fossem por aí, todos estariam no mesmo posicionamento. Agora, o facto de ser filha do Sr. Nandó, naturalmente, tive acesso a corredores ou instituições financeiras. Dei garantias. Poderia não ter pago também, porque também tem o inverso. Poderia não ter pago. Eu paguei. Portanto, quando esse histórico é vis- to como alguém que recebeu e pagou, já não se pode só perguntar à Elisabete. Às vezes me confundem também com a engenheira Isabel dos Santos, e eu digo sempre só fico chateada porque não confundem a conta bancária.
Qual é o segredo para conseguir sair dessa linha vermelha do Angola Investe? Tendo em conta que há tantos empresários que contribuíram para o mal parado desse projecto?
Eu defendo o Angola Investe. Aliás, a linha de pensamento dos nossos programas é boa.
Onde é que falha?
No conflito de interesses. Não é? As pessoas não conseguem separar o que é ser político do que é ser empresário. Ou seja, as pessoas, às vezes, fazem as coisas por moda. As pessoas não buscam conhecimento. As pessoas não têm responsabilidade sobre os fundos dos bancos para financiamento. E grande parte do que aconteceu no Angola Investe não foi o programa. É que as pessoas acederam aos créditos para não pagar. E quando assim é, temos a situação dos créditos mal parados. Depois teve as questões das bonificações. Mas foi um bom programa.
Como é que vê as políticas económicas do Governo voltadas para o empresariado?
Entre aspas, já disse que, por exemplo, no caso do Solmar, por falta de vontade política aquilo anda praticamente adormecido. As políticas económicas são pensadas pra o país, mas não para as pessoasdo país.
Quer ser mais clara?
Quero. Nós temos ideias de angola- nos que são desenvolvidas, fiscali- zadas e auditadas por estrangeiros. Quando nós começamos a pensar do início, do meio e do fim, numa linha de pensamento da angola- nidade, nós não teremos problema com isso. Nós temos que rapida- mente trabalhar as lideranças africanas. Porque se há dinheiro, se há programas, se há necessidade, por que não acontece? Será que a linha de pensamento que nós estamos a seguir é realmente para potenciar a produção nacional ou potenciar uma imagem negativa dos africanos e trazer-lhes o título de incompetentes natos e que não sabem fazer mais nada e que depois há necessidade de irmos buscar o filho, por exemplo, o neto do colonizador, do meu bisavô, do meu avô, para vir mandar. Nós temos de deixar de ter complexos. Qual é a visão? É para fazer mesmo acontecer. Mas os equipamentos são comprados nos países dos auditores. Vai potenciar o produtor nacional ou as empresas têm que continuar a vender tec- nologia para a África? São as lide- ranças africanas. Podem fazer to- do o tipo de programas. Podem até chamar a NASA, se não for tratada daqui a questão das lideranças africanas. Eu sou uma defensora disso. Eu acredito que os africanos têm muitas competências. Agora é preciso que cada um de nós reconheça a qualidade do outro.
Disse que aos 50 anos quer ser rica ou bilionária?
Desde que tinha lá o zero do bilhão, já será bom (risos). Eu disse que até os 50 anos serei rica. Sem roubar.
Desde que tinha lá o zero do bilhão, já será bom (risos). Eu disse que até os 50 anos serei rica. Sem roubar Como quer ficar conhecida?
Ou já se sente feliz assim? Eu sou uma mulher completamente realizada. Com 45 anos, tenho casa própria. Eu sei comprar casa, até não fui eu que comprei, meu pai é que me ofereceu e nem foi num grande condomínio, foi no Nova Vida. Hoje vivo num dos melhores condomínios do país. Contei natu- ralmente com uma estratégia financeira. Pago os financiamentos. Tive um financiamento do Banco Económico. Paguei. Tenho isso tudo documentado. Depois tive um financiamento do Banco Bic, também, agradeço ao doutor Fernando Teles, alguém que me reconhece e tenho muito carinho. Solicitei ao Banco BIC um financiamento que pago. Portanto, dentro daquilo que me perguntou, como é que eu quero ser conhecida? Elisabete Zenilda Dias dos Santos. A menos provável.
POR:Entrevista de Milton Manaça e José Zangui
Fotos de Lito Cahongulo